A aceitação dos ciclos da vida é uma fonte de força

A aceitação dos ciclos da vida é uma fonte de força

“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de matar e tempo de curar; tempo de demolir e tempo de construir. Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de gemer e tempo de dançar.

Tempo de atirar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de apartar-se. Tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar. Tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz” (Eclesiastes 3, 1-8).

Muitos acreditam que a aceitação faz o indivíduo ficar fraco e que manter a fé num momento ruim significa ingenuidade. Ocorre que a revolta e a desesperança minam as nossas forças enquanto a aceitação e a fé mantêm a nossa saúde espiritual em dia. Além disso, na sabedoria da aceitação, podemos encontrar a verdadeira força para vencer os desafios de modo genuíno e sereno.

A vida nunca segue uma linha reta de bonanças infinitas. As provações e as “curvas” do caminho fazem parte dela e são importantes para o amadurecimento da nossa personalidade. É imaturo querer que a vida seja sempre fácil, porque os desafios existem e são permitidos por Deus para o nosso bem e para o nosso crescimento.

No catolicismo, percebemos que a santidade surge no momento em que alguém supera os obstáculos da vida humana de forma heroica. Esses obstáculos podem ser interiores (tentações, sentimentos incompreensíveis e noites escuras da alma) ou exteriores (provações, sacrifícios, doenças e o sofrimento diante das injustiças terrenas são alguns exemplos).

Contudo, antes de qualquer superação heroica, existe a aceitação da ferida emocional e da dor causada pelos momentos difíceis nesse caminhar. Aceitar o sofrimento não é uma tarefa fácil, mas é totalmente possível quando alguém entende a lógica por trás dos ciclos da vida. Ressalta-se que a aceitação da dor não significa passividade. Ao contrário, é a calma que o coração necessita antes do bom combate.

A fé está muito além da lógica, mas esta pode esclarecer a jornada e trazer o entendimento que faltava ao nosso interior na busca por mais serenidade. Deus deixou sinais na natureza acerca dos contrastes que permearão a vida: flores e espinhos, dia e noite, sol e lua e luz e sombra. A necessidade de diferentes ciclos é observada nas quatro estações (primavera, verão, outono e inverno).

Não aceitar a dualidade da existência entre o sorriso e a lágrima significa estar fora do fluxo do viver. Muito embora os ciclos da natureza sejam belos e necessários, não entendemos que os nossos ciclos da vida também são belos e fundamentais com os seus desafios. Algumas dualidades são mais difíceis de aceitar, tais como: ganhos e perdas, vitórias e fracassos, harmonia e conflito, vitalidade e estagnação e vida e morte.

Os términos de relacionamentos, as mudanças drásticas e os conflitos interpessoais são alguns exemplos de experiências dolorosas que exigem uma nova perspectiva sobre a trajetória.

É difícil superar alguns momentos tristes. Porém, tudo fica mais leve quando o indivíduo foca no aprendizado adquirido em cada fase. Geralmente, a finalização de uma etapa costuma ser a parte mais complexa, porém ela é necessária para o surgimento de novos caminhos.

Aquele que deseja vencer a sua angústia deverá ressignificar cada etapa da sua jornada a partir dos valores cristãos. A fé fortalece a pessoa que busca enfrentar a dor com honradez. Enquanto a revolta atrapalha a superação, a aceitação de cada ciclo é o grande segredo da vitória.

Simbolicamente, ao longo da vida, muitas coisas “morrem” para que outras possam “nascer” na nossa caminhada. Não precisamos ter medo de vivenciar a dor de um momento ruim, visto que uma vida nova sempre emerge após o fim de uma fase difícil. Assim como a primavera desponta após o inverno, um ciclo positivo pode florescer em nossas existências após um longo inverno emocional.

Não podemos perder a esperança no renascimento dos nossos sonhos e na força da vida ao experimentarmos um período assombrado pelas perdas e pela melancolia. Devemos pensar que Deus está sempre conosco e que Ele é capaz de transformar o nosso pranto em dança.

“Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria, para que o meu coração cante louvores a ti e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te darei graças para sempre” (Salmos 30, 11-12).

A dor não é o ponto final da existência, mas uma “ponte” para uma nova alegria. A Bíblia diz que não devemos temer o vale da sombra da morte: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Salmos 23, 4).

O Nosso Senhor já venceu a morte com a luz da Sua ressurreição. Sendo assim, o cristão precisa confiar sempre na vitória da vida sobre a morte e na vitória do bem sobre o mal, mesmo quando está enfrentando uma etapa dolorosa de perdas e frustrações.

As dificuldades de hoje estão “irrigando” o solo para que novos frutos sejam colhidos e apreciados no momento oportuno. Os momentos ruins “lapidam” o nosso caráter e preparam as nossas virtudes para que as futuras graças de Deus sejam mais valorizadas.

Antes da abundância da vida nova, muitas coisas devem “morrer” dentro de nós (pecados, vícios, traumas, velhos ciclos, comportamentos negativos, sentimentos ruins e pensamentos equivocados), assim como a semente precisa morrer para gerar fruto.

Existe uma passagem bíblica que ilustra o sacrifício da transformação para o aproveitamento da boa colheita: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (João 12,24).

Sabedoria para perceber as circunstâncias

Se você estiver passando por um momento ruim, em vez de cair na tentação da revolta, pergunte a si mesmo: “O que precisa mudar dentro de mim para que uma nova vida possa surgir?”

Os ensinamentos do neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, fundador da Logoterapia (abordagem psicoterapêutica que destaca a busca pelo sentido da vida) foram resumidos em uma frase inspiradora: “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.”

Cada momento da vida é um sinal que aponta o caminho do crescimento pessoal. Por mais difícil que seja vivenciar uma etapa, cada ser humano pode descobrir uma incrível capacidade de adaptação à adversidade dentro de si.

Devemos ter sabedoria para perceber as circunstâncias que podem ser alteradas com as nossas atitudes e as que são imutáveis. Quando não é possível mudar um acontecimento doloroso, a solução estará no fortalecimento do interior do indivíduo. Além de ser uma manifestação de sabedoria, a aceitação serena de um desafio inevitável é uma fonte de força.

Diante de um momento difícil, meditar sobre as frases principais da Oração da Serenidade (atribuída ao teólogo Reinhold Niebuhr) desperta a consciência: “Deus, conceda-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as que posso e sabedoria para distinguir umas das outras.”

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a serenidade é uma manifestação de força no meio da adversidade e não de passividade. Nossa Senhora é o maior exemplo de como a serenidade é uma expressão de sabedoria e fé capaz de manter a fortaleza no momento da dor.

No livro “Maria, mais forte que o mal”, o Padre Reginaldo Manzotti descreve a força que havia na serenidade de Maria (página 47):

“Foi inimaginável a dor que Maria enfrentou ao ver seu Filho, inocente, morrer pregado na Cruz. Porém, mais fortes foram sua fé e a aceitação serena do plano de Deus.”

Em vez de suscitar o lamento e a reclamação, o cristão é convidado a encontrar um sentido por trás do sofrimento humano. O momento ruim é permitido por Deus para que as virtudes humanas sejam elevadas. De acordo com Santo Agostinho, “Deus não permitiria o mal se não pudesse tirar desse mal um bem infinitamente maior.”

No livro “As muralhas vão cair”, Padre Reginaldo Manzotti afirma (página 127):

“A sabedoria da Cruz torna-se resposta fundamental ao desafio humano de compreender a dor e o sofrimento. Quando o sofrimento humano encontra a Cruz de Cristo, o homem deixa de ser um fim em si mesmo, e surge a esperança.”

Precisamos aceitar os desafios da existência humana se queremos ganhar uma nova vida em Cristo. A dor e o sofrimento, em vez de inimigos da caminhada, podem impulsionar a construção de uma vida melhor.

Enquanto a revolta enfraquece o indivíduo, a compreensão do sofrimento amadurece a personalidade e eleva a santidade. Aceitar cada etapa da jornada é saber extrair um aprendizado de cada momento. Portanto, a aceitação serena dos contratempos representa uma fonte de força e sabedoria na trajetória de cada pessoa.

 

Dicas de livros:

  • “Maria mais forte que o mal” (Padre Reginaldo Manzotti)
  • “As muralhas vão cair” (Padre Reginaldo Manzotti)

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