Nas últimas duas semanas, o Brasil tem discutido como nunca a exposição e a sexualização de crianças nas redes. O vídeo do youtuber Felca acendeu o alerta, mobilizou famílias e acelerou trâmites de decisões no poder público. O tema continua urgente e não pode ser visto como “tendência momentânea”. É vida real – e de crianças e adolescentes. Até o momento, tem mobilizado investigações, prisões, propostas de lei e posicionamentos oficiais.
Para contribuir com o entendimento e acompanhamento sobre o tema, explicamos o que está em pauta, o que já aconteceu, o que o Congresso discute e como a Igreja do Brasil, por meio da Pastoral da Criança, orienta para pais e educadores.
“Adultização” é quando crianças e adolescentes são expostos a comportamentos e papéis de adultos (ou que podem ser escolhidos por eles), inclusive com apelos relacionados à aparência. A Pastoral da Criança explica: é acelerar o desenvolvimento das crianças para que se tornem logo adultas, o que rouba a infância e o tempo de brincar e conviver.
No vídeo que serviu como denúncia, Felca mostrou um experimento que deixou muitas famílias assustadas, mas que está mais próximo do que muitas pessoas imaginavam. Ele criou um perfil do zero e observou como as plataformas recomendam conteúdos, o que chega a material inadequado com envolvimento de jovens ainda menores de idade. Ele chamou de “Algoritmo P”, que é a lógica de recomendação que, a depender das interações, empurra conteúdos problemáticos. A imprensa destrinchou o termo e os riscos desse efeito de recomendação.
Youtuber Felca fez a denúncia no início de agosto./Foto: reprodução @felca0
Há dois movimentos paralelos: uma resposta “rápida”, com projetos focados na exposição indevida e exploração nas redes, e o avanço do Projeto de Lei 2628/2022, que cria regras gerais para proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais (controle parental, deveres das plataformas, respostas mais ágeis a conteúdo impróprio etc.). A tramitação do PL voltou a ganhar tração neste mês.
A Pastoral publica conteúdos educativos há anos sobre os riscos da adultização e, agora, destaca a urgência de medidas de proteção no ambiente digital. Esta semana, a Pastoral repercutiu e endossou o apelo de entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria pela aprovação do PL 2628/2022. Além disso, oferece orientações práticas a pais e cuidadores: não antecipar fases, não transformar crianças em “produtos” nas redes, limitar exposição, respeitar o tempo do brincar e do desenvolvimento.
A médica pediatra Ana Lea Clementino, da equipe técnica da Pastoral, reforça o posicionamento da organização sobre a urgência de uma legislação sobre o tema.
“É preciso uma legislação contundente que proteja nossas crianças dos crimes virtuais e responsabilize plataformas para que a internet se torne um ambiente mais seguro. Além disso, é preciso que os pais entendam que alguns consumos precoces e inadequados na infância, além das redes sociais, como, por exemplo, maquiagens e moda adulta, interferem de modo negativo no desenvolvimento sexual e emocional das crianças, expondo-as a maior risco de abusos. As consequências, obviamente, se mostrarão na idade adulta, com o aumento de transtornos mentais, comportamentais e de relacionamentos”.
Como comunidade de fé, nossa tarefa é dupla: proteger os pequenos e formar consciências. A infância como um bem sagrado. A Pastoral da Criança insiste em respeito aos ritmos, cuidado com a exposição e educação para o uso responsável da tecnologia.
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