A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central, atacando a mielina, camada que reveste e protege os nervos. Essa agressão provoca inflamações e pode gerar sintomas como fadiga, fraqueza muscular, dificuldade de coordenação e problemas de visão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que mais de 2,8 milhões de pessoas no mundo vivem com a doença. No Brasil, são cerca de 40 mil diagnosticados, de acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM).
Para entender melhor sobre causas, sintomas, diagnóstico e tratamento, o IDe+ entrevistou a Dra. Patrícia Coral, neurologista especialista em doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla. Graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com residência em Neurologia e Neurofisiologia Clínica pelo Hospital de Clínicas da UFPR, a médica também possui especialização em Medicina do Sono (Instituto do Sono – AFIP) e curso em Neuroimunologia pela Universidade de Campinas (Unicamp).
Na entrevista, ela explica que a esclerose múltipla acomete principalmente jovens entre 20 e 40 anos, pode ser confundida com outras doenças neurológicas e que, embora ainda não haja cura, os tratamentos atuais permitem qualidade de vida praticamente normal.
Neurologista Patrícia Coral./Foto: arquivo pessoal
IDe+ | O que é exatamente a esclerose múltipla?
A esclerose múltipla é uma doença neurológica, inflamatória e autoimune. Isso significa que o próprio organismo, o nosso sistema imunológico produz anticorpos e células que agridem as nossas células nervosas. Ela atinge a bainha de mielina, presente em praticamente todos as nossas células nervosas, e por isso pode gerar sintomas variados.
O paciente pode ter alteração da visão (quando afeta o nervo óptico), fraqueza nas pernas e problemas no controle dos esfíncteres (quando atinge a medula), ou apenas formigamentos em braços e pernas (quando há lesões pequenas). Esses sintomas podem ser confundidos com acidente vascular cerebral ou crise de enxaqueca, por exemplo. O que chama a atenção é que a doença geralmente afeta jovens de 20 a 40 anos.
IDe+ | O que causa a doença e quais os primeiros sinais?
Ela é considerada uma doença multifatorial. Acomete um pouco mais mulheres do que homens, mas ambos os sexos podem ter a doença. Pode envolver predisposição genética, fatores ambientais (como infecção por vírus) e deficiência de vitamina D. Não há uma única causa definida. Também não há um sintoma exclusivo. Mas devemos suspeitar diante de alterações visuais súbitas, perda de força ou formigamento em jovens. Sempre que houver sintomas neurológicos em pessoas entre 20 e 40 anos, é importante investigar. Então, por exemplo, o paciente pode pensar que está tendo um acidente vascular cerebral ou pode pensar que está tendo uma crise de enxaqueca e, na verdade, pode ser sintoma da esclerose múltipla. O ideal é procurar um neurologista, que poderá conduzir a investigação.
IDe+ | Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito por alguns exames e o principal é a ressonância magnética, que pode ser realizada tanto do crânio como de toda a medula para avaliar esse comprometimento de inflamação, desmielinização. Outro exame que também comumente é realizado é o exame da retirada do líquor, que é o líquido que banha o cérebro e a medula, para pesquisar o aumento de determinadas proteínas que podem nos ajudar a fechar esse diagnóstico.
IDe+ | Como é o tratamento da esclerose múltipla?
A esclerose múltipla é uma doença que tem tratamento. Hoje nós já temos várias drogas disponíveis para esse tratamento, que em geral tentam fazer uma imunomodulação, ou seja, controlar o nosso sistema imunológico para que ele pare de agredir as nossas células. Antigamente, nós tínhamos somente remédios injetáveis para esse tratamento, mas já temos medicamente por via oral, já temos algumas medicações de infusão mensal, de infusão semestral. Então, na verdade, vai depender muito da forma de apresentação da doença, da gravidade, para que a gente escolha qual é o melhor tratamento para cada paciente. Existem várias drogas que ainda estão em estudo, existem as de aplicação anual e, na verdade, é uma doença que tem sempre muita pesquisa envolvida.
IDe+ | Como costuma ser a qualidade de vida de quem tem a doença?
Com relação à qualidade de vida do paciente com esclerose múltipla, a ideia em relação ao tratamento é justamente que o paciente consiga ter uma qualidade de vida normal. Ele pode praticar atividade física se estiver com a doença bem controlada, as mulheres podem planejar gestação. As novas drogas permitiram que o paciente consiga ter uma qualidade de vida boa sem ter muitos efeitos adversos, podendo trabalhar e fazer as suas atividades. O paciente pode apresentar algumas limitações em termos de fadiga, principalmente no verão devido ao calor. Ainda não temos a cura para esclerose múltipla, mas com as drogas atuais a doença pode ficar muito bem controlada por anos, sendo que o paciente pode ter uma qualidade de vida normal.
IDe+ | Quais são os principais riscos para quem tem esclerose múltipla?
Em geral, a esclerose múltipla não leva à morte (a doença em si). Alguns pacientes com muitos anos de doença, ou que tiveram o diagnóstico numa época em que a gente não tinha muita opção de tratamento e ficaram com muitas sequelas relacionadas à doença, podem evoluir a óbito por conta de complicações, mas como regra essa doença não leva à morte.
IDe+ | Quais as principais dúvidas sobre o tema?
As principais dúvidas em relação a um paciente recém diagnosticado, geralmente, são se ele vai evoluir para cadeira de rodas ou alguma incapacidade ou se vai poder trabalhar. Nas mulheres, elas também têm muitas dúvidas em relação a se vão poder gestar ou não, porque em geral acometem pacientes em idade fértil. Então faz parte da atribuição do neurologista esclarecer essas dúvidas e deixar os pacientes a par de que hoje é uma doença que, quando diagnosticada precocemente e bem tratada, é possível ter uma vida normal.
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