“Nunca foi sorte sempre foi Deus”? Como entender “sorte” à luz da Bíblia e da fé cristã

“Nunca foi sorte sempre foi Deus”? Como entender “sorte” à luz da Bíblia e da fé cristã

“Nunca foi sorte, sempre foi Deus”. Essa frase é comumente vista das redes sociais a adesivos de carros. Celebra a ação de Deus na vida e levanta o questionamento sobre o que a Bíblia diz sobre a tal “sorte”. A palavra equivale a acaso, destino ou a lugar para a providência divina que governa a história? Entenda o sentido bíblico e teológico de “sorte”, como a Escritura usa o costume de lançar sortes e veja direcionamentos para quem quer viver a confiança em Deus sem cair no fatalismo nem na superstição.

De maneira resumida, na Bíblia, “sorte” aparece sobretudo como “lançamento de sortes”, um modo antigo de decisão social e religiosa, mas o sentido último, segundo a fé bíblica e o ensinamento católico, é que Deus governa a história. Ele pode permitir usos práticos de sortes, mas nada foge ao seu olhar providente. A Escritura e a Tradição pedem que a confiança evite a mentalidade de “azar/sorte” como força autônoma e cultive a fé na providência e na responsabilidade humana.

Origem da palavra e sentido

A palavra portuguesa sorte vem de uma tradição ligada ao latim sors, sortis, que designava “lote”, “sorte” ou “resposta oracular”. Isto é, o vínculo entre o conceito de destino e o ato de tirar um pedaço ou “lote” que decidia algo. Na linguagem corrente, sorte pode significar “azar/boa fortuna”, “destino” ou “acaso”.

Como mostra a Bíblia, lançar sortes (tirar “sortes”) era um procedimento concreto e socialmente aceito para tomar decisões importantes e aparece várias vezes como instrumento usado por pessoas para discernir ou decidir. Entre os episódios mais citados:

  • Jonas 1,7: os marinheiros lançam sortes para descobrir quem havia causado a tempestade que ameaçava o navio; a sorte aponta Jonas.
  • Atos 1,26: após a morte de Judas, os discípulos lançam sortes para escolher o sucessor (Matias foi escolhido “por sorte”). Esse uso mostra que a sorte era uma forma de determinar entre opções humanas. A comunidade buscava, assim, deixar a escolha à vontade de Deus manifestada por esse meio.
  • Provérbios 16,33: o provérbio diz: “A sorte é lançada no regaço; mas do Senhor procede toda decisão” (tradução adaptada). O versículo é paradigmático: descreve o costume humano (jogar a sorte), mas afirma que o desfecho pertence, em última instância, ao Senhor.

Esses textos evidenciam que lançar sortes era um recurso prático e culturalmente legítimo. E que a Escritura, especialmente em passagens sapienciais, corrige leituras supersticiosas e lembra que Deus é quem orienta os acontecimentos em seu desígnio.

A doutrina católica atribui a Deus o governo amoroso sobre toda a criação, a chamada “Providência divina”. O Catecismo explica que Deus cuida de todas as suas criaturas e orienta-as segundo Seu plano, sem aniquilar a liberdade humana nem reduzir os eventos a mero determinismo mecânico.

Deus permite coisas e as faz convergir para seus desígnios, mas não é um “outro nome” da sorte ou do azar. Isso significa que:

  • Não cabe confundir “Providência” com “fatalismo”: a fé não é passiva. Ser guiado por Deus passa por agir com responsabilidade, orar e discernir.
  • Também não é legítimo pensar que “sorte” ou forças impessoais controlam totalmente a vida. A palavra bíblica diz que Deus não abandona a história e que devemos cultivar confiança ativa.

“Nunca foi sorte, sempre foi Deus”

A afirmação popular tem um acerto importante, que é reconhecer a ação de Deus e agradecer por bens, fatos positivos e resgates da vida. Fortalece a gratidão e a confiança na providência.

Porém, é preciso evitar dois extremos. O primeiro deles é negar circunstâncias humanas e causas naturais. Agradecer não significa recusar causas médicas, profissionais, científicas ou o esforço humano necessário.

O segundo é transformar a fé em superstição. É importante ter atenção para não dizer que “foi Deus” para tudo e encobrir decisões erradas ou injustiças. A fé cristã convoca também à conversão, ao cuidado com os irmãos e à luta contra o mal.

 

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