Dispositivo utiliza saliva para que sensor registre mudanças elétricas./Imagem: captura de vídeo
Entre tantas dores silenciosas que marcam a vida moderna, a depressão é uma das mais profundas e também uma das mais difíceis de diagnosticar rapidamente. Por isso, a notícia de que pesquisadores brasileiros desenvolveram um teste de saliva capaz de auxiliar na identificação precoce da doença traz esperança. É um avanço científico que dialoga com o ato de cuidar do ser humano por inteiro.
Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um biossensor que detecta, em poucos minutos, alterações nos níveis da proteína BDNF, um biomarcador associado à depressão e a outros distúrbios neurológicos. O funcionamento é simples: basta uma gota de saliva para que o sensor registre mudanças elétricas e envie os resultados para um smartphone ou computador.
Essa praticidade contrasta com o cenário atual. Atualmente, medir a BDNF exige exames caros, demorados e invasivos, realizados apenas em laboratórios especializados. O novo dispositivo, que é descartável, sustentável e com custo estimado em cerca de R$ 12, abre caminho para diagnósticos mais acessíveis, tanto no sistema público quanto no privado.
Os testes com humanos já apresentaram resultados positivos e foram publicados na revista científica ACS Polymers Au. O sensor atual identifica uma única proteína, mas futuras versões poderão detectar outras substâncias ligadas à bipolaridade, ansiedade, Alzheimer e Parkinson.
Os próprios pesquisadores reforçam que o teste não substitui a avaliação médica. A depressão continua a ser diagnosticada clinicamente, pela leitura atenta de sintomas emocionais, cognitivos, físicos e comportamentais.
O biossensor tem duas funções: ajudar o médico no diagnóstico (para oferecer um dado biológico que complementa a consulta) e monitorar o tratamento (uma vez que mostra se o paciente está respondendo bem à medicação por meio da variação do BDNF).
Atualmente, o ajuste de antidepressivos é feito por tentativa e erro, o que pode causar efeitos colaterais, frustração e, muitas vezes, abandono do tratamento. Uma ferramenta objetiva reduz esse caminho e oferece mais estabilidade ao paciente.
A tecnologia está em fase de redação de patente e depende de investimentos para chegar ao mercado. A expectativa é que, em breve, o sensor possa ser integrado a aplicativos de saúde, permitindo que resultados sejam enviados diretamente aos profissionais de referência.
Essa pesquisa reúne uma rede de cientistas brasileiros: Paulo Raymundo-Pereira (IFSC/USP), Marcelo Calegaro (IQSC/USP), Nathalia Gomes (IQSC/USP – LNNA Embrapa Instrumentação), Luiz Henrique Mattoso (LNNA Embrapa Instrumentação), Sergio Machado (IQSC/USP) e Osvaldo Novais de Oliveira Junior (IFSC/USP). O estudo recebeu apoio das instituições de fomento Fapesp, CNPq e Capes.
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