A campanha Agosto Dourado, criada em 1992 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), fala a todos sobre a importância da amamentação para o desenvolvimento das nossas crianças.
O slogan da campanha deste ano, promovida pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é: “Todos pela amamentação. É proteção para a vida inteira”. De acordo com a OMS e o Unicef, cerca de 6 milhões de vidas são salvas anualmente por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de idade.
A consultora de amamentação da Mamain Consultoria, Carla Schultz, alerta que o tema está em pauta porque temos uma cultura de desmame, onde as pessoas, não tendo acesso a informações corretas sobre a amamentação, acabam minando o processo, por insegurança: “tem esse discurso muito forte, ‘você vai deixar o seu filho passar fome’, ‘uma mamadeira só não vai matar’”.
Além disso, ela lembra do constrangimento que as mulheres vivenciam quando necessitam amamentar em público e a falta de políticas públicas que estimulem, protejam e defendam a amamentação, como a garantia da licença-maternidade e a extensão da licença-paternidade.
“Muitas vezes a mãe está disponível para amamentar, mas precisa ter pessoas ao lado para, no contexto, proteger esse processo. Precisa do pai ali do lado, dando apoio e cuidando da mãe, do filho, da casa, e tudo mais. Se dedicar a esse momento, não só incentivando a mulher a amamentar, mas dando o acolhimento emocional de que ela precisa, além do apoio com coisas práticas, coisas da dinâmica da casa: olhar os outros filhos, organizar as contas, fazer compras do mercado, tudo que é necessário para a vida seguir”.
Carla Schulz nos fala ainda da importância do Agosto Dourado, pois a maioria dos profissionais de saúde também não está preparada para lidar com a amamentação. “É preciso, antes de encaminhar a criança para a complementação com leite artificial, manejar o aleitamento, avaliar a mamada, o histórico da amamentação daquela criança”, ressaltou Carla. Esse preparo dos profissionais de saúde deve abranger as faculdades da área de Saúde e pessoas em ambientes hospitalares que tenham contato com as lactantes.
As empresas também podem ser agentes de proteção da amamentação, proporcionando flexibilidade de jornadas, espaço para extração e armazenamento do leite, creche, adotando a licença-maternidade estendida a seis meses, dentre outros.
Considerado o alimento mais completo para os bebês, o leite materno contribui para a melhora nutricional, reduz a chance de obesidade, hipertensão e diabetes, diminui os riscos de infecções e alergias, além de provocar um efeito positivo na inteligência e no vínculo entre mãe e bebê.
Ele é ainda repleto de anticorpos, fundamentais para a resistência do bebê a doenças, tornando-se essencial que a criança o receba como única fonte de alimento até os seis meses, sendo que entidades e especialistas sugerem que a amamentação deve continuar até os dois anos ou mais, sem limite de idade para o seu término.
Segundo a OMS, apenas 39% dos bebês brasileiros são amamentados com exclusividade até os cinco meses de vida, o que é muito pouco, vez que, mesmo com a introdução da alimentação complementar após o sexto mês, a amamentação e o leite materno continuam trazendo benefícios para a criança e para a família.
Em depoimento para a Agência Brasil, o pediatra Roberto Mário Issler, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP e professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), registrou que “é uma importante e significativa fonte de nutrientes, especialmente na falta de outros alimentos para serem ofertados; tem ainda efeitos protetores contra infecções mais comuns, como a diarreia e a infecção respiratória, além de minimizar o risco de alergias e obesidade. É muito mais prático e tem menor custo, além de promover o contato mais íntimo entre mãe e filho”. O aleitamento materno promove ainda uma menor prevalência de doenças infecciosas como otite, pneumonia e gastroenterite.
“A mulher que amamenta tem menor prevalência de câncer de mama e de ovário. Oferece uma série de estímulos sensoriais pelo contato entre mãe e filho, com efeitos na formação de vínculos afetivos entre os dois”, reforça o pediatra.
Entre todas as vantagens da amamentação, ela também proporciona ao bebê o crescimento e o desenvolvimento da face e das estruturas orofaciais: lábios, língua, mandíbula, bochechas. As disfunções orofaciais podem levar a alterações da respiração, da deglutição e da fala: o bebê, ao sugar o seio da mãe, apresentará melhores condições para desenvolver a mastigação e a fala.
A consultora Carla Schultz nos lembra ainda da importância, para a proteção da amamentação, da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras – NBCAL: um conjunto de regulamentações sobre a promoção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade, como leites, papinhas, chupetas e mamadeiras.
O objetivo da NBCAL é assegurar o uso apropriado desses produtos de forma que não haja interferência na prática do aleitamento materno, proibindo que fórmulas infantis para lactentes, chupetas, mamadeiras e papinhas tenham propagandas veiculadas em meios de comunicação.
Colostro: chamado de “a primeira vacina do bebê”, produzido nos primeiros cinco dias após o nascimento. É rico em anticorpos e é fundamental para o sistema imunológico, produzido em pequena quantidade, mas altamente nutritivo.
Leite de transição: chega entre o 6º e o 15º dia após o parto. Sua quantidade é maior e ele começa a se enriquecer de gordura, sendo mais adequado ao crescimento do bebê.
Leite maduro: esse leite, presente a partir do 16º dia após o parto, tem diferentes características ao longo da mamada, tais como vitaminas, minerais e proteínas essenciais. À medida em que a mãe amamenta, o leite maduro se transforma, sendo composto pelo leite anterior, que é mais rico em água e voltado à hidratação do bebê, e o leite posterior, mais doce e rico em gorduras.
Alguns alimentos ajudam a aumentar o leite: “Nenhum alimento irá aumentar os hormônios relacionados com a produção e ejeção do leite. O que realmente estimula a produção é a sucção do bebê: quanto maior a frequência maior a produção hormonal”, responde Laura Penteado, ginecologista e obstetra, diretora da Theia, clínica de saúde centrada na mulher gestante.
Existe “leite fraco”: “Não existe leite fraco. Até o leite de mulheres desnutridas contém o essencial para o desenvolvimento do bebê. Mas, para melhor qualidade do leite, o recomendado é que a mãe tenha uma alimentação saudável e equilibrada. Ela não deve ingerir bebida alcoólica e deve conversar com sua médica sobre medicamentos de uso contínuo, se podem passar para o leite e se devem ser substituídos”, afirma a médica.
É preciso dar os dois seios para o bebê se saciar: o bebê pode se satisfazer apenas mamando em um dos seios, ou com os dois. Não há uma regra sobre a saciedade do bebê, nem sobre o tempo que ele deve levar mamando no seio, nem sobre o tempo entre as mamadas. A mãe deve alimentar o bebê quando perceber que ele sente fome.
Leite artificial e leite materno são iguais: o leite materno contém anticorpos, células vivas, enzimas e hormônios que não estão presentes nas fórmulas artificiais.
É verdade, entretanto, que a mãe deve se hidratar bastante durante a amamentação. O leite materno é rico em água e a baixa ingestão de líquidos pode interferir na quantidade de leite a ser produzida. Descansar e manter o ambiente calmo também contribuem para o sucesso da amamentação, pois o estresse pode reduzir os hormônios responsáveis pela produção do leite.
Atualmente, muitas mães ficam em dúvida se o ato de amamentar implica risco de infecção pelo leite materno para bebês de mulheres que testaram positivo para o novo coronavírus. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, não há risco de transmissão do SARS-CoV-2 pelo leite materno, por isso não há razão para evitar ou interromper a amamentação.
“Lactantes assintomáticas devem permanecer com seu recém-nascido em regime de alojamento conjunto para fortalecer o aleitamento materno, muito importante neste momento de pandemia”, informou, em nota, a entidade.
“Até o momento, não existem evidências da transmissão do vírus pelo leite materno. A recomendação da OMS é que a mãe infectada pelo novo coronavírus mantenha a amamentação exclusiva até os seis meses”, reforça a Dra. Laura Penteado. No entanto, é necessário manter as devidas precauções, como lavagem das mãos com sabão ou álcool em gel antes e depois de tocar o bebê e o uso de máscara.
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