Obs.: contém spoilers
O conto de uma sereia que se apaixonou por um príncipe humano e decide largar o fundo do mar para viver sobre a terra é conhecido e já faz parte do imaginário de muitas pessoas de todas as idades.
A fábula de uma princesa sereia ganhou repercussão global após a Disney lançar um filme de animação com a história adaptada para crianças em 1989. Em 2023, o live-action (filme com atores e atrizes reais) da Pequena Sereia também ganhou fama internacional.
O que pouca gente sabe é que a história da Pequena Sereia é uma obra de Hans Christian Andersen (escritor e poeta dinamarquês) que envolve um tema bastante cristão: a salvação da alma.
No conto original, a jovem sereia disposta a desistir da sua vida nos mares para ser uma mulher humana não tem como objetivo principal o amor romântico de um príncipe, mas uma alma capaz de entrar na vida eterna.
A obra conta a história de uma sereia que vive num reino subaquático com o seu pai, o Rei dos Mares, as suas irmãs e a sua avó. No seu mundo marítimo, há uma tradição: as sereias nadam até a superfície a cada ano para observar o mundo humano.
Quando a protagonista recebe permissão para visitar a superfície, vê um príncipe num barco e se apaixona por ele. Assim que uma tempestade derruba o príncipe do barco, a sereia salva o humano. O príncipe, no entanto, nunca soube da identidade da heroína que salvou sua vida, visto que ele estava inconsciente naquele momento.
Muito embora ela tenha se apaixonado pelo príncipe, o amor romântico não foi o principal motivo da sua busca por uma nova vida. Segundo o texto original, ela vai conversar com sua avó, uma sereia mais sábia, sobre os humanos após salvar o príncipe. E, durante essa conversa, descobre algo fascinante: os humanos têm a possibilidade de ir para o céu após a morte.
Sua avó explica que, embora os humanos vivam menos tempo, eles têm alma e podem ganhar o céu (especialmente se forem bons). Já as sereias, por não serem totalmente humanas (são seres mitológicos cujos corpos apresentam uma parte humana e uma cauda de peixe na outra parte), não possuem alma e não podem almejar o céu. Após a morte, uma sereia vira espuma do mar e desaparece. Ao saber disso, ela decide ser uma mulher humana para buscar a eternidade.
Então, a Pequena Sereia resolve tomar uma poção especial para ser uma mulher humana. Ocorre que a sua transformação, como toda realização de um sonho, requer alguns sacrifícios: a perda da sua voz e a sensação dolorosa de mil espadas atravessando o seu novo corpo humano.
Quando ela passa a ser uma mulher e a viver em terra firme, descobre que o príncipe está apaixonado por outra mulher, pois acreditava que aquela era a sua heroína. Eles já tinham a data do casamento marcada. Mesmo depois de conhecer a Pequena Sereia na forma de uma mulher sobre a terra firme, ele se casa com a outra, sem saber a verdadeira identidade de quem o havia salvado.
Com os planos sobre a vida terrestre frustrados, a moça que sonhava com a eternidade resolve voltar para o mar. Porém, ao mergulhar no oceano, ela morre. Seu corpo é transformado em espuma, mas ela ganha uma alma e a eternidade como recompensas pela sua dedicação diante do plano divino.
A sereia herda o céu no seu destino e, conforme o final da história, ela intercede pelas crianças que são boas na terra. Ao encontrar crianças boas e interceder por elas, o seu tempo para chegar até o céu fica mais curto.
Ao longo do tempo, a sua história ficou mais leve e romântica para atender ao público infantil. Acontece que a versão original de Hans Christian Andersen é mais complexa, profunda e religiosa do que as pessoas imaginam. Originalmente, os contos de fadas pretendiam passar mensagens morais fortes para as crianças.
Conforme as ideias do autor da Pequena Sereia, o fato de sua personagem não ter se casado com o príncipe está longe de representar qualquer final triste. Quando estudamos o estilo literário do escritor dinamarquês, percebemos que a conquista da vida eterna representa o grande final feliz da história.
O criador da narrativa da sereia enfrentou a pobreza na infância e era conhecido por ser tímido e desajeitado. Mesmo com a sua timidez, sentiu um chamado criativo muito forte para escrever enredos infantis e publicar os seus livros na vida adulta. A sua história de superação inspirou os seus trabalhos, os seus personagens e a sua célebre frase: “A vida de cada pessoa é um conto de fadas escrito pelos dedos de Deus”.
O peixe e o mar são elementos presentes nesse conto de fadas e bem marcantes na história cristã também. Para os estudos bíblicos dentro da espiritualidade cristã, o peixe e o mar são símbolos inesgotáveis. Vou destacar algumas passagens que evidenciam esses símbolos na Bíblia.
Antigamente, os cristãos primitivos usavam o símbolo do peixe para se identificarem discretamente, pois, assim, podiam conversar sobre Cristo com as pessoas sem chamarem a atenção dos seus perseguidores.
Na Bíblia, a atividade da pesca recebe destaque. Afinal, Pedro, Tiago, João, André e Filipe, grandes apóstolos da história do cristianismo, eram pescadores. Certa vez, Jesus afirmou:
“Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens” (Mateus 4,19).
Moisés libertou o povo de Israel da escravidão no Antigo Egito. Sabemos que Deus guiou o Seu povo pelo deserto durante quarenta anos, período que se iniciou com a seguinte passagem: por meio do profeta Moisés, Deus abre o Mar Vermelho para permitir a travessia dos filhos de Israel. Portanto, a abertura do mar foi um grande sinal de libertação.
“Então Moisés estendeu a mão sobre o mar e, com um forte vento leste, o Senhor abriu caminho no meio das águas. O vento soprou a noite toda, transformando o fundo do mar em terra seca” (Êxodo 14,21).
Segundo a Bíblia (Mateus 14, 26-28), Jesus andou sobre o mar.
Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e disseram: “É um fantasma!” E gritaram de medo.
Mas Jesus imediatamente lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo!”
“Senhor”, disse Pedro, “se és tu, manda-me ir ao teu encontro por sobre as águas”.
“Quem fechou com portas o mar, quando brotou do seio materno, quando lhe dei as nuvens por vestimenta e o enfaixava com névoas tenebrosas? Eu lhes tracei limites e lhe pus portas e ferrolhos, dizendo: ‘Chegarás até aqui e não irás mais longe; aqui se deterá o orgulho de tuas ondas?'”
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