O trabalho da cirurgiã-dentista Karin Barczyszn é sobre restauração e esperança. Para ajudar pessoas que foram mutiladas na face devido às consequências do câncer, ela e um grupo de cientistas e profissionais desenvolvem próteses faciais personalizadas e gratuitas.
“As próteses reabilitam os pacientes de várias formas: esteticamente, para que possam sair à rua e ter uma vida normal. Funcional, para que possam falar, se alimentar e se relacionar. E espiritualmente, pois reabilitam a alma. Eles voltam a ter uma vida o mais próxima do normal possível. Muitos deles antes viviam escondidos em casa, pois não queriam ser vistos sem nariz, sem olho. Eram excluídos da vida em sociedade”, explica a profissional.
O trabalho é realizado no laboratório de próteses bucomaxilofaciais do Hospital Angelina Caron (HAC), em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Desde 2019, cerca de 30 pacientes oncológicos receberam próteses faciais feitas a partir da biomodelagem 3D com materiais como silicone e acrílico, que devolvem as formas dos seus olhos, narizes, orelhas ou pálpebras, por exemplo, bem como próteses obturadoras de palato e velofaríngeas (que fecham o céu da boca), que permitem que alguns pacientes possam se alimentar e tomar líquidos e até falar.
Esse trabalho é fundamental para devolver a dignidade a pessoas que sofreram mutilações na cabeça e no pescoço. Com as próteses, podem retomar a vida com qualidade. Essas formas desempenham um papel crucial na amenização dos traumas e na melhoria da autoestima do paciente. É um trabalho de reabilitação não apenas da face, mas da vida dessas pessoas, como explica Karin.
Karin Barczyszn já trabalhava no Hospital Angelina Caron quando, em 2018, o chefe do setor de Oncologia, Dr. Luciano Saboia, pediu que desenvolvesse uma prótese de nariz. Até então, ela nunca tinha feito esse tipo de formato.
A especialização nessa área ainda nem existia no Brasil, mas a cirurgiã-dentista foi em busca de cumprir a missão. Começou então a fazer estágios voluntários na Universidade de São Paulo (USP) para aprender técnicas e casos. Na sequência, iniciou a especialização em Prótese Bucomaxilofacial na mesma instituição.
“Eu nunca me imaginei fazendo uma prótese quando estava na universidade – um nariz, uma orelha, um olho para alguém. Surgiu na minha vida pela necessidade do hospital, não digo por acaso, porque acho que já têm coisas que estão predestinadas na nossa vida, é a missão que a gente tem. Foi me dada essa missão e eu fui atrás. Esse trabalho me realiza muito, faço isso com muito prazer”, compartilha a cirurgiã-dentista.
Muitos pacientes que passaram por cirurgias há anos ainda buscam próteses faciais e enfrentam dificuldades para viver com naturalidade. O método inovador desenvolvido pela equipe da UTFPR e do HAC permite a criação de próteses faciais personalizadas, com adaptação ao rosto de cada pessoa.
Embora o HAC seja um hospital particular, aproximadamente 60% dos pacientes atendidos são do Sistema Único de Saúde (SUS). Para atender a essa demanda, o hospital implementou um projeto de doação de próteses faciais gratuitas para os pacientes em tratamento oncológico, para que todos tenham acesso a essa transformação.
“Esse trabalho, realmente, não tem preço para um profissional. Quando você vê o sorriso, que essas pessoas voltam a trabalhar, a viver bem. Pra nós é um retorno fantástico e não há dinheiro que pague essa felicidade que conseguimos proporcionar”, finaliza Karin Barczyszyn.
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