A inclusão e o cuidado com o próximo são caminhos para uma sociedade mais justa e, para os cristãos, expressões do amor de Deus. O sistema braille, que possibilita às pessoas cegas o acesso à leitura e ao conhecimento, é um exemplo de como um ato de compaixão, alinhado a esforços práticos, pode transformar vidas. Assim como Cristo ensinou a importância de olhar para os ‘pequeninos’ e amá-los, o braille nos convida a acolher e a dar luz a todos, promover acessibilidade e autonomia.
O Dia Mundial do Braille, em 4 de janeiro, traz a reflexão sobre a importância do acesso à leitura e ao conhecimento para pessoas cegas. O sistema braille foi criado pelo francês Louis Braille e levou independência a milhões de filhos de Deus. Essa também é uma conquista da dignidade humana, que se alinha aos ensinamentos de Cristo sobre acolher e cuidar de todos, especialmente de quem mais precisa de apoio para viver em condições dignas.
“Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mateus 25, 40).
Louis Braille nasceu na França em 1809 e, aos três anos, perdeu a visão devido a um acidente. Desde jovem, enfrentou os desafios impostos pela deficiência visual. Mesmo assim, nunca deixou de buscar o conhecimento. Com apenas 15 anos, inspirado por um sistema de leitura criado para militares, desenvolveu sua própria versão adaptada, que se tornaria a primeira ferramenta eficaz de leitura e escrita para cegos. O método, embora inicialmente enfrentasse resistência, logo se mostrou um avanço efetivo para a educação e autonomia de quem tinha problemas de visão.
O sistema braille é constituído por seis pontos em relevo, divididos de forma que diferentes combinações representem letras, números e até partituras musicais. Essa simplicidade permite que o alfabeto braille seja adaptado para diferentes línguas e, até hoje, é considerado o sistema mais completo e acessível para deficientes visuais. Aprender braille, como qualquer novo idioma, por exemplo, exige estudo e dedicação. O método proporciona a oportunidade de leitura independente, essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional.
No Brasil, o braille foi oficialmente introduzido em 1854, graças ao empenho de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego brasileiro, que batalhou pela criação de uma instituição que oferecesse educação a jovens cegos. Desde então, o país tem feito avanços na inclusão, com a Lei nº 4.169/1962, que obriga o uso do sistema em produtos e locais públicos. A criação da Comissão Brasileira do Braille, em 1999, garantiu a adaptação do sistema para o português e sua implementação em todas as áreas educacionais.
Uma das principais contribuições do sistema é permitir mais autonomia para pessoas cegas, o que tem evoluído também com o apoio da tecnologia, que ampliou ainda mais as possibilidades do braille e de outras ferramentas de apoio. O Google, por exemplo, lançou um teclado virtual que permite que pessoas cegas escrevam em braille diretamente na tela do smartphone, enquanto o aplicativo Braille Scanner traduz documentos para texto.
Um exemplo de alguém que se alfabetizou também em braille é o pedagogo e professor Lucas Cadmiel, que tem pós-graduação em Educação Especial Inclusiva. Ele perdeu a visão com 10 anos devido ao glaucoma e conseguiu rápido se alfabetizar nesse sistema. Lucas acredita que, nos últimos anos, houve muitos avanços, especialmente no que diz respeito a tecnologias assistivas e legislação. Porém, “a verdadeira inclusão só será alcançada quando houver uma mudança cultural que elimine preconceitos e barreiras atitudinais, que envolvem valores, atitudes e normas, e isso é um sonho”, comenta o professor que ministra aulas de programas de Orientação e Mobilidade, Informática Acessível, Braille, PEVI (Práticas Educacionais para uma Vida Independente) e Soroban.
Lucas mora sozinho e tem uma “casa inteligente” que chama atenção e tem até airfryer controlada por comando de voz. Ele mesmo projetou seu lar para que tudo funcione de maneira organizada e estratégica. Além do trabalho como professor, toca instrumentos, gosta de livros (os quais escuta por meio de ferramentas de acessibilidade) e tem entre os seus planos fazer uma nova graduação.
“Quanto ao meu futuro, acredito muito em Deus e, por isso, prefiro deixar a vida acontecer, mas me esforço para que as coisas que estão acontecendo em minha vida sejam únicas e satisfatórias”, diz Lucas.
Acesso às tecnologias que facilitam e ao aprendizado do braille são fundamentais para que as crianças cegas aprendam a ler e escrever no sistema braille, para que possam se alfabetizar e desenvolver suas capacidades cognitivas. Com o sistema, elas podem explorar a gramática, as regras ortográficas e se beneficiar de uma educação completa e inclusiva, também em relação ao desenvolvimento na fé e leitura da Bíblia. Como está no Catecismo da Igreja Católica, a inclusão é um caminho para a santidade e para o bem comum.
Cada livro, página e sinal em braille reafirmam o direito à dignidade e à participação social das pessoas com deficiência, assim como Jesus ensinou: a valorizar cada pessoa como ela é.
O braille já foi estampado em joias, camisetas e até em obras de arte. A Bíblia em braile é um grande volume que chega a um metro de altura se empilhada, porém é possível ter acesso a esses textos e aos materiais catequéticos. Basta solicitar à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pelo e-mail: catequese@cnbb.org.br.
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Texto adaptado do Jornal do Evangelizador – Ano XVIII – n° 208 – janeiro/2025
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