“Não o sabes? Não o aprendeste? O Senhor é um Deus eterno. Ele cria os confins da terra, sem jamais fatigar-se nem aborrecer-se; ninguém pode sondar sua sabedoria. Dá forças ao homem acabrunhado, redobra o vigor do fraco. Até os adolescentes podem esgotar-se, e jovens robustos podem cambalear, mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar (Isaías 40, 28-31)”.
Neste artigo, não vou refletir sobre a síndrome de burnout, um distúrbio emocional que surge do estresse crônico no trabalho, mas sobre a sensação generalizada de cansaço que atinge muitas pessoas (e até mesmo aquelas que têm o privilégio de viver uma rotina profissional adequada).
A pior sensação de esgotamento que existe é a espiritual, pois a falta de energia para cumprir a nossa vocação pode gerar crises existenciais e questionamentos sobre o sentido da vida. Algumas frustrações da jornada atrapalham a nossa disposição para a generosidade. Contudo, a missão de amar o próximo deve superar os obstáculos.
A nossa vocação está muito além da profissão comum, porque abrange as nossas habilidades naturais, as nossas inclinações, um chamado divino e os dons que devemos oferecer ao mundo para ajudar nossos irmãos.
Costumamos ser ingênuos no início da nossa jornada espiritual, porque queremos ajudar a todos, investir em muitos projetos diferentes e “abraçar o mundo” de uma vez.
Quando doamos muita energia para pessoas que suscitam mágoas ou para projetos que não se realizam, perdemos grande parte da motivação. Todos têm um ponto frágil que causa alguns “tropeços” em algum ponto da rota. Além disso, o excesso de atividades e o estresse da vida moderna acarretam a estafa mental.
Enquanto somos jovens, ainda não temos sabedoria para entender a importância de preservar a nossa energia. Na juventude, também não temos a personalidade totalmente formada e segura a ponto de saber dizer “não” nas horas certas. O orgulho dos jovens atrapalha o aprendizado sobre limites. Por essa razão, percebemos que há muitas pessoas com problemas psíquicos nos tempos atuais.
Diante das frustrações acumuladas desde a juventude, surge um cansaço psicológico e espiritual inexplicável. A vontade de desistir dos objetivos pode abalar o coração, pois pensamos que o esgotamento significa o fim da caminhada ou o nosso fracasso.
Poucas pessoas sabem, mas o “cansaço da alma” é um “sintoma” do começo da nossa verdadeira caminhada espiritual e não do final dela. O que parece um abismo, na verdade, é um “trampolim” para o próximo estágio da vida que Deus quer nos levar. Somos capazes de experimentar uma fase mais madura, equilibrada e repleta de aprendizados incríveis na nossa jornada após a cura da nossa fraqueza.
O cansaço não significa fracasso nem aponta o final do caminho. A exaustão espiritual é fruto da nossa vitória, pois somente quem é forte para acender uma luz generosa dentro de si conhecerá o esgotamento e sofrerá com a escuridão. Como aquele momento de um atleta exausto no final de uma corrida, o cansaço é o período de receber uma medalha e não de sofrer pelo que passou.
Além do mais, o período de esgotamento pode ser um grande “professor” de humildade. Quando uma pessoa percebe que a sua energia é limitada e que ela não é autossuficiente, começa a buscar a força de Deus.
É comum tropeçar durante a caminhada da santidade algumas vezes, porém, nenhum tropeço pode atrapalhar uma vitória. Deus sempre reergue os filhos que buscam o bem com o coração sincero. A força d’Ele cura o abatido e renova o vigor de quem se sente fraco.
Muitas pessoas dizem que seu cansaço emocional surgiu após algumas decepções. Sob a perspectiva cristã, podemos ressignificar a experiência da mágoa a partir da sabedoria bíblica.
As pessoas que nos decepcionaram são aquelas que nos ensinaram sobre amor incondicional e sobre a força da nossa virtude. Afinal, poderíamos ser considerados virtuosos se ajudássemos somente as pessoas boas, gratas e fáceis de lidar?
Ser generoso com as pessoas difíceis é uma prova de fidelidade ao cristianismo. Apenas quem alcançou o amor extraordinário sentirá o peso da virtude e o cansaço dos filhos de Deus.
Na Bíblia (Mateus 5, 46-47), encontramos as reflexões sábias do Senhor: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isso também os pagãos?”
Por outro lado, diversas pessoas se sentem abatidas por causa das suas dificuldades. Os erros e os pontos frágeis não devem provocar desistência na nossa caminhada, mas humildade e confiança na misericórdia de Deus. Poderíamos nos perder se nos sentíssemos sempre fortes e perfeitos. Os nossos defeitos derrubam o orgulho e apontam para a nossa imensa necessidade de Deus.
Nessa fase de aflição e cansaço, não podemos desistir de seguir os desígnios de Deus. Pelo contrário, esse é o estágio perfeito para descansar no amor divino e buscar a presença de Jesus com ainda mais fervor. Cristo prometeu que acolheria os que se sentem cansados, e não há momento mais certo para provar a promessa d’Ele.
O Senhor afirmou para nós (Mateus 11, 28-30): “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve”.
Sendo assim, o cansaço é um mensageiro que aponta para a nossa maior cura: o amor de Jesus. O esgotamento não é o nosso inimigo, mas um aliado espiritual na busca pelo consolo divino. Em vez de ser uma etapa pesada e angustiante na nossa vida, o período de exaustão emocional pode ser vivido com fé e esperança.
A cura da energia pessoal requer momentos de solitude, meditação, oração e encontro com Deus. E esses momentos podem ser agradáveis, porque nos ensinam a respeitar as nossas próprias forças e a receber o devido repouso.
Quando aprendemos a separar um tempo para nós mesmos e para Deus, descobrimos um ritmo de vida mais equilibrado e curamos o nosso esgotamento. O cansaço psíquico e espiritual não significa o nosso fracasso, mas o começo de uma jornada vitoriosa ao lado do Senhor.
A estafa não é uma inimiga para você desistir dos seus sonhos, mas uma bússola que aponta o caminho da sua transformação: uma vida simples, leve, equilibrada e centrada na fé. Permita-se descansar no imenso amor de Deus, pois o Senhor cuida de cada filho que se sente cansado.
Confira essa bela mensagem do Padre Reginaldo Manzotti (páginas 146 e 147 do livro Pílulas do Saber):
“Você está se sentindo cansado, fraco? Impotente, talvez, como se nada desse certo? Faltam-lhe forças para seguir adiante? Então, alegre-se. Isso mesmo: alegre-se! Essa é a oportunidade que Deus lhe dá para ceder o controle da situação para Ele. Foi por isso que São Paulo exclamou: Porque, quando me sinto fraco, então é que sou forte (2 Cor 12,10). Deus compensa nossa fraqueza com a força que só Ele tem. Deixe Ele tomar a dianteira!”
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