A interioridade se revela em nossos trajes

A interioridade se revela em nossos trajes

Segundo Marshall McLuhan, que considera nossas invenções como extensões de nosso ser, a roupa que usamos é uma extensão de nossa pele. Observando de outro ângulo, percebemos que é também a extensão de nossa interioridade. Assim sendo, cabe-nos algumas perguntas: Estamos cientes e confortáveis com o nosso modo de apresentar-nos? O nosso pensar, falar, agir, bem como nossos trajes revelam em que acreditamos, a quem seguimos e o que desejamos expressar? Ou apenas seguimos a moda, sem um senso crítico, sem nos preocupar com as implicações que possam ter? Quem nos vê, é levado a perceber a presença de Deus em nós? Quem participa de nossas conversas, interage conosco, consegue perceber que somos cristãos? Nosso modo de apresentar-nos, de trajar-nos impõem respeito, dignidade, fazem diferença em nosso lar, escola, local de trabalho e em outros grupos sociais?

São Paulo, escrevendo aos Colossenses, aconselha: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Colossenses 3.12).

Acrescento: Revistamo-nos de virtudes e da graça de Deus! Tenhamos uma vida digna, como seguidores de Cristo! Busquemos uma vida enriquecida pela oração, pela leitura da Palavra de Deus, pelos Sacramentos. Assim, nossa presença no mundo torna-se um sinal mais compreensível, um canal por onde a luz de Deus passa. Acredito que nosso contato diário com Cristo, em muitos momentos, vai nos tornando mais semelhantes a Ele, no modo de pensar, de julgar, de amar e de apresentar-nos como Sinal Sagrado para o mundo. Somos instrumentos nas mãos de Deus e continuadores da missão de Jesus Cristo. Deus faz maravilhas em nós, é Ele quem age, mas respeita nossa liberdade de colaborar. 

 

Traje de inverno

Gosto da estação invernal e de observar as pessoas com seus agasalhos coloridos. Alguns são belos e completam-se com mantas, cachecóis, gorros e luvas.

Vocês já notaram como as pessoas sorriem quando estão bem agasalhadas? É como se a roupa fosse um grande e caloroso abraço de pessoa querida. Li, certa vez, uma carta que me chamou a atenção. Um filho escreveu à sua mãe, agradecendo o presente recebido. Dizia o seguinte: “Mãe, recebi o pulôver de lã que a senhora me enviou. Gostei da cor e do modelo. É como se a senhora abraçasse meu corpo e meu coração. Junto ao calor da lã sinto o calor do seu carinho de mãe e do seu amor. Imagino o quanto a senhora pensou em mim, tricotando essa peça de vestuário. O inverno será mais suportável com ele e com a lembrança do seu amor de mãe”.

Depois desse agradecimento, sempre que vejo um homem de pulôver, imagino quem o teria confeccionado. Será que as mães ainda encontram jeito e tempo para tecer agasalhos para seus filhos crescidos? Será que os filhos ainda encontram uma forma de demonstrar gratidão por todo o carinho e ajuda recebidos dos pais?  

Hoje compramos roupas prontas, confeccionadas em série e por pessoas desconhecidas. Mesmo assim, as mães ainda podem agasalhar seus filhos, em qualquer idade. E há formas para isso: A espera paciente, o olhar amoroso, a palavra bem dirigida, uma agrado em gestos, um mimo, também agasalham o coração dos filhos e oferecem segurança.

Gosto de perceber as pessoas agasalhadas e seguras no traje e no bem-querer. Quando isso acontece, as intempéries da natureza e as emocionais vêm e vão sem causar dano às pessoas.

 

Trajes adequados

Pensava escrever sobre trajes adequados, quando alguém sugeriu: O melhor tempo para se falar em trajes adequados é durante o inverno. As pessoas estão mais vestidas e aceitarão melhor. Tenho certeza de que vocês vão concordar comigo: Traje adequado à ocasião e ao local é questão de respeito, de sabedoria e bom-senso. Seria longo demais discorrer sobre os muitos tipos de trajes, levando em conta modelos, tecidos, cores e tamanhos. Vamos, então, direto ao assunto: Capelas, Igrejas, Templos, Instituições de Ensino e locais de trabalho são lugares sagrados, aonde se vai em busca de Deus, do saber e do sustento para a família. O traje que vocês usam nesses locais vai revelar sua compreensão e bom-senso. Em relação à moda vale resgatar alguns valores, como: elegância, modéstia, simplicidade, pudor, recato. Assim, quando comprarem um vestido ou blusa sem mangas e decotes grandes, lembrem também de acrescentar uma peça que os complemente, para quando usarem essas roupas em igrejas e outros locais que exijam respeito.

Bom lembrar que não vamos a uma igreja para chamar a atenção sobre nós ou para tomar banho de sol. Na igreja buscamos a Deus, nossa Comunidade de Fé e nossa Luz que é Jesus. Decotes exagerados, mangas cavadas, mini-saias e shorts não são adequados a determinados locais. Em qualquer ocasião vale o respeito, o bom senso e o bom gosto. É preciso analisar e discernir quais são as intenções e objetivos do uso de algumas roupas que são desconfortáveis e inconvenientes.

O corpo humano é sagrado e criado por Deus. É seu primeiro templo, seu santuário vivo. Que os modelos e os tecidos, o brilho das sedas, das jóias e a maquiagem sejam complementos e realce de virtudes e beleza interior! Ao seguir a moda é interessante notar a mensagem que passamos.

Que nossas famílias sejam santuários de vida. Que a intimidade seja preservada para momentos e pessoas especiais! Que nossos trajes sejam inteligentes extensões de nossa pele, de nossa sensibilidade, de nossas crenças, de nossa fé, de nossos ideais cristãos, do papel que exercemos na família, no lar, na escola e no trabalho! Que apresentem conforto e adequação ao tempo e locais de uso! Que a beleza, a elegância, a simplicidade e a modéstia façam parte de nossas escolhas! Que as crianças não sejam erotizadas prematuramente e os adolescentes se abram para a beleza, com graciosidade! 

 

Ir. Zuleides M. de Andrade, ASCJ

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