Por Padre Tiago Felipe Polonha, da Arquidiocese de Curitiba
“Depois, subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram a ele. Designou doze dentre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviaria a pregar, com o poder de expulsar os demônios. Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou” (Mc 3, 13-19).
Chama atenção na Palavra de Deus que os evangelhos de Lucas, Mateus e Marcos fazem questão de nomear quem são os Doze Apóstolos de Jesus. Conhecemos a missão de alguns deles, como Pedro, Tiago, João. De outros, possuímos muito pouco conhecimento, como Bartolomeu e Tadeu. Indiferente de ser conhecido ou não, sabemos que todos eram homens comuns, que receberam uma missão importante do Senhor. Não foram escolhidos por serem os melhores, mas a Palavra de Deus diz claramente que foram escolhidos porque o Senhor assim quis. Pessoas comuns como todos nós, com suas qualidades e seus defeitos, mas que experimentaram um amor tão grande a ponto de darem suas vidas pelo seu Mestre. Errando, tendo medo, fugindo, se escondendo… Mas, aos poucos, fazendo essa experiência que mudou a vida deles.
Pensando nisso, me vem à memória uma série que me acompanhou ao longo de toda a vida e que muito me fez rir nas tardes de minha infância e juventude: Chaves! Quem nunca assistiu ao menos um episódio ou quem não conhece os personagens tão presentes em nosso imaginário: Chaves, Chiquinha, Kiko, Seu Madruga, Dona Florinda, Seu Barriga, Dona Clotilde e Professor Girafales? Personagens que se tornaram tão amados em nossa televisão brasileira e que nos ensinam que, mesmo possuindo defeitos, ainda podemos fazer o bem. Chespirito, o criador da série, era muito católico e por tantas vezes usou dos episódios para nos lembrar dos valores cristãos que defendemos.
Comecemos com a famosa frase de Seu Madruga: “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”. Seu Madruga era um homem completamente preguiçoso e nervoso. Vivia brigando com as crianças na vila. Mas tantas vezes sofreu injustamente e nunca revidou. Em um episódio, enquanto vendia churros, ele próprio se acusou e assumiu um castigo para não entregar o menino Chaves. Falando nele, Chaves, uma criança sem casa e sem família, sempre com fome e fazendo de tudo para ganhar um sanduíche de presunto, jamais perdeu a esperança e a alegria de viver. Quando foi acusado de ladrão, Chaves conta que rezou, não para que descobrissem o verdadeiro ladrão, mas para que o bandido se arrependesse e mudasse de vida. Lembro também daquela cena linda, depois da festa de aniversário do Kiko, em que o episódio se encerra à noite com Chaves dividindo seu lanche com Seu Madruga.
Dona Clotilde nos serve como exemplo também: diariamente sendo chamada de bruxa pelas crianças da vila e até por seus vizinhos, mas ainda assim agradava as crianças com pirulitos e bolos. Seu Barriga, avarento, sempre cobrando o aluguel e pensando no dinheiro. Porém, possuía um coração gigante, acolhendo uma família que lhe devia 14 meses de aluguel. Dizia: “se eu mandar essa gente embora, como vão viver?”. Sempre recebido com uma pancada do Chaves, mas quando o vê sozinho na vila, o convida para passar as férias em Acapulco. Todos os personagens da série tinham defeitos e erros, mas ao mesmo tempo, todos tinham bondade em seus corações. Não eram pessoas perfeitas, como nós não somos perfeitos, mas mesmo em suas imperfeições, sabiam fazer o bem.
Jesus, ao chamar os Doze Apóstolos, não escolheu seres perfeitos. Escolheu seres humanos, com todos os traços que os fazem humanos… Escolheu Pedro, nervoso e impulsivo; escolheu o cobrador de impostos, chamado de pecador público; escolheu analfabetos; chamou os “filhos do trovão” e escolheu até aquele “que seria o traidor”. Todos eram pessoas com defeitos. Mas Deus olha além dos defeitos. Jesus sabia do que eles eram capazes. Por isso, foi na coletoria de impostos dizer “segue-me”; foi até a praia onde estavam os barcos para chamar os pescadores; e quando Pedro o negou três vezes, por três vezes Jesus perguntou “tu me amas?”
Quando Jesus nos escolhe para uma missão, não está nos escolhendo por nossa perfeição, mas Ele conhece além e sabe o que nós somos capazes de fazer. Deus olha nosso coração pecador e vê além do pecado: vê filhos e filhas amados, que são capazes de fazer o bem. Por isso, tantas vezes Ele insiste conosco para não termos medo. Nós somos capazes de superar nossos defeitos ao nos entregarmos nas mãos de Deus. Jesus chamou nominalmente cada um dos apóstolos e é assim que nos chama: Ele nos conhece e confia em nós. Coragem, o Senhor precisa de nós!
Deus nos abençoe!
> Chaves (El Chavo del Ocho – México)
Criado por: Roberto Gomes Bolaños – 1973
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