A Virgem Morena de Guadalupe: um manto estampado pela fé

A Virgem Morena de Guadalupe: um manto estampado pela fé

O dia 12 de dezembro é o Dia de Nossa Senhora de Guadalupe. A data passou a abrigar a celebração litúrgica da devoção mariana a partir do ano de 1754, por decisão do Papa Bento XIV.

A devoção à Virgem de Guadalupe é uma das mais importantes das Américas, e se origina da aparição de Nossa Senhora, no século XVI, a um indígena asteca convertido ao cristianismo, Juan Diego Cuauhtlatoatzin, na colina de Tepeyac.

Foi em um sábado de dezembro, no ano de 1531, que Juan Diego foi escolhido para ser o porta-voz e a testemunha de um milagre. Ele caminhava rumo à missão franciscana de Tlatelolco para assistir à Missa em honra a Nossa Senhora. Pelo caminho, nas proximidades da Colina de Tepeyac, Juan julgou ouvir uma música muito suave e bonita vinda do alto.

Ele seguiu, então, a melodia, deparando-se com a visão de uma jovem senhora linda e serena sobre uma nuvem branca. Ao seu redor, um belo arco-íris.

Sua única reação foi cair de joelhos e sorrir para Ela. A Senhora chamava-o pelo nome e, falando em seu idioma nativo, identificou-se como a Virgem, “Mãe do verdadeiro Deus”. Disse-lhe, ainda, que Juan deveria se dirigir até o Bispo Frei Juan de Zumárraga, comunicando que, naquele lugar, haveria de ser construído um templo, para que pudesse derramar Seu amor e proteção sobre todos que procurassem Seu auxílio.

A notícia da aparição

Juan rumou para a casa do Bispo e, ajoelhado, narrou o acontecido, repassando o desejo de Maria. O Bispo pediu alguns dias para pensar e avaliar, sinalizando que precisava de provas mais contundentes do encontro. Desanimado, Juan voltou à colina para explicar à Virgem o que havia acontecido. Ele pede a Nossa Senhora que escolha um mensageiro mais importante, capaz de convencer o Frei. Maria, então, lhe responde que era ele o seu escolhido, e que ele deveria retornar no dia seguinte para obter a prova que lhe solicitaram.

Juan, no entanto, ao retornar para casa, encontrou o homem que o havia criado, seu tio Juan Bernardino, com sérios problemas de saúde. Achando que o tio iria sucumbir, Juan saiu bem cedo na manhã seguinte para procurar um sacerdote que abençoasse o enfermo.

Em sua busca agoniada, Juan escuta uma voz que lhe pergunta: “Aonde vais?”. Juan pede desculpas por não ter comparecido ao encontro, contando à Senhora seus motivos. A Virgem então lhe tranquiliza, contando-lhe que seu tio estava curado e passava bem.

A Virgem morena estampada no manto

Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba | Foto: Felipe Gusso

Ela, então, lhe faz um pedido: ela solicita que ele suba até o topo da colina e colha a maior quantidade de rosas que encontrar, guardando todas elas em seu manto. Reforça, todavia, que este manto somente será aberto por ele diante do Bispo.

Era inverno e as terras da Colina de Tepeyac não eram tão férteis; ainda assim, Juan encontrou lá no alto centenas de rosas, que depositou em seu manto feito da fibra de agave, um tipo de cacto.

Juan se dirigiu ao Palácio Episcopal e colocou-se diante do Bispo. Ao desdobrar o manto, entretanto, revelou-se a perfeita imagem da Virgem Maria, representada como aparecera para Juan Diego: uma jovem indígena rodeada de raios de sol.

O Bispo recolheu o manto e o colocou em um oratório, pedindo a Juan que lhe mostrasse o local da aparição onde deveria ser construído o templo. Ao voltar para casa, Juan encontrou seu tio completamente curado, e ele lhe contou que também fora visitado por uma Senhora de rara beleza, que o curara e o acolhera. A Juan Bernardino, a Virgem se identificou como “coatlaxopeuh” (pronuncia-se “quatlasupe”), que significa, em náuatle, “aquela que esmaga a serpente”. Em espanhol, o termo transformou-se em Guadalupe.

O milagre do manto e o Santuário da Virgem

A imagem no manto era impressionante. A técnica parecia com a da fotografia, impensável para o século XVI. Não há, ainda, vestígios de uso de pincéis. As cores não provêm de tintas ou corantes de nenhum material conhecido sequer pelos cientistas.

Mesmo a durabilidade do tecido impressiona. Tecidos como aquele costumam durar em torno de vinte anos; já o manto, mesmo tendo sido exposto por séculos, resistiu até a uma explosão, por causa de um atentado ocorrido em 1921.

O Santuário foi construído pelos indígenas que, para a inauguração, enfeitaram um caminho de seis quilômetros com flores, música e dança. Assim que a imagem foi transferida para o Santuário, as peregrinações começaram a chegar de todos os lugares.

A Virgem de Guadalupe é a padroeira da América Latina desde 1910, após ser proclamada pelo Papa Pio X. Sua imagem original se encontra na Basílica nova na Cidade do México. Juan Diego, por sua vez, foi canonizado em 31 de julho de 2002 pelo Papa João Paulo II.

O Santuário de Deus é a vida de todos os seus filhos

Em 2016, por ocasião de uma visita à Basílica de Guadalupe, durante a homilia na Celebração Eucarística, o Santo Papa Francisco falou sobre a história da aparição da Virgem a Juan Diego e nos lembrou da inspiração que ela nos traz: “Naquele amanhecer, Juanzito experimentou na sua vida o que é a esperança, o que é a misericórdia de Deus. Foi escolhido para vigiar, cuidar, proteger e incentivar a construção deste Santuário. Mais do que uma vez, disse à Virgem que ele não era a pessoa certa; antes, se Ela queria levar por diante aquela obra, deveria escolher outros, porque ele não tinha instrução, não era formado, nem pertencia ao grupo daqueles que poderiam realizá-la. Maria, decididamente – com a decisão que nasce do coração misericordioso do Pai –, não aceita: ele seria o seu mensageiro”.

Quantas vezes não nos sentimos “menores” diante da missão que Deus nos confia? Quantas vezes achamos que não vamos dar conta, que somos insuficientes? A história de Juan Diego nos ensina que precisamos confiar em Deus como Ele confia em nós.

Também o Papa Francisco reflete sobre a dimensão da missão de Juan:

“Todos somos necessários, sobretudo aqueles que normalmente não contam porque não estão à altura das circunstâncias ou porque não contribuem com o capital necessário para a sua construção. O santuário de Deus é a vida dos seus filhos, de todos e em todas as condições, especialmente dos jovens sem futuro, expostos a uma infinidade de situações dolorosas e arriscadas, e dos idosos sem reconhecimento, esquecidos em tantos cantos. O santuário de Deus são as nossas famílias que precisam do mínimo necessário para se poderem formar e sustentar. O santuário de Deus é o rosto de tantos que encontramos no nosso caminho…”.

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Comentários

  • LAERCIO MEN
    A mensagem que recebo da Virgem de Guadalupe é de que para Deus nada é impossível. Que todos nós somos chamados à missão de levar a Boa Nova a todos sem distinção. Na história de Guadalupe vemos também a simplicidade em que a Igreja deve estar sempre atenta, mudar padrões, simplificar a evangelização. Isso sem perder os instrumentos atuais, modernos, verdadeiras ferramentas da atualidade para testemunharmos e transmitirmos a verdadeira Fé em Cristo Jesus.

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