A maioria dos casais que decide adotar uma criança busca um recém-nascido, muitas vezes sob o argumento de que gostaria de acompanhar os primeiros momentos do filho, como o primeiro dente, as primeiras palavras ditas, os primeiros passos… Enquanto isso, nas instituições de acolhimento, o perfil de quem aguarda um lar é de crianças de mais idade e adolescentes.
Para tentar equilibrar essa situação de procura e demanda, cada vez mais é incentivada a Adoção Tardia, termo utilizado para indicar a adoção de crianças que já possuem maior desenvolvimento e autonomia, em geral, maiores de 3 anos.
O certo é que, para todos os casos, seja qual for a idade, é preciso dar todo amor e estrutura para que a criança se sinta querida, amada e pertencente à nova família. E, sim, existem vários outros momentos importantes na vida dessas crianças, igualmente repletos de alegria e descobertas, a serem vividos juntos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990) reconhece como direito fundamental de toda criança e adolescente o direito à convivência familiar e comunitária. No Brasil, o instituto da adoção é regulado pelo Código Civil, em conjunto com o Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 39 a 52-D).
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ/ES), por meio da Comissão Estadual Judiciária de Adoção, mantém o projeto “Esperando por Você”, que tem como objetivo dar visibilidade a crianças mais velhas, com alguma deficiência e grupos de irmãos, que vivem em instituições de acolhimento naquele estado e que não conseguem pretendentes, mesmo após várias tentativas no Sistema Nacional de Adoção.
O projeto disponibiliza vídeos onde as crianças e adolescente falam sobre suas qualidades, habilidades, potencialidades e sonhos. Segundo o site do projeto, desde que a campanha foi criada, 30 participantes foram inseridos em novas famílias, 21 foram adotados, 9 estão em processo de adoção, 3 em aproximação e 18 em busca.
Para conhecer mais sobre o projeto e conferir os vídeos das crianças disponíveis para adoção tardia clique aqui.
Mesmo já com três filhos, o casal curitibano Ingrid Ewert Quagliato Mendes, hoje com 53 anos, e Marcos Aurélio Sampaio Mendes, com 62 anos, sempre sonhou em adotar uma criança. Na verdade, eles pensavam em adotar até três crianças – irmãos, de preferência. Foi quando conheceram André, então com 3 anos; Emely, 5 anos; Cristofer, com 7 anos; Andréia, com 9 e Taynara, de 11 anos.
No início, até tentaram optar pela Adoção Compartilhada, adotando três e deixando os outros dois irmãos para uma outra família adotar. Só que faltou coragem de separá-los e os cinco foram adotados juntos.
Antes mesmo de conhecer os cinco irmãos, Ingrid e Marcos Aurélio estavam andando pelo Centro de Curitiba e viram umas placas com inscrição “Inadotáveis”. Ao se aproximarem para conferir, se depararam com histórias de crianças que sonhavam ser adotadas, mas sempre algo dava errado devido a alguma característica.
Um cartaz dizia: “Eu gosto de brincar, de ir pra escola, de jogar bola, mas eu tenho mais três irmãos”. No outro tinha: ‘Gosto de cantar, de dançar, mas eu sou soro positivo”. Sempre havia a história da criança e depois o que a tornava inadotável.
Aliás, eles ficaram chocados com a expressão “Inadotável”, nova para eles.
“Ali, nós decidimos que então iríamos adotar, mas adotaríamos essas crianças, uma criança com o perfil que não era desejado pela maioria. Aliás, é o que acontece hoje; a maioria quer crianças pequenininhas, ou uma só criança, e não é essa realidade das Casas Lares. Hoje em dia, nessas instituições, a maioria é adolescente, grupo de irmãos ou tem algum tipo de necessidade especial”, comenta Ingrid.
Tomada a decisão de adotar os cinco irmãos juntos, o processo de adoção foi rápido, justamente por não haver ninguém cadastrado que desejasse adotar um grupo. Em dezembro de 2013, André, Emily, Cristofer, Andréia e Taynara, mudaram para o seu novo lar.
A chegada dos cinco filhos à casa de Ingrid e Marcos alterou completamente a vida do casal. Eram muitas demandas, novas e muitas tarefas diárias, peculiaridades de cada criança, recomendações da instituição.
“Nós sofremos muito no começo. No primeiro ano, foi difícil, eu adoeci fisicamente, emocionalmente e não sabia como lidar com alguns comportamentos”, conta Ingrid, lembrando ainda que, apesar de ela e o marido terem feito um curso preparatório para adoção, sentiram a falta de algo semelhante para o pós-adoção.
Em 2015, Ingrid e Marcos conheceram algumas famílias que estavam pensando em devolver seus filhos adotados. E sempre pediam para eles conversarem com essas famílias, para passar algumas orientações e falar sobre a experiência que viviam. E eles conversavam… Só que o número de famílias foi aumentando e o casal acabou fundando a associação Chesed Pais por Adoção (lê-se Recede).
No começo, a associação atendia somente famílias que já estavam com seus filhos, mas a demanda foi ampliada e atualmente um grupo de pais se reúne toda semana para conversar sobre a adoção tardia.
Quando casais que têm receio de adotar uma criança maior usam o argumento de que o motivo seria a vontade de viver as primeiras experiências do filho, Ingrid tenta mostrar que, mesmo ao adotar um filho com idade mais avançada, o casal viverá também outras primeiras experiências com ele – ou eles.
“Nós vivemos a primeira ida à praia, a primeira ida ao shopping, a primeira vez no cinema… Então, tiveram tantas emoções quanto a primeira fala ou os primeiros passos. É somente um olhar um pouco mais ampliado, porque é emocionante tanto quanto. Você vê as conquistas desse adolescente, a primeira entrevista de emprego. São emoções que as famílias que adotam crianças ou adolescentes maiores também vivem. E são muito valorosas!”, avalia Ingrid.
Atualmente, Aryanne, filha mais velha do casal, está com 32 anos, Carolynne acaba de completar 30 anos, Rafael tem 26 anos de idade, Taynara está com 21 anos e casou, Andreia está com 19 anos, Cristofer tem 16 anos, Emely está com 15 anos e o André com 14 anos.
Para saber sobre a família de Ingrid e Marcos Aurélio, acesse o perfil agorasomosdez no Instagram.
O IDe+ também conversou com Marinho Silva, outra pessoa atuante em grupos de adoção. Advogado, professor e coordenador do curso de Direito da FAE Centro Universitário – Campus São José dos Pinhais (PR), cofundador do Grupo Romã- Grupo de Apoio à Adoção, coordenador do Programa Laços de Incentivo à Adoção da FAE e integrante da Comissão de Relações Institucional da ANGAAD – Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção e pai por adoção.
A dificuldade que existe é que não tem tanta criança disponibilizada para fins de adoção. Nem todas as crianças que estão no abrigo ou numa instituição de acolhimento, que é o nome correto, estão disponíveis para adoção. Elas estão lá, talvez provisoriamente enquanto elas aguardam a estruturação da família de origem, biológica. Então, se tem cinquenta crianças institucionalizadas, não quer dizer que cinquenta crianças estão disponíveis para adoção. É um número bem menor. Outro detalhe é o perfil da criança também que é buscada pelos pretendentes. Sessenta e cinco por cento das pessoas que estão na fila aguardando buscam crianças recém-nascidas ou até uma faixa de quatro, cinco anos.
A disponibilidade de crianças para adoção é de idade maior. São pré-adolescentes ou adolescentes, e os pretendentes não buscam. Mas mesmo assim, se por acaso um casal ou um solteiro que queira buscar uma adoção e aceita dentro do perfil pré-adolescente e adolescente, o processo deles é rápido, não passa de um ano, um ano e pouquinho. Enquanto para aqueles que esperam recém-nascidos, aí sim, a demora é maior, uma média de cinco a seis anos, em São José dos Pinhais (PR) e Curitiba (PR).
Conheça o conteúdo exclusivo da série “Adoção, um sublime ato de amor” que está disponível na Central de Podcasts da Rádio Evangelizar: clique aqui.
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