Amamentação e volta das mães ao trabalho: os benefícios e desafios do aleitamento

Momento de vínculo, formação de laço e de fornecer o que o bebê precisa, o aleitamento é responsável pelo desenvolvimento saudável da criança. O Agosto Dourado é um mês dedicado à conscientização sobre a importância dessa ato de amor. Apesar das evidências científicas e do consenso sobre os benefícios do leite materno, é também um desafio para muitas famílias por inúmeros motivos, como produção insuficiente do alimento, falta de compreensão sobre a prática e estrutura no momento de voltar a trabalhar.

O retorno ao trabalho após a licença-maternidade exige esforço redobrado e precisa de adaptações. A designer Giovana Muller, mãe da pequena Helena, que tem um ano de idade, comenta que esse período é extremamente desafiador.

“Geralmente, a mãe está com os sentimentos à flor da pele, é a primeira vez que ela ficará longe do bebê após meses juntos. E junto disso tem a questão da amamentação. Pra quem praticava a ‘livre demanda’, como eu, ficar longe da minha filha me gerou muitas inseguranças, de como mantê-la alimentada, principalmente antes da introdução alimentar, para que ela não perdesse esta fase tão importante de nutrição e vínculo. Isso só é possível quando a empresa entende a importância do aleitamento materno e disponibiliza um ambiente limpo e seguro, com privacidade, para que seja feita a ordenha da forma mais tranquila possível.”

Ela também destaca a necessidade de um espaço adequado para armazenamento do leite até que possa ser levado para casa: “Tudo isso é muito importante, pois se não há esse espaço, a mãe e o bebê podem sofrer com consequências como o desmame precoce, por exemplo”, finaliza Giovana.

Giovana e a pequena Helena./Foto: acervo pessoal.

Benefícios do aleitamento materno

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o leite materno é capaz de reduzir em 13% a mortalidade infantil, até cinco anos de idade. Também evita diarreias e infecções respiratórias, reduz os riscos de alergias, diabetes, colesterol alto, hipertensão e a chance de obesidade, além de levar a uma melhor nutrição. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que o aleitamento materno pode salvar, por ano, mais de seis milhões de bebês em todo o mundo.

No entanto, a realidade é que muitas mães enfrentam dificuldades para manter a amamentação. A Plataforma IdeiaSUS Fiocruz destaca algumas experiências inovadoras que têm incentivado o aleitamento materno em seus territórios, como a implantação de uma sala de amamentação em uma unidade de Saúde da Família, em Campina Grande, na Paraíba, e a criação da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB), em Taboão da Serra, São Paulo.

“Reduzindo a lacuna: apoio à amamentação para todos” é o tema da Semana Mundial do Aleitamento Materno de 2024 (SMAM). A campanha visa reduzir as desigualdades na amamentação e tem como foco os grupos vulneráveis. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, a duração do aleitamento materno está positivamente associada à renda. Ou seja, quanto maior a renda da família, mais tempo o bebê é amamentado. Por outro lado, quanto mais pobre a família, menos tempo o bebê recebe o leite materno.

Essa desigualdade é explicada por diversos fatores. Enquanto algumas empresas maiores estendem a licença-maternidade para seis meses, muitas mães na informalidade não têm acesso aos quatro meses previstos na Constituição. A falta de conhecimento ainda é um obstáculo, enquanto o excesso de desinformação confunde e engana. A OMS divulgou um relatório que revela que fabricantes de fórmulas infantis estão comprando ou coletando informações pessoais de novas gestantes e mães para enviar promoções personalizadas, o que pode prejudicar a amamentação.

A importância do apoio contínuo

A Pastoral da Criança atua em relação a esse tema o ano inteiro. As equipes informam, orientam e criam uma rede de apoio ao redor de mães em áreas onde, muitas vezes, o poder público não chega.

Em 2015, a SMAM destacou o tema “Amamentar e trabalhar: vamos tornar possível”. Os objetivos incluíam conectar esforços de todos os setores para permitir que as mulheres trabalhem e amamentem, desenvolver ações dos empregadores em apoio à família e incentivar ativamente as mães que trabalham a continuar amamentando. Regina Reinaldin, enfermeira da coordenação nacional da Pastoral da Criança e integrante do Comitê do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável (COAMACS), em Curitiba, explicou sobre como conciliar trabalho e amamentação e sugere que as mães comecem a ordenhar o leite 15 dias antes de retornar ao trabalho, para criar um estoque inicial.

“O melhor é retirar o leite excedente após as mamadas, ou aguardar uma hora e meia depois que o bebê for amamentado. A mãe deve procurar um local agradável, lavar as mãos, prender os cabelos e evitar falar enquanto tira o leite”, instrui.

Além disso, ela lembra da importância de as mães conhecerem os intervalos de amamentação determinados pela lei trabalhista, que são dois descansos de meia hora. Sobre como armazenar o leite, explica que a mulher pode optar por uma extração manual ou usar uma bomba extratora, que é vendida nas farmácias. O pote deve ser um recipiente de vidro com tampa e esterilizado. Deve retirar o leite e colocá-lo no pote. Se faz a retirada em casa, basta colocar no congelador da geladeira. Se retirou o leite no trabalho, deve guardar em uma geladeira e, assim que chegar em casa, colocar no congelador. No dia de dar o leite ao bebê, quem vai dar deve descongelar em temperatura ambiente e oferecer ao bebê no período em que a mãe estiver fora.