Beata Nhá Chica: vista como Santa ainda em vida, ela era filha de uma pessoa escravizada

Beata Nhá Chica: vista como Santa ainda em vida, ela era filha de uma pessoa escravizada

Uma mulher simples e analfabeta que se tornou um símbolo de devoção, caridade e milagres no Brasil. Essa é Beata Nhá Chica, que nasceu filha de uma pessoa escravizada e dedicou sua vida aos pobres e à oração, a primeira negra beatificada no país. Uma das suas relíquias – um fragmento de tecido tocado em seus ossos – está preservada na Associação Evangelizar É Preciso.

Francisca de Paula de Jesus, conhecida como Nhá Chica, nasceu em 1808 na Porteira dos Vilellas, uma fazenda em Santo Antônio do Rio das Mortes, Minas Gerais. Batizada em 1810, ela se mudou com sua mãe, Izabel, e seu irmão, Theotônio, para Baependi, levando uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Aos dez anos, Nhá Chica e seu irmão ficaram órfãos, mas herdaram da mãe uma profunda fé em Deus e uma devoção especial à Virgem Maria, que ela carinhosamente chamava de “Minha Sinhá”.

Desde jovem, Nhá Chica decidiu viver uma vida casta e se dedicou inteiramente à oração e à caridade. Sua única companhia constante era o homem que tinha sido escravizado e fora liberto, Félix, que cuidava dos afazeres domésticos e da capela que ela construiu.

Mesmo sem saber ler, Nhá Chica fazia questão de ouvir a leitura das Escrituras e compôs uma novena em homenagem a Nossa Senhora da Conceição.

Em 1865, ela mandou construir uma capela ao lado de sua casa, dedicada à Santa. No lugar, há uma pequena imagem herdada de sua mãe e se tornou um local de peregrinação e devoção. A brasileira era conhecida como a “mãe dos pobres”, pois regularmente convidava os necessitados para rezar e distribuía esmolas e alimentos.

Capela em devoção a Imaculada Conceição construída pela Beata. /Foto: arquivo do Santuário

Nhá Chica era vista por muitos como uma santa em vida. Isso porque relatos de sua intercessão e ajuda espiritual eram comuns. Um dos milagres que recebeu reconhecimento oficial foi a cura da professora Ana Lúcia Meirelles Leite, que se livrou de um grave problema cardíaco após pedir a intervenção de Nhá. Esse milagre foi essencial para o processo de beatificação.

“Eu não sou santa. Eu apenas rezo. E Deus, pela intercessão de sua mãe, atende os meus pedidos”, dizia Nhá Chica. Ela também afirmava: “Nunca senti necessidade de aprender a ler… só desejei ouvir as Escrituras Santas; alguém fez-me esse favor, fiquei satisfeita”.

Nhá Chica faleceu em 14 de junho de 1895, aos 87 anos (provavelmente, já que não há tanta certeza sobre sua data de nascimento) e seu velório foi marcado por um misterioso perfume de rosas que exalava de seu corpo. Seus restos mortais estão preservados no Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi, onde são venerados até hoje.

O Santuário, que começou como uma pequena capela construída por Nhá Chica em 1865, é um importante local de peregrinação. Em 1954, a capela foi confiada à Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor, que estabeleceu o Instituto Nhá Chica ao lado do santuário, onde é oferecida assistência social.

Em 2019, após reforma, a igreja foi elevada a Santuário./Foto: arquivo do Santuário

Beatificação

O processo de beatificação de Nhá Chica teve início em 1993 e em 4 de maio de 2013 foi oficialmente declarada beata. A cerimônia de beatificação, realizada em Baependi, atraiu milhares de fiéis, além de autoridades religiosas e civis. Ela foi reconhecida por sua profunda fé, dedicação aos pobres e pelo milagre atribuído à sua intercessão.

No Vaticano, Papa Francisco destacou o acontecimento: “Ontem no Brasil, foi proclamada Beata Francisca de Paula de Jesus, conhecida como ‘Nhá Chica’. A sua vida simples foi toda dedicada a Deus e à caridade, tanto que era chamada “mãe dos pobres”. Uno-me à alegria da Igreja no Brasil por esta luminosa discípula do Senhor”.

Em 1998, o provável milagre foi enviado ao Vaticano. Em janeiro de 2011, o Papa Bento XVI aprovou as virtudes heroicas da religiosa e designou o título de Venerável a Nhá Chica. Em outubro do mesmo ano, a comissão médica da Congregação das Causas dos Santos do Vaticano aprovou o milagre atribuído a Nhá Chica, concordando que a cura não teve explicação científica. A comissão de cardeais do Vaticano atestou o milagre em junho de 2012 e, no mesmo mês, Papa Bento XVI assinou o decreto de beatificação da brasileira.

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