Foto: reprodução site Tecpar (Hedeson Alves)
A tecnologia pode ser uma ponte decisiva para tornar a rotina mais segura, intuitiva e independente para quem vive com deficiência visual. Iniciativas têm explorado sensores, navegação inteligente e inteligência artificial para melhorar a mobilidade de pessoas cegas e com baixa visão. Entre elas está a BIA, uma bengala inteligente em desenvolvimento dentro da Incubadora Tecnológica do Tecpar (Intec), no Paraná.
Os desafios de mobilidade ainda são grandes. Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de 500 mil pessoas cegas e 6 milhões com baixa visão no Brasil. Buracos, desníveis, ausência de sinalização tátil e sonora e ambientes pouco acessíveis fazem parte da rotina. Por isso, tecnologias que antecipam riscos e auxiliam na orientação têm impacto direto na autonomia e na segurança do usuário.
A BIA está em desenvolvimento pela RTT-AI, que iniciou o projeto em 2016 quando seu fundador percebeu que soluções de radiofrequência utilizadas em outros setores poderiam ser adaptadas para apoiar a navegação de pessoas com deficiência visual. A ideia era permitir que a bengala “enxergasse” aquilo que o usuário não vê e transmitisse alertas por vibração e som.
O dispositivo é acoplado a uma bengala comum, compatível com quase todos os modelos disponíveis. Ao ser movimentado, identifica o trajeto, detecta obstáculos e reconhece pessoas, objetos, locais e ambientes. Isso acontece graças a um conjunto de tecnologias integradas:
Outro diferencial da BIA é a cerca eletrônica inteligente, que notifica familiares se o usuário ultrapassa um perímetro pré-definido. Em situações de risco, a bengala pode enviar automaticamente sua localização e até uma mensagem de voz, garantindo resposta rápida e maior tranquilidade para a família.
A solução também se integra naturalmente às estruturas de cidades inteligentes, como semáforos sonoros, sensores urbanos e sistemas conectados de mobilidade, o que amplia ainda mais sua precisão no espaço urbano.
Nas ruas, a bengala reconhece pontos de ônibus, prédios públicos, clínicas, bancos e comércios, e ajuda o usuário a interpretar o entorno. Em ambientes internos, identifica salas, consultórios, comércios, elevadores e sanitários, o que torna a navegação mais autônoma e confiável.
Embora não busque substituir o uso tradicional da bengala, a BIA pode facilitar especialmente a adaptação de crianças e pessoas que estão começando a utilizá-la, além de beneficiar usuários mais jovens e economicamente ativos que precisam se deslocar com independência para trabalho e estudo.
A bengala integra RFID (Identificação por Radiofrequência), tecnologia que usa ondas de rádio para identificar objetos sem contato visual, com algoritmos de inteligência artificial. Essa combinação permite reconhecer obstáculos, inclusive acima da linha da cintura, e interpretar o ambiente com maior precisão.
Selecionada no edital mais recente de incubação do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), a RTT-AI passou a atuar como empresa residente, com escritório dentro do instituto e acesso aos recursos do Creative Hub: laboratório, equipamentos eletrônicos, soldagem, impressão 3D de protótipos e testes especializados.
A fase atual consiste em unificar todas as tecnologias em uma única placa de processamento, etapa essencial para a certificação e evolução do produto.
A BIA obteve reconhecimento no 1º Concurso Público de Inovação do Paraná – Desafio de Inovação: Bengalas Inteligentes, iniciativa da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) junto ao Governo do Estado do Paraná. O objetivo do concurso é premiar protótipos de bengalas ou dispositivos conectados capazes de antecipar obstáculos acima da linha da cintura.
A mobilidade de pessoas com deficiência visual ainda impõe desafios, mas iniciativas como a BIA revelam que a inovação pode transformar trajetos e abrir novos caminhos de independência.
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.