Quando a prata fez Kutná Hora prosperar, a cidade da República Tcheca quis traduzir essa riqueza em arquitetura. Nasceu então a Igreja de Santa Bárbara, dedicada à padroeira dos mineiros, que passou a ser sinal da fé e da vocação daquela comunidade. Declarado Patrimônio Mundial pela Unesco, o conjunto histórico expressa a relação entre trabalho, arte e devoção.
A construção da Igreja de Santa Bárbara começou em 1388. O primeiro arquiteto ligado ao projeto foi Johann (Jan) Parler, da família Parler, responsável também por trabalhos em São Vito (Praga). As obras foram interrompidas repetidas vezes, sobretudo pela turbulência de guerras, e só foram concluídas no fim do século XIX e início do XX, com a restauração e finalização entre 1880–1905, feitas por por Josef Mocker e Ludvík Lábler. Essa longa cronologia explica por que a igreja reúne elementos do alto gótico original e soluções posteriores de restauração historicista.
A planta inicial previa uma igreja ainda maior, mas o declínio econômico da cidade levou à redução do projeto. Mesmo assim, o resultado impressiona: abóbadas estreladas, capelas radiais que criam um efeito quase escultórico e um jogo de luz que favorece a contemplação.
Vitrais e fragmentos de afrescos medievais sobrevivem no interior e retratam tanto a devoção quanto aspectos da vida urbana da antiga comunidade mineradora.
Integrada ao complexo, a Capela do Corpo de Cristo (Corpus Christi) amplia a compreensão da espiritualidade local, revelando usos litúrgicos próprios da época.
Na Igreja, há a história das minas de prata, da riqueza que moldou a cidade, das crises que pararam obras e das respostas artísticas que retomaram projetos antigos. Para o visitante de fé, a igreja é também lembrança do trabalho humano abençoado e da proteção pedida pelos que arriscavam a vida no subsolo.
Kutná Hora só existe como a conhecemos por causa da mineração. A descoberta dos ricos veios de prata, no fim do século XIII, transformou a região em uma das mais prósperas da Boêmia. No século XIV, tornou-se cidade real, com edifícios públicos, residências nobres e templos que expressavam a força econômica e espiritual da época.
Santa Bárbara, com essa imponência gótica, e a Catedral de Nossa Senhora em Sedlec, restaurada no século XVIII por Jan Blažej Santini em estilo barroco gótico, influenciaram a arquitetura da Europa Central. Ambas dominam um centro histórico que preserva ruas medievais, casas góticas e barrocas e estruturas urbanas praticamente intactas.
O reconhecimento internacional se deve a dois aspectos centrais:
Critério (ii): o conjunto urbano apresenta obras de altíssima qualidade arquitetônica e artística, especialmente a Igreja de Santa Bárbara, cuja concepção influenciou desdobramentos arquitetônicos em toda a Europa Central.
Critério (iv): Kutná Hora é um exemplo de cidade medieval cuja riqueza e evolução urbana foram determinadas pela exploração da prata. Essa identidade se reflete nos edifícios religiosos, administrativos e residenciais que compõem o centro histórico.
A cidade mantém seu desenho medieval original, confirmado por levantamentos científicos que revelam estruturas góticas preservadas. A autenticidade do local é considerada excepcional.
Além das grandes catedrais, outros pontos completam a experiência:
Vlašský dvůr (Pátio Italiano): antiga corte real e casa da moeda, símbolo direto da economia da prata.
Capela Real: gótica, com interior de grande refinamento.
Igreja de São Tiago: com mobiliário e elementos do final do gótico.
Hrádek: pequeno castelo preservado quase integralmente, exemplo raro de residência nobre medieval.
A legislação tcheca classifica a Igreja de Santa Bárbara como monumento cultural nacional, o que garante o mais alto nível de proteção. A Catedral de Sedlec e grande parte dos edifícios históricos da cidade também recebem proteção oficial.
Relatórios anuais de monitoramento, desde 2000, orientam a conservação do sítio, e qualquer intervenção no centro histórico passa por análise técnica específica. Assim, Kutná Hora mantém viva sua identidade visual e espiritual.
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