Tudo pronto para tirar a foto: a pose perfeita, uma luz incrível, Instagram aberto. Mas, espere: falta selecionar o filtro para ter o clique que vai gerar centenas de curtidas, comentários e reações. Com a tecnologia, as imperfeições desaparecem e um mundo impecável surge ali, ao alcance das mãos, com edições na cor da pele, formato de rosto e várias outras mudanças na aparência de quem usa o artifício. Mas, e fora dos filtros? Você está bem com o seu rosto e o seu corpo ou prefere a “ajudinha” deles?
Uma pesquisa encomendada pela Allergan Aesthetics para a campanha “Assuma sua Imagem” mostrou que 94% dos brasileiros concordam que o uso constante dos filtros pode impactar na autoestima. Já 58% admitem que o nível de cobrança estética pessoal aumentou perante o que viam nas redes sociais. Neste cenário, em entrevista ao podcast Futuro da Saúde, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Dênis Calazans, fala sobre a influência dos filtros do Instagram na busca por um padrão de beleza irreal.
“Os filtros podem causar uma certa distorção. Não são raras as vezes em que pacientes chegam ao consultório com fotografias dizendo: ‘gostaria que meu nariz ficasse exatamente como esse’ ou ‘que minha mama fique dessa forma’. Antes, eu via pessoas com revistas nas mãos. Hoje, essa nova geração chega com o celular”, relata Dênis.
O agravante é que essas referências podem impactar negativamente também a saúde mental de quem já lida com problemas de autoestima e a busca por um padrão estético inalcançável. O tema é um dos abordados pela campanha Janeiro Branco, em ação na sociedade durante este mês para chamar a atenção para as necessidades relacionadas ao bem-estar psicológico de cada indivíduo.
O professor de Psicologia da Estácio Jefther Felipe Lima alerta que a frequência do uso de filtros nas redes sociais pode fazer com que, em casos mais graves, a pessoa passe a se enxergar de forma diferente do que é na realidade: ou seja, ter uma distorção de sua autoimagem.
“Em casos menos graves, mas ainda assim dignos de cuidado, pode gerar frustração, tristeza e angústia relacionadas à aparência física”, explica.
Segundo o profissional, essa busca exagerada pode ser frustrante, já que ninguém é perfeito e o que é bonito hoje pode mudar amanhã. “A História nos mostra como as perspectivas do que é belo mudaram, mudam e mudarão constantemente, bem como são muito diversos nas diferentes sociedades”, ressalta.
O docente também reforça que os filtros buscam corrigir características físicas que não devem ser vistas como imperfeições, pois “cada indivíduo carrega detalhes únicos, tanto emocionais quanto físicos, e que não deve haver um padrão fixo e duradouro de beleza a ser seguido por todos”.
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