Como saber se uma inspiração vem de Deus ou é apenas fruto dos nossos próprios pensamentos? Essa é uma das reflexões mais necessárias e também desafiadoras da vida cristã. Discernir a ação do Espírito Santo não é uma tarefa simples, mas com oração, formação e busca, é possível reconhecer os sinais da presença divina que conduz, transforma e santifica. Duas religiosas — Irmã Zélia Garcia Ribeiro, da Copiosa Redenção, e Irmã Neide Puel, das Filhas de São Paulo (Paulinas), compartilham orientações sobre como identificar e seguir.
Como explica Irmã Zélia, essa dúvida é natural: “Nossa humanidade sempre vai gritar mais alto. Então é normal que surja essa incerteza”. Mas há um critério seguro: o caminho de Deus, conduzido pelo Espírito, exige renúncia, esforço e fidelidade.
“Eu aprendi com meu fundador, Padre Wilton Lopes, que me dizia assim: ‘um caminho que exige penitência, sacrifício, esforço, esse caminho é sempre do Espírito Santo. É aquele mais difícil, de porta estreita. Além disso, Deus usa o Sacerdote, usa da Igreja para confirmar aquilo que Ele já confirmou no meu coração”.
Irmã Zélia./Foto: arquivo pessoal
Já o caminho de facilidade, sem renúncia, vai ser sempre humano. E como saber se é uma ação do demônio? É quando entra o espírito de confusão, de discórdia, um espírito maligno, que afasta do que é de Deus e traz a sensação enganosa de autossuficiência em relação ao Senhor.
Irmã Neide explica que o Espírito Santo vem em nosso auxílio ao nos deixarmos guiar pela vontade de Deus.
“A ação do Espírito Santo se torna visível ao nosso redor quando sentimos serenidade e confiança. E isso se dá quando acontecem transformações significativas e importantes para o bem de todos”, orienta.
Irmã Neide./Foto: arquivo pessoal
Esse discernimento também envolve perceber os frutos, como explica Irmã Zélia: “os frutos do Espírito Santo — paz, alegria, bondade — sempre sinalizam o que vem de Deus”. Em contrapartida, há sinais claros de que uma inspiração não procede do Espírito. Quando surge confusão, discórdia ou a ideia de que não é preciso rezar, ir à Santa Missa, ou obedecer à Igreja, é sinal de que não é o Espírito Santo, mas a nossa humanidade ou mesmo o inimigo tentando nos desviar.
Para escutar ou sentir com clareza o Espírito Santo, é preciso cultivar uma vida espiritual coerente. Irmã Zélia orienta: “estar em estado de graça, com a confissão em dia, vigilante na conduta, com intimidade com os sacramentos e com desejo sincero de conhecer a Deus”.
O discernimento autêntico não acontece de forma isolada, mas sempre em comunhão com a Igreja.
“Para eu reconhecer a ação do Espírito Santo, em primeiro lugar, eu preciso estar em estado de graça, confissão, porque o Espírito Santo fala com muita clareza, mas o meu coração precisa estar atento. Para ele estar atento, ele tem que estar na luz. A partir do momento que eu tenho uma confissão, com frequência, tenho vigilância da minha conduta de vida. Se a minha conduta de vida é de coerência, de intimidade com os sacramentos, com a Igreja e eu sou uma pessoa que desejo verdadeiramente conhecer mais Deus, lendo bons livros de santos, dos mártires, de documento da Igreja, conhecendo a minha Tradição, a Palavra, a doutrina, então, o que acontece? Eu vou crescendo nesta intimidade com o Espírito Santo e vou tendo um discernimento, uma escuta com muito mais convicção”, detalha Irmã Zélia.
A religiosa esclarece ainda que esse reconhecimento pode acontecer não apenas sobre suas próprias intuições e decisões, mas sobre o que está ao redor, seja por meio de alguém ou de uma situação. Primeiramente, pela paz experimentada.
A ação do Espírito Santo gera transformação e conversão. Logo, como há frutos de bem, de perdão, de misericórdia e amor, fica mais fácil discernir. Irmã Neide acrescenta que quando sentimos tranquilidade e paz, significa que o Espírito Santo age em nós. Já “quando a dúvida e o medo prevalecem, é porque o limite humano não permitiu a ação plena do Espírito”.
“O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl 5,22-23).
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