Compositora que ganhou festival VEM conta como criar uma música de sucesso

No mês em que se comemora o Dia do Compositor (7), o IDe+ conversou com a vencedora do Festival VEM – Voz, Evangelização e Música 2023 para descobrir como chegou à composição de “Meu Lugar”, que emocionou a todos. 

Camila Paulino Fragoso é professora de música e diretora da Escola de Música Musart. Tem 21 anos de idade e mora em Fraiburgo, Santa Catarina. A participação no VEM foi responsável por uma grande mudança em sua vida, não só por ter vencido, mas por todas as experiências vividas no decorrer do festival. Bem como o encontro com novas pessoas que transformaram sua forma de pensar e agir. Suas decisões hoje são direcionadas a servir ao Pai. Ela está cada vez mais segura de que evangelizar é o propósito para sua vida.

O Vem 2023 foi uma de suas primeiras experiências como compositora. Sua vivência anterior se deu em uma canção secular, no ritmo sertanejo. Como curiosidade, a jovem conta que, quando criança, tinha um fichário de anotações onde escrevia suas músicas, com a simplicidade de uma criança. Porém, depois de um tempo, deixou de escrever suas canções e isso ficou guardado para si até saber do festival.

Após o VEM, Camila voltou a compor, como se tivesse “destravado” um dom que Deus lhe deu, segundo suas palavras. O Festival reavivou seu talento para criar canções, por isso hoje se considera compositora de músicas cristãs católicas. 

“Meu foco atualmente é trabalhar em cima da música católica porque é uma forma de evangelizar, de falar a Palavra de Deus, de mandar a mensagem de Deus através da música”, informa a professora.

Seu processo criativo não obedece sempre a uma mesma ordem. Na canção vencedora do VEM, por exemplo, ela conta que primeiramente rezou a Deus e pediu ao Espírito Santo que a inspirasse, para que fosse algo que viesse do Pai e não de sua vontade:

“Eu me baseei numa experiência que eu tive. Então, foi uma experiência que eu vivi na minha vida. A partir dessa experiência, eu tive inspiração sobre a letra. Mas, antes da letra, Deus me suscitou a melodia da canção.”

Canção vencedora

Algo bastante inusitado é que, no dia que compôs “Meu Lugar”, seus violões estavam na escola de música. Em casa, onde pensava na melodia para o festival, havia apenas um violão com três cordas. E foi esse o instrumento utilizado. 

A catarinense pensa que não há um único local onde uma composição pode surgir:

“Quando é inspiração de Deus, ela pode vir em qualquer lugar, seja numa oração, seja dentro da igreja, seja numa conversa com um amigo… Acho que a inspiração do Espírito Santo pode vir em qualquer lugar. Mas, se eu pudesse escolher um lugar, com certeza, eu escolheria a minha casa, que é um lugar que eu me sinto confortável.”

Para a compositora, as influências musicais alteram a estrutura da música, porque o que escutamos fica como memória auditiva, o que intervém na melodia, na construção da letra, ou seja, as características do que se costuma ouvir podem ser transmitidas para uma criação.

Enquanto trabalha numa composição, Camila faz uso apenas de um dicionário e de um gravador, onde vai, aos poucos, registrando os trechos desenvolvidos. Depois, ouve as gravações e realiza ajustes. Para ela, uma dica é manter as gravações guardadas por alguns dias, uma semana, por exemplo. Após o período, aponta que é importante ouvir novamente e verificar se ainda quer manter como inicialmente criado. Às vezes, é importante se permitir mudar de ideia e refazer a composição – ou, pelo menos, trechos dela. 

Foto: Felipe Gusso

Fórmula de sucesso

O IDe+ perguntou se existe alguma fórmula para compor uma canção de sucesso. Camila expõe que hoje a música virou um produto comercial. Para esses casos, existem algumas técnicas, como o uso de melodias mais simples, de memorização mais fácil (geralmente composta por quatro acordes), com letras de objetivos mais claros e diretos. De acordo com a professora, canções nesse estilo têm boa chance de serem lembradas e isso pode levar ao sucesso. Entretanto, não significa que todas as canções precisam seguir essa ideia. 

“Acredito que a música que vem de Deus tem que ser totalmente inspirada nos planos de Deus, e não que ela seja comercial, ela não precisa ser comercial. Ela tem que ser algo que fale sobre a mensagem Dele, né, para as pessoas, indiferente se vai fazer sucesso para milhões de pessoas. Se ao menos tocar um só coração, já valeu a pena.”

Além de rezar pelo propósito de criar uma canção cristã e pedir a inspiração total do Espírito Santo, a jovem ressalta que é importante estar atento às vivências que temos com o Pai, ou até mesmo as vivências dos nossos irmãos. O testemunho de alguém da comunidade pode inspirar histórias lindas a serem contadas em versos. Acima de tudo, é preciso ser verdadeiro, declara Camila, que defende não ser possível cantar sobre algo que não se vive ou não se acredita.

“As pessoas precisam escutar a verdade. As pessoas hoje em dia têm medo falar sobre a verdade por serem julgadas”, reflete. “Falem mais sobre o nome de Jesus, falem mais sobre o que nós devemos fazer para sermos cristãos corretos e não falem somente sobre o ‘eu'”, afirma.

Por essa linha de pensamento, o uso de Inteligência Artificial (IA) na composição de canções é descartado pela compositora, uma vez que a criação não teria origem na verdade interior de uma pessoa, do sentimento de um ser humano, de sua experiência com Deus. Mesmo que a IA apresente letras e melodias bonitas, não são letras e melodias verdadeiras, na opinião da compositora.

Para o futuro, Camila tem planos de seguir aquilo que lhe for destinado pelo Senhor. Parcerias com outros artistas já estão em andamento, projetos com crianças começam a se desenhar. 

“Estou entregando tudo a Deus, para que seja por Ele, para Ele e com Ele”, conclui.