Referência humana na Bíblia, Adão foi o primeiro homem criado pelo Senhor e sua história, desde então, é carregada de simbolismo e reflexões. E se vamos falar da primeira criação de Deus, é necessário, de fato, começar pelo início de tudo. Sendo assim, como Deus fez Adão?
A resposta está no livro de Gênesis (2): Deus, durante os sete dias de criação do mundo, decidiu criar o ser humano à Sua imagem e semelhança. Ao falar desse momento belo da criação, Padre Reginaldo Manzotti lembra que o Pai disse:
“Os seres humanos serão como nós e serão parecidos conosco. À imagem e semelhança de Deus. Deus determinou que poderíamos comer peixes, animais. Deus criou homem e mulher e os abençoou, Deus nos fez bons”, acrescenta o Sacerdote. Essa criação foi em meio ao Jardim do Éden.
“E então, do pó da Terra, o Senhor formou o ser humano. O Senhor soprou no nariz dele uma respiração de vida, e assim, ele se tornou um ser vivo” (Gênesis, 2,7).
“Fomos feitos com a melhor parte do solo”, lembra Padre Reginaldo, que também pondera sobre a existência de Eva, quando Deus viu que não era bom que o homem ficasse sozinho e criou sua companheira, como carne de sua carne, a partir da igualdade.
A criação de Adão, oriunda do pó, faz jus ao seu nome. Embora não seja possível apontar o significado de maneira precisa, já que o hebraico não era o idioma utilizado em sua época, os intérpretes sugerem algumas possibilidades.
Entre elas, está que Adão significa “homem vermelho” ou apenas “vermelho”. Outros defendem que é derivado de raiz dama, que remete a “ser como” ou “semelhança” (talvez em referência a Gênesis 1,26 e 5,1). Nesse viés, corresponderia a “semelhante”.
Longe de ser relacionado a algo ruim, Adão é um belo e imponente nome. Atualmente, pode ser encontrado, em maior quantidade, nos registros de países como Angola, Portugal, Brasil e Cabo Verde.
Como uma figura histórica, a narrativa de Adão é alvo de inúmeras pesquisas e discussões, inclusive atuais, tanto sobre sua missão quanto sobre sua existência e relação com o surgimento do mal.
Para a historiadora Marta Savi, embora não existam registros históricos que sejam capazes de confirmar a existência de Adão tal qual descrito no livro do Gênesis, é importante ressaltar que as ausências de comprovações científicas dessa figura não são capazes de afastar a função religiosa e educacional da narrativa.
A pesquisadora destaca que, embora hoje seja sabido que os homens não são feitos de barro e que a humanidade não se originou de apenas duas pessoas, o relato bíblico é imbuído de ensinamentos religiosos por meio de parábolas.
“A intenção não foi a de explicar cientificamente, mas sim dar vazão à explicação teológica da origem dos seres humanos. O ensinamento não é sobre como surgiu a humanidade – explicação que cabe à ciência – mas sim de onde. E a resposta para essa pergunta é a mesma, independentemente da ciência: o homem e a mulher – sagrados e únicos – vieram das próprias mãos do Criador, que os moldou à Sua imagem e semelhança”, pondera.
Após sua criação, Adão tinha a missão de guardar o Jardim do Éden, proteger o sagrado e o lugar criado e habitado por Deus. Sua falha nesse processo, para Marta, não deve ser associada unicamente como a origem do mal no mundo.
“Lemos no Gênesis que a Árvore da Ciência do Bem e do Mal carregava com ela uma consequência – o banimento do Paraíso ou, em outras palavras, a possibilidade de finitude, a morte. Quando Adão e Eva provam do chamado fruto proibido, encaram a consequência de deixar o Jardim criado por Deus e são exilados para fora dos portões, destinados a viver, então, uma vida de privações (como, por exemplo, de alimentos) e sofrimentos (como, por exemplo, a sina de presenciar o assassinato entre seus filhos)”, relembra a historiadora.
Desse modo, para Marta, é possível encarar que “a expulsão de Adão e Eva do paraíso pode ser a origem do mal no mundo, mas, no meu entendimento, a partir da perspectiva do conhecimento. É a partir deste momento que a humanidade passa a ter o conhecimento do mal e, agora reconhecido, o mal passa a existir de fato”, afirma Marta.
O comportamento, escolha e as consequências advindas das ações de Adão e Eva não significam, necessariamente, uma demonstração do perigo do livre arbítrio.
“Não houve, por parte do Criador, qualquer proibição de consumo. Houve um alerta sobre o efeito posterior. Ora, uma vez que existe a disponibilidade e o alerta da consequência, é possível entender que Adão e Eva eram livres para escolher consumir aquele fruto ou não”, considera a historiadora.
Ao relembrar que depois de consumirem o fruto da árvore da Ciência do Bem e do Mal, de imediato, Adão e Eva se deram conta de sua nudez, passando a sentir vergonha dela, a historiadora associa a nudez não à questão física, mas de consciência.
“A partir do momento que nos tornamos conscientes da existência de bem e mal, não é mais possível nos considerar isentos de pecados ou mesmo inocentes perante males que nos rodeiam. É, também, uma forma de nos tornarmos responsáveis por nossas escolhas – por nosso livre-arbítrio. Há, no meu entender, um claro vínculo entre a nudez da parábola (nudez essa que é inerente a todos nós) e nossa própria condição de pecadores, de modo a servir de alerta para que procuremos, com nosso livre-arbítrio, sempre as atitudes mais condizentes com a crença cristã”, finaliza Marta.
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