Desde o Velho Testamento, o sofrimento de quem tinha “lepra” foi retratado — a doença hoje é chamada de hanseníase. Naquela época, havia pouca compreensão sobre prevenção, contágio e tratamento. As pessoas que sofriam viviam afastadas da sociedade e deixadas à margem. Considerada uma das doenças mais antigas da humanidade, a hanseníase não tem uma origem precisa, mas sabe-se que é conhecida há mais de quatro mil anos na Índia, China, Japão e Egito.
Em Levítico 13, 45-46, há um exemplo de como quem tinha essa doença era tratado à época: “Todo homem atingido pela lepra terá suas vestes rasgadas e a cabeça descoberta. Cobrirá a barba e clamará: Impuro! Impuro! Enquanto durar o seu mal, ele será impuro. É impuro; habitará só, e a sua habitação será fora do acampamento”. Porém, quando Jesus viveu entre as pessoas, tratava esses doentes de uma forma totalmente diferente do que era comum naquele período, com compaixão e atenção (Mateus 8,1-34).
De lá pra cá, a doença não desapareceu totalmente, mas muita coisa mudou e há cura. A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa, que afeta os nervos e a pele e é causada por um bacilo chamado Mycobacterium leprae. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2022, mais de 17 mil novos casos de hanseníase foram diagnosticados no Brasil — número bem próximo ao do ano anterior.
Hoje, os tratamento são eficazes. O que ainda precisa avançar é a conscientização para que as pessoas consigam se tratar e o preconceito acabe. Desde 2009, a lei nº 12.135 estabelece o último domingo de janeiro como o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. A data é um momento de reforçar a atenção aos sintomas e informar sobre os tratamentos disponíveis na rede pública de saúde.
Ao longo dos séculos, a hanseníase também foi confundida com outras doenças de pele como psoríase, impetigo e escabiose, por exemplo.
A situação de muitos países em relação à hanseníase ainda preocupa.
“Infelizmente, o estigma ligado a esta doença continua a causar graves violações dos direitos humanos em várias partes do mundo”, alertou Papa Francisco em 2023, no Dia Mundial de Combate a Hanseníase.
Em 2021, segundo a Associação Italiana de Amigos de Raoul Follereau (Aifo), o número anual de pessoas diagnosticadas aumentou em mais de 10%, assim como o de pessoas com deficiências graves já no momento do diagnóstico. Como mostram as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 140 mil novos doentes são acrescentados aos 3,4 milhões que vivem com a doença ou suas consequências.
Além disso, como reforça o Vatican News, o preconceito com os que sofrem dessa doença continua a existir. A Igreja pede que ninguém esqueça os irmãos e irmãs que precisam de apoio e não ignore esse mal, “que infelizmente ainda afeta tantos, especialmente em contextos sociais mais pobres”, declarou o Pontífice.
A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase, na forma infectante e sem tratamento, elimina o bacilo através de espirro ou tosse, e infecta assim pessoas suscetíveis por contato próximo e prolongado. Não é transmitida por objetos.
A identificação é feita por exames físico, dermatológico e neurológico. Casos com suspeita de comprometimento neural, sem lesão cutânea evidente, são encaminhados para unidades de saúde mais complexas.
Ao confirmar a hanseníase, é necessário avaliar contatos domésticos, que têm três vezes mais risco de contrair a doença. Em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a oferecer testes para ajudar na avaliação. O diagnóstico precoce é essencial para iniciar o tratamento, cessar a transmissão e prevenir incapacidades físicas.
O SUS oferece tratamento em unidades básicas de saúde. A Poliquimioterapia Única (PQT-U), uma combinação de três antimicrobianos, é eficaz e reduz o risco de resistência. A bactéria não é mais transmitida após a primeira dose. O acompanhamento ocorre em consultas mensais, com a possibilidade de encaminhamento para centros de referência em casos específicos.
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