“Ouviste uma palavra contra o teu próximo? Abafa-a dentro de ti; fica seguro de que ela não te fará morrer. Por causa de uma palavra irrefletida o tolo estorce-se de dores, como uma mulher que geme para dar à luz. Como uma flecha cravada na gordura da coxa, assim é uma palavra no coração do insensato.” Eclesiástico 19 (10-12).
Diante das leis de Deus e dos preceitos da nossa religião católica, a fofoca pode abranger dois pecados: o da maledicência e o da murmuração. Revelar os pecados e os defeitos de uma pessoa para ferir a sua fama e a sua honra significa maledicência.
A maledicência é pecado, porque fere as virtudes da justiça e da caridade, segundo o Catecismo da Igreja Católica. É necessário que o cristão seja conduzido pela caridade, o vínculo da perfeição, tanto para falar sobre algo quanto para ficar calado a respeito de alguma coisa (Cl 3,14).
De acordo com São Tomás de Aquino, privar outrem de sua reputação é muito grave, porque a reputação é o mais precioso entre os bens temporais e, com a sua falta, o homem se acha na impossibilidade de praticar muitos bens. Ressalte-se que seria impossível viver bem dentro de uma comunidade se não houvesse a devida confiança na honra de cada um dos seus membros.
Além da maledicência, a murmuração também é pecado quando há a revelação dos pecados e dos defeitos de alguém para destruir uma amizade. Segundo São Tomás de Aquino, a murmuração é mais grave que a maledicência, tendo em vista que a amizade é um bem muito maior que a boa fama. De acordo com esse santo, um amigo é o mais precioso entre os bens exteriores.
Saliente-se que o Papa Francisco já dedicou seus discursos, no precioso momento do Ângelus, para alertar sobre os malefícios da fofoca e pedir fraternidade e discrição diante da percepção e da correção dos erros de uma pessoa.
Eis aqui as palavras do Papa Francisco sobre a fofoca: “As fofocas fecham o coração à comunidade, impedem a unidade da Igreja. O grande fofoqueiro é o diabo, que sempre sai dizendo coisas ruins dos outros, porque ele é o mentiroso que tenta desunir a Igreja, afastar os irmãos e não fazer comunidade. Por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar. A fofoca é uma peste pior que a Covid (palavras proferidas pelo Papa Francisco no Ângelus de 6 de setembro de 2020, 23º domingo do Tempo Comum, na Praça São Pedro)”.
Conforme discurso do Papa Francisco, o ser humano, geralmente, apresenta a tendência de contar aos outros aquilo que ele vê de errado em alguém. Mas, a fofoca contraria os ensinamentos de Jesus sobre a correção discreta e fraterna do irmão que cometeu um erro.
Se vemos alguém cometer um erro, devemos praticar a “pedagogia de recuperação”, proposta por Jesus em seu tempo. Não devemos fofocar sobre os erros de uma pessoa, mas também não devemos ignorá-la e “lavar as mãos” diante dos seus erros e sofrimento (nenhuma dessas atitudes é cristã).
Devemos ir até o irmão com discrição para ajudá-lo a perceber o seu erro, sem julgamentos da nossa parte, pois deve haver uma atitude de acolhimento e recuperação do irmão, para o bem da sua salvação e da sua vida saudável em comunidade. Não devemos colocar os pecados de uma pessoa em praça pública, mas avisar sobre os seus erros em particular, numa atitude de correção fraterna.
Muitas vezes, não temos coragem o suficiente para corrigir fraternalmente um irmão, pois temos medo de que ele reaja mal, ou não sentimos que há verdadeira confidência ou intimidade entre nós. Contudo, não devemos ter medo de um diálogo franco e fraterno com o nosso irmão.
Enquanto a fofoca destrói a amizade, a correção fraterna a fortalece. Muito embora a pessoa possa apresentar alguma raiva momentânea diante dos nossos conselhos fraternos sobre os erros dela em particular, posteriormente ela nos agradecerá por termos aberto os seus olhos, se sentirá acolhida pela comunidade e até reconhecerá, em muitos casos, com alegria, que o nível de confidência na amizade foi fortalecido na correção fraterna.
Todos nós podemos errar alguma vez e é bom que alguém possa “abrir os nossos olhos” e apontar os nossos erros de forma fraterna. A pessoa que verdadeiramente nos ama, nem sempre dirá apenas coisas agradáveis, e a correção fraterna também pode ser uma face do amor.
O Papa pediu a Nossa Senhora que nos ajudasse a fazer da correção fraterna um hábito saudável, para que, nas nossas comunidades, possam sempre ser estabelecidas novas relações fraternas, baseadas no perdão recíproco e, sobretudo, no poder invencível da misericórdia de Deus.
Devemos ressaltar que a fofoca, além de ser um pecado que deve ser evitado pelos cristãos, por contrariar as leis de Deus, também pode configurar um crime dentro das leis dos homens. Em muitos casos, a fofoca pode se caracterizar difamação, a qual é um crime contra a honra, de acordo com o Código Penal, assim como a calúnia, que também é um crime proveniente da fofoca. Falamos sobre os crimes oriundos da fofoca no meu texto anterior.
Portanto, vamos ficar longe de fofocas! E que jamais façamos fofoca sobre os nossos irmãos e irmãs. A fofoca não é algo inofensivo. Ela é um pecado destrutivo para a comunidade, uma maledicência que contraria as leis de Deus e uma geradora de crimes contra a honra puníveis pelas leis humanas. Diante dos erros de um irmão no seio da sociedade, devemos optar sempre pela discrição, seguida de acolhimento e correção fraterna, como aconselhou o Papa Francisco.
“Repreende o teu próximo antes de ameaçá-lo e dá ensejo ao temor do Altíssimo.” Eclesiástico 19,17.
“O sábio permanece calado até o momento oportuno, mas o leviano e imprudente não espera a ocasião. Aquele que se expande em palavras, prejudica-se a si mesmo; quem se permite todo o desregramento torna-se odioso.” Eclesiástico 20,7-8.
*Fonte:
*Discurso do Papa sobre a fofoca:
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.