“É pecado dançar balé?” – a pergunta pode soar curiosa, mas revela preocupações reais de quem deseja viver com fidelidade à fé cristã. Dando continuidade à série “É pecado?”, o IDe+ ouviu o seminarista Marcos Bruno Fernandes, da Área Missionária Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (RN), para ajudar a esclarecer essa dúvida com a devida reflexão.
Antes de qualquer resposta direta, é importante entender o que a Igreja ensina sobre o pecado. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, o pecado é “uma falta cometida contra a razão, a verdade e a consciência reta. É uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo” (§1849). Trata-se de um ato consciente e livre, contrário à lei eterna de Deus. Assim, a resposta à pergunta sobre o balé depende de algo fundamental: a intenção.
“O pecado está sempre ligado à intenção e à liberdade do ato. Ou seja, algo se torna pecado quando a pessoa, de maneira livre e consciente, escolhe algo contrário à vontade de Deus, ferindo o amor a Ele ou ao próximo. Dançar balé, em si, não é pecado. Como qualquer manifestação humana, a dança pode ser expressa de maneira bela e digna ou, eventualmente, usada de forma indevida. O que importa é o contexto, a intenção e os valores que estão por trás daquilo que se faz”, explica o seminarista.
A visão da Igreja sobre a arte é, inclusive, muito positiva. O Concílio Vaticano II reconhece que as expressões artísticas podem elevar o espírito humano e conduzi-lo ao encontro com Deus.
“A dança, quando respeita a dignidade da pessoa humana e serve como expressão da beleza, da cultura e até da espiritualidade, é perfeitamente válida”, afirma o seminarista Marcos Bruno.
Ele lembra que, em algumas culturas, inclusive, existem tradições litúrgicas nas quais a dança é uma forma legítima de louvor a Deus.
Papa Francisco já abordou o tema do pecado ao lembrar que ele “é uma das modalidades com que nós nos afastamos de Deus; mas isto não significa que Ele se afaste de nós”. A gravidade de um pecado está relacionada à liberdade com que se escolhe cometê-lo e ao peso da matéria envolvida. A Igreja classifica os pecados como veniais (leves, que não rompem nossa amizade com Deus) e mortais (graves, que nos afastam da graça divina). No caso do balé, é claro que não se trata de algo pecaminoso por natureza. A dança só se tornaria um pecado se envolvesse, por exemplo, intenções imorais, escândalos ou desrespeito à dignidade própria ou alheia.
Para os jovens, que muitas vezes se veem divididos entre a vivência da fé e as expressões da cultura contemporânea, esse tipo de esclarecimento é essencial.
“Os jovens buscam sentido, beleza e autenticidade. Quando a Igreja se mostra aberta ao diálogo com a arte e com as expressões legítimas da cultura, ela se torna mais próxima, mais humana e, portanto, mais atraente”, afirma o seminarista.
Ele reforça que condenar de forma genérica algo como a dança pode afastar corações sinceros que, por meio da arte, poderiam até mesmo se aproximar de Deus.
Por isso, a resposta à pergunta “É pecado dançar balé?” é: não, dançar balé não é pecado. O que define o pecado não é o ato isoladamente, mas a liberdade, a intenção e as consequências desse ato.
A arte, quando vivida com responsabilidade e respeito, pode ser um dom, uma linguagem de beleza e até uma prece. O balé – assim como tantas outras expressões artísticas – pode se tornar um caminho de louvor e de demonstração da beleza da criação. E onde há beleza, há reflexo do Criador.
O IDe+ retoma série especial sobre os pecados com dúvidas enviadas pelos leitores.
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