Edith Stein: de filósofa a Santa Teresa Benedita da Cruz

Nem todos os santos precisam ter uma história extraordinária, pois a santidade também pode se manifestar na vida cotidiana. No entanto, em 08 de agosto, celebramos uma santa extraordinária por sua fé, virtudes e trajetória de vida: Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein).

Edith Stein, uma santa alemã e copadroeira da Europa, nasceu em um lar judeu. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, atuou como enfermeira no hospital militar Mährisch-Weisskirchen, na Áustria, que estava cheio de doentes e feridos. Ela relata sobre esse período:

“Fui designada para o Pavilhão de Pacientes com tifo… Duas semanas depois de estar neste pavilhão, coube a mim o serviço noturno… A pequena polonesa veio me buscar cheia de medo, na primeira noite, para atender a um moribundo. Eu avisei rapidamente o médico que estava ao lado, também de plantão, enquanto apliquei uma injeção. Foi a primeira vez que via alguém morrer.”

Após essa experiência transformadora, Edith dedicou-se a outra tarefa extraordinária: obter um doutorado em Filosofia sob a orientação de Edmund Husserl, o renomado fundador da fenomenologia. Ela foi uma das primeiras mulheres a receber tal título na Alemanha e se tornou uma filósofa de destaque. Suas obras filosóficas incluem “Ser Finito e Ser Eterno” e “Potência e Ato”, onde ela explora temas como a essência do ser, a relação entre corpo e alma, e a natureza do conhecimento. Seu trabalho na fenomenologia contribuiu significativamente para a compreensão da experiência humana e da existência.

A vida de Edith passou por outra grande transformação quando, após um profundo processo interior, converteu-se ao catolicismo em 1921. Sua conversão ocorreu após ler, ao longo de uma noite inteira, o “Livro da Vida”, a autobiografia de Santa Teresa de Ávila. “Ao terminar o livro, eu disse a mim mesma: Esta é a verdade”, escreve ela mais tarde. Tornou-se professora e, posteriormente, ingressou no convento das Carmelitas, adotando o nome Teresa Benedita da Cruz. Seus escritos teológicos, especialmente sua obra magna “A Ciência da Cruz”, são de grande importância. Nesse livro, ela se aprofunda na espiritualidade do Carmelo e na teologia da cruz, oferecendo uma visão profunda sobre o sofrimento e a redenção à luz da fé cristã.

Foto: reprodução

Além de “A Ciência da Cruz”, Teresa Benedita da Cruz escreveu outras obras importantes como “A Mulher: Sua Tarefa Segundo a Natureza e a Graça”, onde ela reflete sobre a dignidade e o papel das mulheres na sociedade e na Igreja, e “Educação da Mulher e Educação Religiosa”, onde aborda a formação integral da pessoa humana.

“Deus é a verdade. Qualquer pessoa que busca a verdade busca a Deus, esteja ou não ciente disso”, escreveu Stein depois de sua conversão.

Com a ascensão do nazismo na Alemanha, iniciou-se uma brutal perseguição aos judeus e às pessoas de origem judaica. Em 1942, Teresa Benedita da Cruz e sua irmã Rosa, também convertida ao catolicismo, foram retiradas à força do convento das Carmelitas pelos nazistas. Elas foram levadas para o campo de concentração de Auschwitz, onde tiveram suas vidas ceifadas.

Teresa Benedita da Cruz foi beatificada, canonizada e declarada copadroeira da Europa. A Ordem dos Carmelitas Descalços pede que Santa Teresa Benedita da Cruz seja declarada Doutora da Igreja, com o título de “doctor veritatis” (Doutora da Verdade, em latim).

O Papa Francisco recebeu um pedido oficial do superior geral dos Carmelitas Descalços, no dia 18 de abril, no Vaticano, para reconhecer o legado teológico da santa martirizada em Auschwitz. Se a petição for aceita, Santa Teresa Benedita da Cruz pode tornar-se a quinta mulher doutora da Igreja, um título que reconhece uma contribuição substancial para a teologia e a vida moral da Igreja. Com a petição, o Dicastério para as Causas dos Santos da Santa Sé pode iniciar oficialmente o processo necessário para conceder o título a Stein.

Que a vida e a obra de Santa Teresa Benedita da Cruz inspirem-nos a buscar a santidade em nosso dia a dia, até nas maiores adversidades.