Segundo a Organização Mundial de Saúde, os sintomas da Covid-19 podem durar meses ou retornar mais tarde, mesmo que a infecção tenha sido branda. Entre os principais indícios da síndrome pós-covid estão cansaço, falta de ar, dor muscular (mialgia), dores nas articulações e dor no peito. Mas em quadros clínicos severos, a Organização Pan-Americana da Saúde descreve como principal sequela o desenvolvimento de fibrose pulmonar, lesões miocárdicas, com arritmias e insuficiência cardíaca, podendo ainda haver declínio cognitivo de longo prazo, como deficiências de memória, atenção, velocidade de processamento e funcionamento, juntamente com perda neuronal difusa.
Nesse contexto, retomar ou dar início a uma atividade física depois de superar o novo coronavírus pode ser desafiador, mas com prudência e informação é possível manter uma rotina mais saudável. De acordo com o professor do curso de Educação Física da Estácio, Ronaldo Angelo, é importante lembrar que mesmo para quem praticava algum exercício antes da pandemia, com o isolamento social todos sofreram com o sedentarismo.
“Houve uma diminuição da prática de atividade física, com aumento do tempo sentado, além de uma redução do número de passos dados por dia. Esses fatores por si só podem levar a uma redução da capacidade cardiorrespiratória e de produção de força, aumento da gordura corporal e redução da massa muscular. Somados aos sintomas pós-Covid, o quadro exige cuidados e uma retomada gradual dos exercícios físicos. A recomendação do Colégio Americano de Medicina do Esporte, principal autoridade da área, é de pelo menos 150 minutos de exercícios físicos por semana, de preferência em ambiente arejado e/ou em espaços abertos sem aglomeração e o devido distanciamento social, podendo iniciar com duas ou três vezes por semana até chegar a cinco ou seis vezes por semana”, esclarece o profissional.
Com relação à intensidade, Ronaldo Angelo pondera que deve ser de leve a moderada e ilustra: “Ao realizar um aeróbico como, por exemplo, uma caminhada, corrida, ou bicicleta, a frequência cardíaca deve estar entre valores próximos de 60% a 80% da máxima. O ideal é consultar um profissional de educação física para uma avaliação e indicação adequada do treino, mas na impossibilidade de um, por falta de recursos, minha dica é estimar a frequência cardíaca com uma conta simples: frequência cardíaca máxima = 220 subtraindo a idade. Ou seja, um indivíduo de 35 anos (220 – 35 = 185. 60% de 185 = 111 e 80% de 185 = 148) deve realizar seu exercício com uma frequência cardíaca entre 111 e 148 batimentos por minuto”. Para acompanhar a frequência cardíaca durante os exercícios existem aplicativos como Polar Beat, Strava Running e Nike Run.
Em casos de pacientes que tiveram a forma mais grave da infecção, as recomendações e valores percentuais devem ser reduzidos. Pode-se começar com a frequência de três vezes por semana, com duração de 10, 15 ou 20 minutos, e percentuais de frequência cardíaca entre 40%, 50% e 70%. O professor de Fisiologia do Exercício reitera que os mesmos cuidados valem para esportistas amadores, com a diferença que eles podem conseguir progredir a intensidade mais rapidamente, mas por se tratar de uma doença nova não é possível assegurar.
Para quem deseja iniciar a prática em casa, o professor da Estácio orienta exercícios de força, pelo menos três vezes por semana, com algum material adaptado como, vassouras, baldes com água, garrafas pet cheias de areia e fitas elásticas.
“Flexão de braços, sentar e levantar da cadeira, exercícios em barras fixas, subir e descer escadas, caminhada em aclive, qualquer exercício em que o praticante tenha que produzir força. Como recomendado para exercícios aeróbicos, nesses de força é necessário um aumento gradual da intensidade (dificuldade) e do volume (quantidade). Por exemplo: inicie a flexão de braço na parede, à medida que fica fácil, passe a realizá-la no solo com apoio dos joelhos, depois sem este apoio. Sente e levante de uma cadeira mais alta, depois passe para o sofá que é mais baixo até conseguir realizar o agachamento sem apoio”, detalha.
O profissional de educação física enfatiza que após o tratamento da Covid-19 o paciente pode solicitar ao seu médico um atestado que o libere para a prática da atividade física, mas a decisão de iniciá-la ou não caberá ao profissional de educação física após uma avaliação física.
“Mesmo com a liberação médica, o profissional de educação física poderá identificar algum fator impeditivo e solicitar exames mais detalhados, como um eletrocardiograma. Dependendo da gravidade da doença pode ser necessário que o indivíduo passe primeiramente pelo fisioterapeuta. Acima de tudo, o importante é que a pessoa respeite seus limites, observe sinais como, sonolência durante o exercício, fraqueza, visão embaçada, pele fria, boca amarga, palidez e enjoo. Nesses casos, interrompa a atividade e, na persistência dos sintomas, procure um médico”, elucida Ronaldo Angelo.
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