Experiência que nutre as gerações

Experiência que nutre as gerações

Fazendo uma analogia entre uma árvore e a vida de uma pessoa, é possível dizer que crianças são como pequenos brotos sobre a terra limpa. Conforme vão crescendo, vão recebendo nutrientes de outras plantas, da água e do sol (que podem ser considerados os pais). A terceira idade trabalha como um adubo, auxiliando no crescimento e desenvolvimento das novas gerações, até que elas estejam prontas para a maturidade, quando o ciclo recomeça e novas plantas nascem.

A experiência e a compreensão da importância de doar conhecimento são características típicas das pessoas com mais de 60 anos, embora alguns brotos e pequenas folhagens se recusem a receber tamanha riqueza. Cabe ao amor que atravessa gerações ser mais resistente e resiliente aos entraves do caminho.

Irmã Maria Lúcia, coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, explica que a inserção dos idosos na comunidade – tanto familiar quanto a social –, deve ser efetiva, a fim de que eles tenham ainda mais motivos para viver, ensinar e aprender.

“Toda pessoa idosa sente falta da família, sobretudo quando vivem sozinhos e os filhos estão longe. Essa falta de relação com os mais jovens, especialmente filhos e netos, deprime a pessoa idosa, que se isola e é mais triste. Elas também precisam do aconchego da família para se sentirem vivas”.

Com um dia a dia corrido e acelerado, muitos não prestam atenção aos pequenos detalhes da vida, até os mais simples, como um sorriso e um abraço. Para os idosos, essa falta de demonstração de afeto pode prejudicar toda a relação e deixá-los mais deslocados no ambiente.

“A família precisa ver o idoso como um integrante do ciclo familiar. A vida está tão acelerada que não percebemos que deixamos de lado o carinho, o amor, a dedicação. Não por maldade, mas porque não percebemos a necessidade da relação ser tão importante. É fundamental ter um equilíbrio entre as necessidades do idoso e o que cada membro da família pode oferecer”, completou a coordenadora.

Durante a live “Família, Onde Nasce Nossa História”, em agosto de 2021, Padre Reginaldo Manzotti explicou o ciclo familiar, que vai das crianças até os avós. Como embaixador da Pastoral da Pessoa Idosa, fez uma reflexão sobre a melhor idade inserida no convívio familiar.

“A família é o lugar onde temos o direito de envelhecer, aliás, feliz a família que convive com seus idosos. Quanta sabedoria pode ser apreendida com eles. Mesmo que o físico não seja mais o mesmo, a família se torna o alicerce para a melhor idade”, disse.

Ser o ponto de apoio para os idosos, mesmo quando já não há tanta vitalidade, é um dever da família, como exposto em Salmos (71,9): “Não me rejeites no tempo da velhice; não me abandones, quando já não tiver forças”. A palavra de Deus demonstra que cuidar dos idosos é um ato de humildade, apreço, gratidão, especialmente para que a pessoa se sinta integrante do convívio e perceba o quanto ainda pode desfrutar dessa vida.

Como destacou o Sacerdote durante a live, no convívio familiar, filhos e netos precisam compreender que a realidade da idade é diferente. O tempo é outro, costuma passar de uma maneira diferente. Assim como as memórias, eternizadas em seus corações, pregam algumas peças que fazem com que alguns filhos percam a paciência. Todo o cuidado e atenção tem um porquê e não devem ser ignorados.

“Quanto mais vivemos, mais eternidade criamos dentro da gente. Mesmo que tenham passado os anos, a memória afetiva não obedece aos calendários, não caminha com as estações. Por isso mesmo, a memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais e faz com que eles não percebam que crescemos, mesmo quando temos mais de 30, 40 ou 50 anos”.

Por isso, a Igreja também investe no trabalho da PPI. A Irmã Maria Lúcia explica que ele tem sido efetivo na atenção aos idosos, especialmente aqueles que já não conseguem frequentar a igreja.

“Olhamos sempre para o emocional e espiritual, fazendo o acompanhamento domiciliar dos idosos. Mesmo assim, lembro que a comunidade também pode se envolver com os idosos. O vizinho que dá bom dia, o amigo que liga, os ministros da Eucaristia que levam a comunhão. Tudo é um alento para essa parte da população”.

Envelhecer é uma consequência natural da vida das pessoas. Algumas precisarão mais do auxílio das famílias nesse processo, outras nem tanto. Em todos os casos, contar com o apoio e a dedicação de quem tanto se ama é o que efetivamente importa. “Somos e seremos sempre memórias vivas na vida das outras pessoas. Mesmo que o tempo nos leve daqui, ainda assim seremos lembrados por quem nos amou”, finalizou o padre Reginaldo.

 

Amar é estar próximo

Durante a pandemia de Covid-19, as denúncias de violência contra idosos cresceram significativamente no Brasil, passando de 48,5 para 77 mil (entre os anos de 2019 e 2020). Um dos motivos foi a necessidade de isolamento domiciliar, forçando idosos a morar com familiares próximos em ambientes distintos e com todos confinados, aumentando tensões e preocupações internas.

Toda família tem pedras pelo caminho! Brigar com o outro não resolve a situação, porque é esperado da família o conforto, amor e carinho. Mesmo diante de momentos muito difíceis, como a própria doença, é o amor familiar que conseguirá enfrentar as dores e dificuldades do caminho.

Na velhice, o amparo familiar é fundamental. Na convivência, é preciso exercer a paciência e a compreensão, pois a violência só agrava o que já não está bom. O amor aos pais e avós deve basear todas as relações da humanidade.

Ao não respeitar os idosos, você automaticamente está desrespeitando toda a sua existência, porque é por causa deles que tens o dom da vida e a base de seu conhecimento. Quantas vezes não ouvimos pais e avós por acreditar que eles estão desatualizados ou não compreendem os problemas? Esquecemos, na grande maioria das vezes, que eles também enfrentaram grandes dores e sabem as lições do caminho. Vem deles os conselhos mais sinceros e amigáveis, porque eles sabem e compreendem o verdadeiro sentido do amor.

“Mesmo na sua velhice, quando tiverem cabelos brancos, sou eu aquele, aquele que os sustentará. Eu os fiz e os levarei; Eu os sustentarei e eu os salvarei”(Isaías, 46,4)

 

Violência contra idosos cresce

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que até o ano de 2050, o Brasil terá mais de 76 milhões de pessoas com mais de 60 anos, ou seja, cerca de 30% da população nacional será idosa. Hoje, o número não passa dos 38 milhões. Os dados demonstram que a população nacional está envelhecendo e que chegaremos a índices altos em pouco tempo.

Apesar dos números estarem em crescimento, é comum vermos em notícias e/ou conversas, atos de descriminação, preconceito e até mesmo violência contra idosos.

Durante a pandemia de Covid-19, as denúncias de violência contra idosos cresceram significativamente no Brasil, passando de 48,5 para 77 mil (entre os anos de 2019 e 2020). Um dos motivos foi a necessidade de isolamento domiciliar, forçando idosos a morar com familiares próximos em ambientes distintos e com todos confinados, aumentando tensões e preocupações internas.

O dia 15 de junho é marcado como dia mundial de conscientização da violência contra a pessoa idosa, em uma iniciativa proposta pela ONU para mobilizar as pessoas a refletirem sobre o tratamento que estamos dando às pessoas com mais de 60 anos.

 

Tipos de violência contra idosos

O §1º do Art. 19 do Estatuto do Idoso prevê que é considerada violência contra o idoso qualquer ação ou omissão, realizada tanto no ambiente público quanto privado, que cause ao indivíduo dano ou sofrimento físico ou psicológico.

Isso significa que não apenas a agressão é considerada crime, mas sim todas as práticas que causem constrangimento ou dano emocional, tal como ofensas, xingamentos e ameaças.

De acordo com a advogada Tatyana Casarino, idosos precisam conhecer seus direitos e os tipos de violência para conseguir romper com o ciclo. “Considerando a vulnerabilidade da condição dos idosos e até mesmo certa “inocência” deles, é preciso divulgar que a violência sempre terá caráter de crime e nunca será algo “normal” mesmo quando cometida por um conhecido ou familiar”.

Outra forma de violência existente é a patrimonial, na qual os idosos não recebem, por exemplo, o dinheiro de sua aposentadoria, ou têm confiscado valores e bens materiais que conquistaram durante toda a sua vida, como suas próprias casas.

A advogada comenta que muitas vezes, idosos não conseguem mais morar sozinhos, por problemas de saúde, por exemplo. Nesses casos, conforme exposto no artigo 37 do Estatuto do Idoso, a pessoa idosa tem direito à moradia digna, podendo ser em sua própria família ou desacompanhado de familiares, se o mesmo desejar assim. Portanto, não significa que a família poderá vender a casa do idoso sem o seu consentimento. “A violência se torna ainda mais repugnante quando nasce dentro de casa ou brota daqueles que deveriam amar a pessoa idosa”, afirma Tatyana.

Informação e denúncia

Conhecer os direitos é o primeiro passo para evitar a violência. Mas caso ela aconteça, é fundamental saber onde e como denunciar. Tatyana explica que ao tomar consciência dos seus direitos, o idoso deve buscar assistência, seja ela de pessoas próximas e confiáveis ou então de pessoas com conhecimento jurídico. “Para quem não tem condições de pagar um advogado, existem serviços gratuitos de assistência jurídica nas Faculdades de Direito e também a Defensoria Pública”, comenta.

Outra forma de procurar ajuda é denunciando,. Pelo Disque 100 você pode denunciar toda violência praticada contra a pessoa idosa. O telefone é um canal de atendimento 24 horas que recebe, analisa e encaminha denúncias de violação dos direitos humanos para os órgãos responsáveis. As ligações são gratuitas, anônimas e podem ser feitas de qualquer telefone fixo ou celular.

Outra possibilidade é enviar uma mensagem (via aplicativo WhatsApp) para o número (61) 99656-5008, que é o contato oficial da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos criado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para receber mensagens de todo o país.

O desconhecimento das políticas de enfrentamento e combate à violência contra o idoso dificultam a compreensão de que este é um problema grave em nossa sociedade. Prestar atenção aos detalhes e aos idosos faz toda a diferença.

O que você achou desse conteúdo?

Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.

Aceito receber a newsleter do IDe+ por e-mail.

Comentários

Cadastre-se

Cadastre-se e tenha acesso
a conteúdos exclusivos.

Cadastre-se

Associe-se

Ao fazer parte da Associação Evangelizar É Preciso, você ajuda a transformar a vida de milhares de pessoas.

Clique aqui

NEWSLETTER

IDe+ e você: sempre juntos!

Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.