O Vaticano anunciou, em 17 de maio, a atualização das normas para o discernimento de fenômenos sobrenaturais presumidos, estabelecido pelo novo documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, que já entrou em vigor no mesmo dia da Festa de Pentecostes, e marca uma significativa mudança na maneira como a Igreja Católica lida com esses eventos.
Os fenômenos sobrenaturais reconhecidos pela Igreja são muito importantes para a fé católica. Um desses exemplos são as lágrimas da estátua de Nossa Senhora de Akita, no Japão, na década de 1970 — fenômeno reconhecido após uma investigação bastante criteriosa. Outro exemplo aconteceu na Itália, com a imagem de Nossa Senhora de Siracusa, na Sicília, que também derramou lágrimas humanas, como atestou a investigação.
No entanto, a complexidade e a diversidade desses fenômenos ao redor do mundo exigiram uma atualização das normas de discernimento. O documento atual do Dicastério para a Doutrina da Fé, precedido por uma apresentação do cardeal prefeito Víctor Manuel Fernández, define seis diferentes conclusões possíveis para esses fenômenos, o que pode facilitar pronunciamentos mais rápidos e que envolvem diretamente o Dicastério nas decisões finais dos bispos.
Historicamente, a avaliação de fenômenos sobrenaturais presumidos era marcada por longos períodos de análise e, muitas vezes, divergências entre o bispo local e a Santa Sé. Agora, o envolvimento explícito do Dicastério busca assegurar uma abordagem mais uniforme e criteriosa, dado que muitos desses fenômenos atingem dimensões globais e impactam fiéis de diversas realidades.
O cardeal Fernández reforçou que, embora muitas manifestações tenham produzido inúmeros frutos espirituais, como crescimento na fé e devoção, existem riscos significativos. Alguns fenômenos podem ser motivados por interesses pessoais, lucros financeiros ou abuso de poder, o que gera danos aos fiéis e distorcem a mensagem do Evangelho. Dessa forma, as novas normas buscam equilibrar o reconhecimento dos benefícios espirituais com a necessidade de proteger os fiéis contra potenciais enganos, segundo informou o Vaticano.
As orientações gerais das novas normas estabelecem critérios claros para discernir a ação divina em fenômenos presumidos, verificar a conformidade com a fé e os bons costumes, e avaliar os frutos espirituais produzidos. A Igreja, como regra, não reconhecerá positivamente a origem divina dos fenômenos, salvo por autorização expressa do Papa, para buscar evitar declarações precipitadas que possam causar confusão entre os fiéis.
Ao término do discernimento, seis possíveis votos finais poderão ser emitidos:
1.Nihil Obstat: reconhece sinais de ação do Espírito sem declarar autenticidade sobrenatural.
2.Prae oculis habeatur: sinais positivos são reconhecidos, mas há elementos de confusão ou riscos que necessitam de esclarecimento doutrinário.
3.Curatur: presença de elementos críticos, porém, com frutos espirituais verificáveis; desaconselha-se proibição, mas o bispo não deve incentivar o fenômeno.
4.Sub mandato: problemas relacionados ao mau uso por indivíduos ou grupos; orientação pastoral é delegada ao bispo.
5.Prohibetur et obstruatur: críticas e riscos são graves, e o Dicastério pede declaração pública de não adesão.
6.Declaratio de non supernaturalitate: declaração de não sobrenaturalidade baseada em evidências concretas, como confissões ou falsificações.
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