“O sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida”. A frase da médica, enfermeira, assistente social e escritora inglesa Cicely Saunders inspira os dias da religiosa brasileira Maria Eugenia da Silva, da Congregação das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. Em poucos minutos de conversa, já é fácil perceber como a serenidade e a força fazem parte da sua natureza. Características muito bem-vindas para alguém cuja missão de vida é exatamente cuidar de crianças que enfrentam problemas de saúde.
Ela também é enfermeira do Hospital Pequeno Príncipe, exclusivo para atendimento pediátrico, em Curitiba (PR). “Estar presente, acolher, acompanhar, abençoar, rezar junto, ancorar a fé, se alegrar pelas vidas restabelecidas, dar suporte nos momentos mais difíceis, que são os da perda de entes queridos” estão entre as suas tarefas diárias, que ligam a espiritualidade à enfermagem.
Foi no início da sua caminhada vocacional, quando teve contato com as crianças internadas no hospital César Pernetta, que a ideia de ser enfermeira surgiu como um caminho necessário. Ela lembra que, naquele período, ainda não existia o programa de humanização implantado nos hospitais e as famílias não podiam acompanhar os filhos além da visita diária, que durava apenas 1h.
As irmãs moravam no hospital e eram responsáveis por vários serviços, como a gerência de enfermagem.
“Na época, tudo era muito precário e difícil, o número de colaboradores de enfermagem era bem reduzido e não tinha condições de dar conta. Daí que a irmã do hospital solicitou que nós, as aspirantes que residíamos no Colégio Sagrado, ao lado do hospital, ajudássemos nos cuidados com banho, mamadeira, troca fraldas. Esse contato direto e o sofrimento duplicado das crianças internadas, que caíam em prantos quando seus pais tinham que se ausentar da enfermaria, me fizeram sentir forte um apelo pela enfermagem”, lembra a religiosa.
Foi nesse contexto que a responsável pelo local percebeu que Irmã Maria Eugenia “levava jeito”. Naquela época, o aprendizado acontecia na prática com as colaboradoras mais experientes e também com as irmãs. Assim, ela começou a se dedicar à enfermagem.
Por 32 anos, Irmã Maria Eugenia atuou na assistência direta dos cuidados de enfermagem e em diversas cidades.
“Na condição de religiosa, prestava um cuidado integral aos pacientes e família, mas como profissional, tinha uma série de atribuições próprias da função e não conseguia dar uma assistência espiritual conforme as demandas percebidas e solicitadas”, conta.
Em 2013, porém, uma mudança importante aconteceu e a levou a novas formas de atuação. Por seis anos, a freira esteve em missão no Haiti, onde devido à precariedade e à restrição do serviço ambulatorial, muitas vezes o único recurso disponível era a fé e o suporte espiritual.
“Ao retornar ao Brasil, expressei meus anseios e hoje não mais atuo na assistência de enfermagem, mas no acolhimento espiritual”, explica.
A religiosa acrescenta que o novo conceito de saúde definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a dimensão espiritual tem um papel importante na motivação das pessoas em todos os aspectos da vida, pois pode integrá-los.
“Cuidar das pessoas dessa forma é uma experiência que não é possível descrever”, compartilha.
Seja no Brasil, seja no Haiti, sua dedicação faz a diferença na vida de muitas crianças e de suas famílias.
“Quando é possível, nós podemos fazer muito com pouco, com a graça e as bênçãos de Deus”, disse a Irmã durante o seu discurso na Câmara Municipal de Pato Branco (PR), quando foi homenageada com a Moção de Aplauso pelo seu trabalho no município.
Em todo o Brasil, de 12 a 22 de maio, os estados celebram a Semana da Enfermagem, com diversas atividades. Este ano, o tema é “O impacto das tecnologias para o futuro da Enfermagem, informação, ética e cuidado”.
“Essa semana tem como objetivo promover uma reflexão sobre a importância e a valorização do profissional da enfermagem e também é uma oportunidade de a população conhecer um pouco mais das atividades desenvolvidas por esses profissionais e desafios diários enfrentados por eles”, explica Teresinha Peruci, gerente de Enfermagem do Hospital Pequeno Príncipe.
Com papel fundamental nos sistemas de saúde, além de contribuir diretamente com a prevenção, cuidado e recuperação da população, a enfermagem atua também na inovação, ensino e pesquisa para melhoria da qualidade de vida da sociedade.
A gestora explica que o mercado de trabalho para esses profissionais está em ascensão, pois além da assistência direta ao paciente nos hospitais e atendimento pré-hospitalar em urgência e emergência, o campo de atuação vem se diversificando ao longo dos anos: há também as áreas de gestão, auditoria, docência, home care, entre outros.
“Com o aumento da demanda dos sistemas de saúde, a área assistencial continuará sendo percursora da profissão. No entanto, os profissionais deverão ampliar seus conhecimentos por meio de especializações, acompanhando assim os avanços das novas tecnologias, sem comprometer o papel singular do cuidado ao paciente: a humanização”, explica Teresinha.
Quem tanto cuida merece também ser cuidado. Por isso, em Curitiba (PR), no Hospital Pequeno Príncipe, que é referência na saúde de crianças, a Semana da Enfermagem vai ser dedicada ao bem-estar desses profissionais, além de ter uma série de opções com foco no desenvolvimento profissional.
Nas atividades de autocuidado e bem-estar estão inclusas massagem, auriculoterapia, spa das mãos, design de sobrancelhas, entre outras. A programação também conta com palestras sobre temas como “Romper ‘bolhas’ no mundo atual para o resistir e o coexistir da enfermagem”, “Atuações da enfermagem no rompimento de “bolhas” e “Inovação na saúde”.
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