Inserir a oração diária na rotina é algo muito valioso, mas será que existe algum horário considerado sagrado para fazer reflexões e pedidos? Será que temos alguns horários mais importantes que outros para escolhermos rezar? Será melhor rezar durante o dia ou à noite? Se você já se fez alguma dessas perguntas, então esse conteúdo é para você!
A resposta para essas dúvidas, assim como para muitas outras que surgem para cristãos, pode ser obtida por meio da Palavra de Deus e, nesse caso, com o versículo bíblico do livro de Salmos. “Sete vezes ao dia te louvo. No meio da noite eu me levanto para te dar graças, por causa dos teus retos juízos.” (Sl, 118, 119).
Conforme o Irmão João Batista José Maria, monge da comunidade Eremitas Beneditinos da Reparação Eucarística, a liturgia é o culto público a Deus, isto é, o culto oficial de adoração da Igreja prestado ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.
“Esta celebração tem como centro a Santa Missa, especialmente a dominical, memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Este mistério de Cristo se expande na vida da Igreja e se prolonga sobremaneira na Liturgia das Horas ou Ofício Divino”, explicou.
A finalidade da Liturgia das Horas é a santificação do dia por meio de diversos momentos de oração ao longo de 24 horas. O Ofício Divino é composto por sete Horas Canônicas: Ofício de leituras ou Vigílias, Laudes, Terça, Sexta, Noa, Véspera e Completas.
Ofício de leituras: tradicionalmente conhecido também como Vigílias, – pois não há um horário estipulado para sua recitação-, preferencialmente se reza antes do nascer do sol, conforme diz o Livro de Salmos. E, também, a exemplo de Jesus que se retirava no meio da noite para orar (Lc 6, 12ss).
Laudes: Os horários litúrgicos são contados de modo distinto aos que se está habituado atualmente no ocidente e são divididos entre horas do dia e horas da noite, conforme o uso antigo. Assim, às 6h, por ser o horário que normalmente desponta a alvorada, é rezado Laudes, oração de caráter festivo do povo de Deus que se congrega para louvar e dar graças ao Senhor nas primícias do dia. O nascer do sol sempre foi, para os cristãos, uma recordação da Ressurreição de Cristo.
Hora Terça: a terceira hora do dia, às 9h, marca o início da jornada de trabalho e, também, faz memória ao início da missão apostólica da Igreja que recebe o Espírito Santo no dia de Pentecostes, quando São Pedro faz sua primeira pregação pública “a terceira hora do dia” (At 2, 15). Santifica-se, então, o início dos trabalhos com essa oração, pedindo a força do Espírito de Deus para o labor cotidiano.
Sexta: Celebrada às 12h, esse é o momento de pausa e descanso do trabalho. A Igreja, em seus hinos para esta hora litúrgica, recorda o esplendor do Cristo Ressuscitado que brilha como o sol do meio-dia; bem como o prodígio cósmico do momento em que o sol se apagou enquanto Cristo padecia na Cruz (Lc 23, 44). Além de retomar as forças para continuar o trabalho, também nos fortalecemos espiritualmente elevando o pensamento e a voz a Deus, pois facilmente somos distraídos da consciência de Sua presença durante as ocupações cotidianas.
Noa: às 15h, recita-se a oração de Noa. Esta é a hora marcada pelo véu do templo que se rasgou e Jesus, entregando seu espírito nas mãos do Pai, expirou (Lc 23, 44-46). Sem dúvida , esta é a hora mais recordada na tradição cristã. Seu caráter penitencial fica claro nos hinos litúrgicos para esta Hora, convidando a unir nosso trabalho cotidiano aos sofrimentos do Filho de Deus, em reparação pelos nossos pecados e pelos pecados de todo o mundo.
Vésperas: Ao final do dia, por volta das 18h, antigamente se celebrava o “Lucernário”, momento de ascender as luzes artificiais, pois a luz natural começava a desaparecer. Este também era o horário do sacrifício vespertino dos judeus. Neste horário, a Igreja celebra as Vésperas, que tem uma estrutura semelhante a de Laudes, sendo essas as duas principais horas da Liturgia das Horas, onde se louva a Deus pelo dia que inicia e, em seu ocaso, oferece-Lhe os trabalhos do dia e pede-Lhe as graças para passar pelas trevas da noite, que sempre foi entendida como principal período de lutas e tentações.
Completas: O dia se conclui com a oração das Completas, a qual carece de uma hora fixa, mas é recitada antes do descanso noturno, mesmo que se tenha passado da meia-noite. Seus salmos e leituras fazem menção da entrega da alma a Deus, suplicando seu auxílio nessas horas de maior vulnerabilidade humana.
O Irmão João Batista pontua que a Igreja, como Mãe e Mestra fiel ao mandato do Senhor de orarmos incessantemente, dispõe desses horários oficiais de oração, os quais, conforme já notamos, não foram escolhidos arbitrariamente, mas a partir de uma importância histórica e espiritual em cada um deles.
No entanto, vale ressaltar que a principal finalidade dessas horas é a santificação do dia por meio da oração, em seus diversos momentos.
“Então, a Liturgia das Horas pode ser rezada em horários distintos, desde que se mantenha uma proximidade às horas preestabelecidas. Por exemplo, não haveria sentido usar todos os elementos das Laudes no meio da tarde, principalmente o hino e a oração conclusiva, normalmente fazem alusão ao sol nascente. Assim como existem locais especiais para a oração nos quais Deus concede graças especiais para quem aí reza, como os locais santos em que ele viveu ou os santuários consagrados pela Igreja, também existem horários propícios para dedicar-se à oração”, detalha o monge.
O alerta que devemos ter, como católicos e fiéis ao Senhor, é que a oração não deve ser entendida de maneira supersticiosa, restringindo-se a um local ou horário específico, imaginando que esses, por si só, serão suficientes.
“A vida de oração deve ser conforme Jesus nos fala no Evangelho de João, em que ‘os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade’. Assim, o mais importante na oração é a sincera busca de união com Deus, independente do local ou horário”, finaliza o Monge.
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