Influenciador Angelo Pinheiro fala sobre seus estudos de fé e os desafios de um jovem cristão

Influenciador Angelo Pinheiro fala sobre seus estudos de fé e os desafios de um jovem cristão Foto: Angelo Pinheiro

Na Jornada Mundial da Juventude de 2023, realizada em Portugal, o Papa Francisco expressou a alegria em se encontrar com Jesus Cristo e incentivou os jovens para que não tenham medo, porque a Igreja precisa deles. O Pontífice destacou três ações em uma de suas homilias: resplandecer, ouvir o Pai e não temer. 

Para o estudante e influenciador digital Angelo Nuncio Pinheiro, essas atitudes e posicionamentos estão evidentes no seu dia a dia como jovem cristão. Com aproximadamente 35 mil seguidores no Instagram, em suas redes sociais ele compartilha seus estudos, conhecimento e experiências. 

Confira  a seguir o que Angelo dividiu com o IDe+:

IDe+: O que é fé, na sua opinião?

Primeiramente, muito obrigado pela oportunidade! Espero que essa matéria renda bons frutos em muitas almas para a maior glória de Deus. Sem mais delongas, preciso dizer que minha opinião sobre a fé é o que nos ensina a Santa Igreja: fé é a virtude teologal que nos permite crer em Deus e em suas revelações. Para ser textual, segue a definição de fé que está no Catecismo da Igreja Católica, no ponto §1814:
“1814. A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou e que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, «o homem entrega-se total e livremente a Deus» (67). E por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus. «O justo viverá pela fé» (Rm 1, 17). A fé viva «atua pela caridade» (Gl 5, 6).”
Portanto, a fé é um presente que Deus nos dá por pura graça. Não é algo que depende exclusivamente do nosso exercício “vou treinar para ter mais fé”; não, a fé é algo que você recebe de Deus. Por isso, é importante pedirmos sempre para que Ele aumente a nossa fé, rezando jaculatórias (pequenas frases) como “Meu Deus, eu creio, mas aumenta a minha fé” ou mesmo “Dai-me Senhor um verdadeiro coração adorador a Jesus Cristo Eucarístico”. Conforme se cresce na vida espiritual, a tendência é que essa virtude se aprofunde em nosso coração. Além disso, não adianta pedir fé ou qualquer outra graça se não estiver pronto para recebê-la. “Como assim, Angelo?” Explico: é preciso que conservemos sempre que possível o estado de graça e busquemos maior união com Deus. Isto é, precisamos nos afastar do pecado através da confissão, devemos frequentar os sacramentos de maneira regular, praticando a entrega à divina providência e buscando as coisas do alto. Assim, nos abrimos para a vontade de Deus.
Uma analogia que nos ajuda a entender bem essa relação é a seguinte: imagine que Deus derrama em nosso coração graças abundantes. Imagine também que as graças são representadas por água e nossos corações por recipientes. O meu e o seu coração talvez possa ser comparado a uma tampinha de garrafa. Deus derrama graças abundantes sobre nós, mas elas facilmente transbordam. De maneira diferente, o coração de um santo, que amou a Deus sobre todas as coisas e se fez como Cristo sempre estando aberto à vontade d’Ele, pode ser comparado a um vasto corpo de água, como a Baía de Guanabara. 

IDe+: Você poderia contar como foi sua jornada de encontro com a fé?

Eu tive a graça de crescer em um lar católico, então fazia parte da rotina ir à missa aos domingos, rezar diariamente, fazer catequese, celebrar as festas cristãs mais populares… no entanto, não me esqueço de um episódio que me ocorreu quando eu era criança. Era um domingo à noite, eu tinha por volta de uns 7 a 11 anos, não sei ao certo, e estavam meus pais e eu participando da missa. Eu tive preguiça de sair de casa naquele dia e, como em várias outras semanas, só havia ido até a igreja porque meus pais me levaram. Mas me lembro de ter pedido algo particular a Deus durante a missa naquela noite: fui sincero e falei para Ele que se dependesse de mim, eu não estaria lá. Disse também que por algum motivo eu percebia que aquilo era importante; pedi, portanto, para que quando eu crescesse e a decisão de ir à missa fosse depender só de mim, que eu tivesse vontade de ir. Muitas águas passaram por debaixo da ponte nos últimos anos, mas para não me prolongar demais na minha história, dou graças a Deus porque hoje, mesmo morando sozinho em outro estado, eu frequento a missa com grande vontade. Parece simples, mas carrega muitas outras graças; meu aprofundamento na fé, apostolado digital, crescimento espiritual, amizades virtuosas… tudo que tenho de bom veio de Deus. E eu acredito que aquele pedido lá atrás foi um dos vários momentos em que Ele me ouviu e me atendeu.

IDe+: Por que você acha importante estudar a fé?

Fico feliz que tenham me feito essa pergunta! É um tema que julgo muito necessário. Antes, quero apenas deixar claro que quando falo em “estudo da fé”, é uma maneira simples, um atalho para me referir ao estudo dos dogmas, da doutrina, da vida dos santos, das Sagradas Escrituras e etc. (e não apenas o estudo da fé enquanto virtude teologal). Vejo que a maioria dos católicos de hoje em dia infelizmente pouco sabem sobre a sua fé. “Por que a missa é celebrada? Por que os mandamentos são o que são? De onde vem a autoridade da Igreja? Como me aproximo de Jesus? Por que preciso me confessar? Não basta que eu me confesse sozinho no meu quarto? Toda religião é igualmente verdadeira? Por que sou católico? O que é castidade? Só os padres devem ser castos? Por que rezamos a Maria?“ Uma série de dúvidas como essas representam lacunas que, se perguntadas a muitos católicos, eles não saberiam responder. Mas pense comigo: se Cristo é a Verdade, se a salvação minha e dos outros estão em jogo, e se o assunto não se limita a esta vida, mas à eternidade… é no mínimo imprudente tratar o estudo da fé com tanto desleixo! Precisamos saber defender nossa fé. Precisamos nos aprofundar no que acreditamos porque isso nos permite maior união com Deus — é preciso conhecer para amar, como costumo dizer, ou nas palavras de Santo Agostinho: “Só amamos aquilo que conhecemos.” Precisamos estudar a fé porque isso permite que nos alimentemos de boas coisas, como nos recomenda São Paulo em sua carta aos Filipenses: 
“Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos.“ (Fl 4, 8).
Devo acrescentar que o estudo da fé é um processo complexo que requer constância. Com tamanha riqueza de tesouros na Igreja, é comum que surjam dúvidas como: “Por onde devo começar? Que livros devo ler? Como encaixo isso na minha rotina? Como me organizo para ler a Bíblia? Como ler a Bíblia?” Pensando nessas dores, criei um Planner de Estudo da Fé que vai solucionar esses pontos de uma maneira que você pode customizar e carregar por onde quiser, pois é 100% online.
 
 

Foto: Angelo Pinheiro

 

IDe+: Como você acha que a fé e a razão podem se complementar?

Deus nos deu a razão para que por meio dela possamos chegar à conclusão de sua existência, louvá-lo, e nos aproximar d’Ele. Precisamos da fé para sermos salvos, mas a razão pode e deve ser uma grande aliada em nossa vida espiritual. Quando usamos nossa razão conforme o intuito de Deus quando a criou, estaremos usando-a de maneira virtuosa. O problema é quando deturpamos ela (ou qualquer outra dádiva que Deus nos tenha dado), desviando-a de seu fim original através da influência do pecado. Para aprofundar um pouco mais minha explicação, vou recorrer mais uma vez ao Catecismo, livro excelente e confiável quando o tema é estudo da fé:
“§ 159 – Fé e ciência. «Muito embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver verdadeiro desacordo entre ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. E Deus não pode negar-Se a Si próprio, nem a verdade pode jamais contradizer a verdade». «É por isso que a busca metódica, em todos os domínios do saber, se for conduzida de modo verdadeiramente científico e segundo as normas da moral, jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e as da fé encontram a sua origem num só e mesmo Deus. Mais ainda: aquele que se esforça, com perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o que são, mesmo que não tenha consciência disso» .

IDe+: De acordo com seu ponto de vista, como um jovem pode se posicionar em relação à fé nos meios digitais?

Antes de entregar o “como”, preciso fazer uma observação importante: é muito bom ver influencers digitais católicos evangelizando nas redes, porque isso traz um senso de pertencimento, de comunidade, e encoraja as pessoas a superar o medo de viver sua fé. No entanto, devemos cuidar para não deixar de lado o mais importante, que é ser católico na prática, fora das redes, quando ninguém está olhando. Por exemplo: ser gentil com as pessoas, estar lá para quem precisa, ser organizado, levantar e ir dormir no horário (sim, até na ordem existe grande evangelização!), cultivar a paz, trabalhar com amor a Deus, evitar reclamações e mentiras… ser cristão na prática, essa deve ser a prioridade.
Dessa forma, seu posicionamento nos meios digitais deve ser coerente com os valores católicos. E isso não necessariamente significa tentar virar um influencer para evangelizar, nem mesmo colocar a bandeira do Vaticano (🇻🇦) na bio do Instagram… pode até colocar, sem problema nenhum. Mas antes, busque ser coerente. Isto é, evite propagar mentiras; evite compartilhar posts ou apoiar movimentos cujos valores vão contra os ensinamentos de Cristo; evite usar símbolos de superstição (não adianta nada ter na bio: “católico” e um emoji de signo, por exemplo, porque se contradizem!); evite postar fotos que possam tentar contra a pureza de quem for visitar o seu perfil (exemplo para meninos: evitar fotos sem camiseta; para meninas: evitar fotos de biquíni). Não é sobre a roupa, é sobre o pudor e a caridade para com o próximo. Com isso em mente, buscando a santidade na prática, é natural que seu posicionamento nas redes seja simplesmente um reflexo disso que você acredita. Em suma, a resposta para essa pergunta é sobre coerência. 
Obs.: vejo muitos católicos por aí usando esse emoji “📿” pensando que é um terço, mas não é! Trata-se de uma japamala. Sei que a intenção de quem se enganou provavelmente não foi má, porém agora que sabe, é sua responsabilidade parar de usá-lo (ou avisar os desavisados 😉).

IDe+: Quais são os desafios para um jovem “ser religioso” hoje em dia?

Posso garantir que, na bolha em que vivemos (Brasil, onde teoricamente ser católico não é um crime contra o Estado), os desafios são muito menores do que em outras regiões do mundo. Se compararmos então com as perseguições ao longo da história, quando a mera profissão de fé poderia ser ocasião de morte, os desafios de hoje parecem quase nulos! Digo isso para nos situarmos da grande graça que há em estarmos vivos nesse momento. É oportunidade de frutificarmos com os muitos talentos que nos foram dados.
Apesar disso, há sim desafios significativos para um jovem ser religioso, tendo em vista o que estamos acostumados a ver. Talvez não seja pena de morte, mas pode ser um repúdio social; abuso de autoridade; preconceito… Faço questão de citar alguns dos desafios porque não se pode vencer uma batalha sem antes se dar conta de que ela está acontecendo. Pautas progressistas como o feminismo, por exemplo, invadem a cabeça das meninas (e até meninos!) e só quem realmente vai atrás de estudar sobre se dá conta de como se trata de um movimento que vai contra os valores católicos — e se Deus é o sumo bem, como que algo que vai contra os seus ensinamentos vai ser bom? E como que algo que desagrada a Deus vai nos agradar? De maneira verdadeira, seria impossível!
Outros temas que assustadoramente têm certa correlação, como a defesa do aborto ao invés da vida, a erotização das crianças (corpos cada vez mais à mostra, danças e atitudes que se afastam do real sentido sagrado), a teologia da libertação (heresia condenada por Bento XVI), ou mesmo a ideologia de gênero, são temas tão defendidos pela sociedade que quem os combate é mal visto! Eis a chance de seguirmos firmes com Cristo. Nesses momentos, é necessário nadar contra a maré. Não para sermos diferentes; mas para defendermos a Verdade. “(…) Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. (Jo 8, 31s)
De novo, esse é mais um assunto que poderia ser explorado mais a fundo; mas como o formato requer que eu seja breve, segue o meu encorajamento para você que leu até aqui: se prova mais importante que o estudo da fé seja feito um hábito na rotina do católico. Assim, teremos bagagem para saber lidar com essas situações caóticas sem perdermos o rumo do que realmente somos chamados a viver: a santidade. Fiquem com Deus!
 

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Comentários

  • Raila Bianca
    Eu achei primordial e necessário, principalmente para quem está iniciando nessa caminhada e procura verdadeiramente se aprofundar, procurando amar a Deus cada vez + através do conhecimento e da razão. Já dizia Santo Agostinho que " A fé e a razão caminham juntas, mas a fé vai mais longe", até porque "Só se ama aquilo que se conhece." (Livro de Santo Agostinho, Confissões).

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