Se perguntassem durante a infância de Jean Patrik Soares o que ele gostaria de ser quando crescesse, a realidade do que é hoje não estava nos planos do guarapuavano. Apesar de sempre frequentar a igreja com seus pais e na juventude com o grupo de jovens, a vocação sacerdotal demorou mais a aparecer.
“Minha primeira grande experiência com Deus foi na preparação para a Crisma. Eu participei de um retiro e ali eu ouvi uma pregação que foi a experiência e a compreensão do que era o amor de Deus. Foi quando eu vivi, pela primeira vez, o grande amor do Senhor”, conta.
Na verdade, o hoje Padre Jean Patrik queria ser dublador, ou qualquer outra profissão que envolvesse a sua voz e a comunicação. “Eu também queria trabalhar com o rádio ou a televisão, que sempre foram minha paixão”.
O Padre de Guarapuava, no interior do Paraná, é um participante ativo das Caravanas Missionárias, que leva a mensagem de Deus para diferentes cidades do Estado.
Ainda sem saber que queria ser Sacerdote, Jean Patrik tinha uma vida dedicada à Igreja e a compreensão das Palavras de Deus. Foto: Arquivo pessoal
Como os planos de Deus são muito maiores do que se pode imaginar, a história do Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Belém teve uma reviravolta durante uma experiência vocacional, já na juventude.
“Eu já era um pregador, fazia teatro, estava envolvido com a Igreja e a comunidade. Aí eu fiz uma experiência vocacional, que era um retiro no final de semana. Ali eu tive mais uma dessas experiências marcantes, fundantes da minha vida”.
Segundo ele, foi como se Deus estivesse preparando seu caminho para a escolha que ele tomaria na sequência. “Em uma das pregações, eu tive a sensação de que era Deus falando comigo. Durante todo o dia foi como se tudo estivesse diferente, como uma experiência única. Eu tinha 18 anos e um ano depois eu estava entrando no seminário para dizer o meu sim”.
Essa experiência aconteceu no Seminário Diocesano de Guarapuava, que fica muito perto de onde Padre Jean morava com sua família. Apesar de passar pelo local várias vezes ao longo da vida, antes dessa experiência vocacional, ser Padre nunca passou pela cabeça dele.
“Eu queria aprender mais sobre a Bíblia e sobre a história da Igreja, mas eu pensava que faria isso em uma família. Quando entrei para o Seminário parecia que tudo o que eu procurava estava ali, e foi de fato isso mesmo”.
“Me sinto maduro hoje, mais pronto para a minha vocação”. Em uma conversa animada e repleta de ensinamentos, Padre Jean comenta que entrou cedo no Seminário, e sua carreira também ascendeu de maneira rápida.
Aos 19 anos, em 2002, entrou para o seminário. Cursou Filosofia e Teologia e, depois, assumiu como seu primeiro trabalho a missão de ser Diácono e depois Padre no município de Cantagalo. Ficou na cidade do interior do Paraná por um ano. Na sequência, foi designado Padre do município de Pinhão, também na região centro-sul paranaense, onde permaneceu por cinco anos. Em 2016 retornou para Guarapuava já como Vigário da Paróquia Nossa Senhora de Belém, até o ano de 2018, quando assumiu a função de Sacerdote da paróquia mais importante do município com mais de 180 mil habitantes.
“São três missas por dia, numa rotina bem intensa”, explica. Cabe ressaltar que não é ele quem celebra todas. “Quando rezo a missa do meio-dia, não rezo a da noite, e vice-versa”.
Se você está achando tudo isso bem rápido, ainda precisa colocar nessa conta que enquanto comandava a Paróquia em Pinhão, também cursava Jornalismo na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). Foram quatro anos de uma graduação que estava nos planos do sacerdote, mas que para isso precisava enfrentar diariamente uma rotina de viagens para Guarapuava (sede da universidade) e conciliar os estudos com a rotina intensa da função de Padre.
Na juventude, participava de grupos de adolescentes, teatros, musicais e demais atividades ligadas à Igreja. Foto: Arquivo Pessoal
Tem que ter muito pique para acompanhar o Padre Jean Patrik no seu dia a dia. A rotina acelerada começa logo cedo, quando faz suas orações. Na sequência, você pode encontrá-lo caminhando pelos parques da cidade ou então na academia, se preparando para vários desafios, incluindo corridas e outras competições. O próximo desafio que ele vai encarar é o do Caminho da Fé, que é um percurso de dois mil quilômetros, dos quais 400 são em montanhas, estradas, trilhas e bosques.
O dia está só começando quando ele retorna para a Casa Paroquial para tomar seu café da manhã. Das 9h às 10h, de segunda à sexta-feira, ele apresenta um programa de rádio. Ao retornar, sempre tem algo para fazer (incluindo atendimentos paroquiais, pastorais ou até mesmo financeiros, já que ele também administra a Paróquia).
A preparação para a missa do meio-dia vem logo na sequência – e como ele reveza com o outro vigário, diz que se não celebra a Santa Missa sobra um tempo para praticar atividades físicas.
O almoço é servido às 12h40 e o trabalho recomeça logo depois da refeição e do descanso. Atendimentos e atividades diversas são algumas das ações realizadas durante a tarde. E quando viu, já é hora da Missa da noite.
Acabou? Nada disso. Padre Jean conta que depois da missa sempre tem mais alguma coisa para resolver. “Ou reunião ou um ensaio da banda”. Essa entrevista foi realizada, inclusive, entre o intervalo dessas duas atividades. Enquanto se preparava o Sacerdote nos contava a sua rotina.
Sobre ela, ainda acrescenta que gosta de assistir a séries, documentários e outros conteúdos diversos. “Como estou envolvido com música, gosto muito de acompanhar alguns cantores, assistir aulas de canto”.
E por falar em canto, em Julho ele lançou seu primeiro DVD, chamado Apocalipse, e você pode curtir a música Cheguem para a Festa neste link.
Todas as manhãs, Padre Jean Patrik conversa com um público enorme em seu programa de rádio. Como jornalista, sabe da importância da comunicação para as pessoas. Foto: Taila Schneider Delgado
Padre Jean Patrik é um exemplo de como os jovens podem dar oportunidade para a Palavra de Deus e conhecer melhor a vocação sacerdotal. Ao citar o Papa Bento, ele diz que Deus não nos tira nada, e sim nos dá tudo.
“O medo e a dúvida vão sempre existir, mas a gente precisa dar a possibilidade para conhecer melhor. Quando eu me dei a oportunidade de conhecer mais, e pensar no que a vocação significava, eu entendi que era uma escolha para mim”.
Ao citar o medo, o Sacerdote explica que a vida é feita de renúncias e, sempre que contava que iria assumir a vocação, as pessoas o questionavam sobre o matrimônio. “Elas se esquecem que até o matrimônio tem renúncias. Eu vivo a minha vida normal e essa é apenas uma renúncia que eu fiz”.
Acompanhar as notícias diárias pelo Twitter, conversar com as pessoas e a comunidade pelo Facebook e Instagram; cantar rap, usar gírias, andar de bicicleta, correr e fazer academia. Talvez essas não sejam características que você esteja esperando de um Padre, porém, as encontra no Pároco da nossa história.
O devoto de Nossa Senhora de Belém lidera uma das maiores Igrejas da sua cidade natal, que tem mais de 200 anos de história. Com tantos desafios, não se cansa de inspirar outros jovens que o seguem. “Eu acho que hoje inspiro mais até do que imagino. Quando lembro do meu tempo, consigo ver que eu admirava o Padre, ele era uma figura especial. Hoje, sei que muitos jovens e adolescentes me olham bastante, se inspiram, porque sou acessível e converso com eles”.
Muita gente hoje esquece de ver a maravilha que é viver a Igreja. Isso acontece porque costuma colocar todos os pontos negativos antes dos positivos, deixando de viver a experiência incrível que é viver na Palavra por preconceitos ou pré-julgamentos.
“Todo mundo olha, mas ninguém vê o que está escondido. E quem olha e vê o tesouro que está ali é capaz de deixar tudo para encontrar esse tesouro”, constatou fazendo referência ao Evangelho da Santa Missa do dia, o qual dizia:
“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e esconde-o novamente e, na sua alegria, vai, vende tudo o que tem e compra esse campo” ( Mateus 13, 44).
Um sacerdote jovem, preparado para o futuro, também espera muito da Igreja do amanhã. Nesse sentido, para ele, o Papa Francisco tem se mostrado muito visionário, porque entendeu que a Igreja do futuro será aquela onde teremos a cultura do encontro.
“Eu vim de uma Igreja alegre, e eu entrei nela por causa da alegria. A Igreja precisa ser feliz, além de um espaço com encontros reais, de abraços, escutas e muito afeto. Uma Igreja, portanto, que se encontra na partilha e na escuta”.
Outra característica que ele considera importante é que a mensagem de Deus seja compreendida desde as crianças até os mais velhos. “Na graduação de jornalismo, eu entendi que a mensagem precisa chegar para todas as pessoas, e eu levo isso nas minhas pregações. Aqui na Igreja temos esse público diferente, e a minha mensagem precisa ser entendida”.
Quanto mais as pessoas entendem a Palavra de Deus, mais elas se conectam a Ele e compreendem o significado do amor. “Hoje queremos viver a experiência de Deus e viver nas palavras do Senhor, para isso precisamos entender o que Ele nos ensinou e praticar a fé”.
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