Maria Teodora Voiron: a madre francesa que deixou um tesouro providencial escondido no Brasil

Ela teve uma vida de dedicação e também deixou surpresas, como o curioso caso das moedas encontradas após a sua morte com um bilhete. Maria Teodora Voiron, nascida Louise Joséphine Voiron em 6 de abril de 1835 em Chambéry, França, veio de uma família humilde que lhe ensinou valores profundos de serviço e dedicação ao próximo. Em 1852, ingressou na Congregação das Irmãs de São José de Chambéry e adotou o nome Maria Teodora. Em 1859, muito jovem e considerada frágil por quem julgava seu porte físico, foi enviada ao Brasil, onde sua missão de vida começaria a tomar forma.

A vida na França era em um lar profundamente cristão. Era a primeira filha de Claude Voiron e Catherine Héritier, falecida em janeiro de 1846, com 30 anos. Da família, saíram quatro religiosas de São José de Chambéry, das quais três passaram a vida no Brasil, e um padre, que também viveu aqui durante seis anos.

Aos três anos de idade, Luísa Josefina foi acometida de convulsões. Seus pais a levaram ao Santuário de Nossa Senhora de Myans, próximo de Chambéry. Participaram da missa e prometeram que, se a pequena ficasse curada, fariam essa peregrinação todos os anos até que ela atingisse 20 anos. No final da celebração, viram sua filha recobrar a liberdade dos movimentos tão bem que ela voltou para Chambéry a pé com eles.

De 1855 a 1859, Maria Teodora foi professora no Externato de Chambéry. Ela veio ao Brasil para ser a Superiora do grupo, mas ao chegar em Itu, o Bispo Dom Antônio Joaquim de Mello achou que ela era muito jovem – uma criança – para ser a superiora. Por esse motivo, Irmã Maria Justina foi mantida no cargo e só em novembro de 1859, Madre Maria Teodora foi reconduzida ao cargo. No dia 13 de novembro de 1859, ocorreu a fundação do Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, a primeira escola no Estado de São Paulo para a educação feminina. Acreditava que a educação deveria ser para todas as mulheres e enfrentou parte da sociedade da época para garantir que filhas de pessoas escravizadas tivessem acesso ao estudo. Ela colocou em prática um método educacional que combinava ensino básico com habilidades práticas, o que proporcionava às jovens a chance de um futuro melhor.

Grandes foram as dificuldades sofridas nos primeiros tempos: dificuldades financeiras, de clima e alimentação. Seus sofrimentos morais foram muito maiores: a incompreensão e a divergência de opinião entre seus superiores do Brasil e sua superiora da França fizeram surgir dúvidas na Madre Geral. Suportou essas desconfianças com humildade, caridade e prudência verdadeiramente heroicas.

Em 1864, abriu uma escola para crianças negras. Por volta de julho de 1867, aceitou a direção da Santa Casa de Itu. Em 1871, Madre Maria Teodora assumiu a direção da Santa Casa de São Paulo. Durante seu governo, vários colégios foram criados, os quais deram ao Brasil mulheres fortes, instruídas, bem formadas e profundamente cristãs. Ela abraçou numerosas obras de caridade nos 60 anos de seu superiorato: orfanatos, asilos para idosos e crianças abandonadas, hospitais, leprosários, escolas para meninas pobres.

Em 1920, sofreu uma fratura no fêmur, em consequência de uma queda. A partir daí, com 85 anos, a cadeira de rodas foi o seu único meio de locomoção. Em 1921, pediu e obteve a demissão do seu cargo de Provincial. Mergulhou-se então no silêncio e na humildade, unindo seus sofrimentos ao de Nosso Senhor.

Em 17 de julho de 1925, Maria Teodora faleceu confortada pelos sacramentos da Santa Igreja. A partir de 13 de dezembro de 1998, seus restos mortais foram transladados do cemitério da Comunidade para a Igreja Nossa Senhora do Patrocínio. São muitas as pessoas que vão ao local solicitar sua intercessão junto a Deus e agradecer os favores obtidos por seu intermédio.

Foto: reprodução

Em Itu, o Centro de Promoção Madre Teodora continua a missão iniciada pela francesa de coração brasileiro. O centro socioeducativo atende crianças de 6 a 11 anos em situação de vulnerabilidade social. Oferece atividades complementares no contraturno escolar, como aulas de informática, inglês, taekwondo, música, esportes, dança e lazer. Além disso, fornece refeições equilibradas, que garantem um ambiente saudável e propício ao desenvolvimento integral das crianças​ (DA RUA)​​ (Nominis)​.

A curiosa descoberta das Moedas

Décadas após a morte de Maria Teodora, uma descoberta deixou sua memória ainda mais viva. Durante uma avaliação no convento onde viveu, que passava por muitas crises financeiras, foram encontradas 714 moedas de ouro escondidas em um móvel antigo. Junto às moedas, um bilhete escrito por Maria Teodora explicava que aquele tesouro estava destinado a futuras reformas e necessidades da congregação.

As moedas e o recado da Madre são agora exibidos no Museu da Casa Brasileira, como um símbolo de sua dedicação e preocupação com o bem-estar das futuras gerações​. O processo de beatificação de Madre Teodora iniciou-se quando Madre Josephina D’Anunciação Gex, Superiora Provincial das Irmãs de São José, escreveu ao Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo Silva, para se informar sobre as graças relatadas por cartas recebidas por intercessão de Madre Teodora. Em 1928, o Arcebispo pediu para não se precipitar até que fossem comprovados os dados das pessoas agraciadas. Depois de seis anos, Madre Josephina obteve autorização e publicou as graças recebidas no folheto “Vozes do Patrocínio”. Em 1989, o Papa João Paulo II concedeu a Madre Teodora o título de Venerável. Atualmente, o processo de beatificação da Venerável Madre Teodora está em Roma e necessita apenas de uma graça comprovada para que ela seja beatificada.