A passagem bíblica de Mateus 10, 34-37 muitas vezes causa estranheza e até confusão entre os fiéis:
“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim separar o homem de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra; e os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”.
Em uma leitura rápida, parece uma mensagem contraditória em relação ao restante do Evangelho, já que Jesus é retratado como o Príncipe da Paz. Porém, é preciso entendê-la com contexto. O Messias não veio trazer a paz imaginada pelos judeus, que sonhavam com a vinda de um rei supremo cujas ordens e ideias todos acatariam de forma soberana e sem questionamentos.
Para entender essa passagem, é preciso perceber que Jesus está falando sobre a divisão que Sua mensagem traz ao mundo. Ele sabia que Sua vinda exigiria uma escolha radical: seguir ou não seguir Seus ensinamentos. Essa decisão, por sua natureza, causaria divisões, até mesmo entre os laços familiares mais próximos.
O Papa Bento XVI, na obra “Jesus de Nazaré”, reflete que a espada mencionada por Jesus simboliza a necessidade de uma decisão. A mensagem de Cristo é tão transformadora e radical que, inevitavelmente, causará separação entre aqueles que a aceitam e aqueles que a rejeitam, temem ou não têm a coragem necessária. Não se trata de uma influência à violência, mas da consequência natural de Sua vinda ao mundo, feita por amor.
Seguir Jesus não é garantia de uma vida livre de dificuldades. Pelo contrário, Ele próprio avisou que Seus seguidores enfrentariam perseguições e tribulações. A “espada” é também uma metáfora para a divisão interior que cada cristão deve fazer ao escolher Jesus acima de tudo e de todos. É a renúncia aos próprios desejos.
Jesus exige de Seus seguidores — no momento da frase, os seus discípulos — uma prioridade absoluta. Quando Ele diz que quem ama pai ou mãe mais do que a Ele não é digno dele está reafirmando o primeiro mandamento: amar a Deus acima de todas as coisas. Esse amor não diminui o amor pelos outros, apenas o ordena de maneira correta. O amor a Cristo em primeiro lugar capacita um amor verdadeiro e sacrificial pelos outros.
Por tudo isso, a decisão de seguir a Cristo pode criar conflitos, porque desafia os valores e as prioridades do mundo. Seguir Jesus significa colocar Seus ensinamentos acima de tudo. Isso pode gerar divisões e dificuldades. Contudo, é também um convite à fidelidade radical e ao amor mais sagrado e poderoso.
A verdadeira paz que Jesus traz não é a ausência de conflitos, mas a reconciliação com Deus e a promessa de uma vida eterna.
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