Nem tudo o que parece virtude é verdadeiramente virtuoso. Nem toda boa ação é, de fato, boa aos olhos de Deus. Essa é uma das lições do ensinamento de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e autor da frase em latim que foi eternizada: Ad maiorem Dei gloriam (“Para a maior glória de Deus”).
A expressão resume uma espiritualidade exigente: fazer tudo, absolutamente tudo, por Deus, e não por vaidade, aparência ou busca de reconhecimento humano. Na prática, significa dar um passo além do mínimo que Deus pede. É ir além e escolher o “algo mais” que honra verdadeiramente ao Senhor.
Antes de se converter, Inácio era um soldado honrado, destemido e disciplinado. Um homem de princípios, mas não da reta intenção. Sua vida era guiada por uma espécie de “etiqueta”, o desejo de glória pessoal, prestígio e fama. Isso não era, porém, uma verdadeira ética cristã, aquela que coloca Deus como finalidade suprema de cada escolha.
Durante a convalescença após um grave ferimento de guerra, Inácio conheceu as vidas de Jesus e dos santos e as leituras mexeram com ele de verdade. As histórias lidas de cavalaria lhe davam alegria passageira, já os relatos da santidade lhe provocavam uma consolação que permanecia. A pergunta que mudou sua vida foi: “E se eu fizesse como eles fizeram?”. A resposta o conduziu a renunciar à própria glória para buscar, com todas as forças, a glória de Deus.
Segundo Santo Inácio, não basta agir corretamente: é preciso ter a intenção correta. Se alguém cumpre todos os seus deveres, mas o faz apenas por vaidade ou medo de críticas, está seguindo uma ética minúscula, não a verdadeira ética cristã.
Essa purificação das intenções exige um esforço constante. Como escreveu Dom Pedro Luiz Stringhini, “Deus não depende do nosso reconhecimento, enquanto ao ser humano é salutar glorificá-lo”. O Bispo também escreveu:
“A glória de Deus consiste em AMAR; a glória de Cristo consiste em SERVIR. Colocar-se a serviço é ser luz do mundo! Um dia Cristo disse: ‘o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos’ (Mc 10,45). A missão dos seus ministros da Igreja é servir: evangelizar, ir ao encontro, acolher, consolar, socorrer, a exemplo do bom samaritano, curar as feridas do corpo e da alma!”.
1. Fidelidade no casamento
Nesse exemplo, não se trata de fidelidade por medo do julgamento social ou para manter uma imagem respeitável, mas de um compromisso firmado diante de Deus, sustentado pelo amor que vem Dele e pelos Seus ensinamentos.
2. Profissional que se doa no trabalho
Alguém verdadeiramente cristão busca sustentar sua casa, educar seus filhos, caso os tenha, e testemunhar o Evangelho mesmo no ambiente profissional, não por status ou ambição, mas porque vê nisso uma missão recebida do próprio Deus.
A glória de Deus se manifesta quando o ser humano vive sua vocação com autenticidade, generosidade e serviço, como recordou Dom Pedro Stringhini.
Jesus é a luz do mundo (Jo 8,12). Da mesma forma, também diz a seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo. \[…] Que vossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam as boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,14.16).
Glorificar a Deus é o fim de toda existência humana. E, como ensinou Santo Inácio de Loyola com sua vida e seus escritos, fazer tudo para a maior glória de Deus é o que dá sentido, direção e plenitude a cada ação.
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