Fome, injustiça, violência e exclusão social. Essas palavras, tão presentes na realidade do mundo atual, também compõem o quadro que representava um outro tempo, muito anterior ao nosso: a Europa feudal, época em que viveu, na Itália, São Francisco de Assis.
A preocupação com os pobres e com o abismo que se interpunha entre a riqueza e a pobreza era um tema central na vida do santo. Os problemas que o mundo enfrentava no início do século XIII, por incrível que pareça, lembram muito os que enfrentamos hoje.
Essa semelhança do tempo de São Francisco com o momento que vivemos foi, inclusive, observada pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Fratelli Tutti, publicada em Assis no dia 3/10/2020, junto do seu túmulo:
“Naquele mundo cheio de torreões de vigia e muralhas defensivas, as cidades viviam guerras sangrentas entre famílias poderosas, ao mesmo tempo que cresciam as áreas miseráveis das periferias excluídas. Lá, Francisco recebeu no seu íntimo a verdadeira paz, libertou-se de todo o desejo de domínio sobre os outros, fez-se um dos últimos e procurou viver em harmonia com todos. Foi ele que motivou estas páginas”.
Pequeno de estatura, alegre de temperamento, Francisco nasceu em Assis, região italiana da Úmbria. Veio ao mundo entre a riqueza e a vida mundana. Aos 22 anos, ele e seus amigos foram à guerra contra os senhores feudais da época lutar pelos direitos da burguesia emergente e ele acabou sendo feito prisioneiro. Ao retornar, adoeceu e, acamado, tinha como único contato com o mundo exterior a luz de uma réstia de sol que entrava em seu quarto: foi quando a gratidão pela natureza começou a tocar seu coração.
Recuperado, Francisco passou a passear pelos arredores. Um dia, um leproso se aproximou dele e pediu-lhe esmolas. Ele beijou o homem, como uma forma de se aproximar de Cristo. Sentiu-se imensamente feliz. Francisco renunciou então a toda a sua fortuna e casou-se, como disse, com a “Senhora Pobreza”.
A vida do santo e sua obra trazem uma mensagem simples: deve-se viver verdadeiramente como Jesus viveu e acumular posses enquanto outros sofrem é o contrário disso.
O coração de São Francisco
Francisco enfrentava pessoas poderosas, expondo-lhes a ganância, o mundanismo e a corrupção. Propagava o respeito à natureza, como obra de Deus, fonte de vida, que deve ser respeitada e pela qual devemos nos alegrar e ser diariamente gratos.
“Que o homem todo se espante, que o mundo todo trema, que o céu exulte, quando sobre o altar, nas mãos do sacerdote, está Cristo, o Filho de Deus vivo! (Jo 11,27).
Oh! grandeza admirável, oh! condescendência assombrosa, oh! humildade sublime, oh! sublimidade humilde, que o Senhor de todo o Universo, Deus e Filho de Deus, se humilhe a ponto de se esconder, para a nossa salvação, nas aparências de um bocado de pão. Vede, irmãos, a humildade de Deus e derramai diante d’Ele os vossos corações (Sl 61,9); humilhai-vos também vós, para que ele vos exalte (1Pe 5,6;Tg 4,10). Em conclusão: nada de vós mesmos retenhais para vós, a fim de que totalmente vos possua aquele que totalmente a vós se dá”. (Francisco de Assis, Escritos, Carta a Toda a Ordem).
O seu coração é uma inspiração para o nosso tempo: o mundo pede que reencontremos, no exemplo desse coração, a conexão com todos os irmãos e com a natureza.
Essa ligação intensa com Francisco e seu exemplo é o que vemos na Toca de Assis, fraternidade nascida no seio da Santa Igreja Católica, que encontra, no exemplo de São Francisco, a alegria de serem pobres, servindo o Filho de Deus pela perpétua adoração e em Sua presença nos pobres abandonados nas ruas.
O irmão Agraziato, da Toca de Assis, fraternidade inspirada em São Francisco, conta como o carisma de Francisco tem dois pilares: o amor ao Santíssimo Sacramento e o cuidado com o pobre sofredor de rua.
“Francisco andava pelas praças, pelas cidades, levando sempre a Palavra de Deus, a Palavra do Evangelho. Para ele, era preciso ‘pregar sempre o Evangelho, e se preciso for, com palavras’. Francisco pregava também sem usar uma palavra, só com o exemplo, com a atitude. Inspirados por ele, temos a nossa missão itinerante”.
São muitas as casas, espalhadas por todo País: Paraná, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Minas Gerais, e também no Equador. Irmão Agraziato nos conta que, em todas elas, o cuidado do pobre de rua é a principal atividade das missões.
Toda semana eles vão para as ruas para dialogar com as pessoas em situação de rua, criando familiaridade e confiança: “Na medida do possível, da providência, a gente leva roupas, cobertas”. Na maioria das casas, há também o trabalho de acolhimento.
“Temos dois perfis de casas: um para pessoas bem debilitadas, ou já de idade, que demandam mais cuidados; em outros lugares, o perfil é de reinserção social, com apoio de assistente social, orientação para tirarem os documentos, para encaminhamento terapêutico, se necessário”, diz o Irmão Agraziato.
Esse também é o caminho que inspira a Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus. Sua missão é “acolher aqueles que o mundo rejeita”, como colocam em sua página na internet. São três as Dimensões do Carisma assumidas pela fraternidade, inspirados na Vida de Jesus Cristo: anunciar a Boa–Nova (Missão), curar e alimentar os necessitados (Assistência e Saúde), e retirar-se a sós para Orar (Contemplação). Essas três dimensões são também as assumidas por São Francisco para sua vida.
A fraternidade também se espalha por todo País, com uma missão no Golfo de Gonaives, no Haiti. Seu fundador, Frei Francisco, buscava, seguindo o ideal franciscano, lutando contra a lepra dos dias atuais: a dependência química.
“A lepra era símbolo de maldição e pecado. São Francisco quebrou esse estigma e abriu casas para cuidar dos doentes. Ser franciscano hoje é querer abraçar as lepras deste século: as drogas, o alcoolismo, o marginalizado, o excluído, o deficiente, o menor abandonado, enfim, tudo o que compõe a exclusão”.
A filosofia de trabalho deles no Lar São Francisco de Assis, voltado para a dependência química, se firma no tripé oração, trabalho e conscientização, e o processo de recuperação ocorre em três etapas: desintoxicação, conscientização e reintegração.
Hoje, a Associação Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus engloba a gestão de hospitais, ambulatórios médicos de especialidades, pronto-socorro, farmácias, albergues, casas-abrigo para doentes em tratamento de saúde, restaurante popular, comunidades terapêuticas de recuperação, projetos educacionais para crianças e adolescentes, dentre muitos outros braços.
A inspiração do coração de Francisco é cheia de caridade e capaz de transformar a vida de muitos. Podemos, seguindo o seu exemplo, superar os ódios e a ganância, a falta de empatia e os julgamentos, rumo a um novo estilo de vida, com mais cordialidade nas relações, com respeito e constante encantamento no amor de Deus pela Sua Criação.
Quer conhecer mais o santo? Assista também à série “O Pequeno Francisco”, clicando aqui.
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