O dia em que Guido Schäffer viu Jesus e recebeu uma missão

A biografia do venerável Guido Schäffer é, realmente, “coisa de cinema”. Uma vida curta, intensa e com muitas histórias tocantes e bonitas. O jovem médico, surfista e seminarista brasileiro que encantou o Rio de Janeiro com sua fé e simplicidade, viveu ainda na infância uma experiência que marcaria para sempre o seu caminho. Aos seis anos, ele viu Jesus em um sonho.

Como conta sua mãe, Maria Nazareth Schäffer, essa experiência nunca foi esquecida. “Eu gostava de colocar meus filhos pra dormir. À noite, eu aproveitava para perguntar como foi o dia, eles contavam e a gente rezava. Eu ficava cantando até que dormissem”. Ela lembra que, naquele dia, o marido estava ouvindo um programa de cantos gregorianos quando Guido perguntou de que se tratava. A mãe explicou e o filho perguntava ainda mais, sempre querendo entender sobre o mundo e sobre a fé.

“Dali a pouco, ficou quietinho e eu achava que ele tinha dormido. Eu escutei um fungado no nariz e perguntei ‘Guido, você tá gripado?’. E ele disse ‘não, eu tô chorando’. Eu perguntei por que e ele disse ‘porque eu vi Jesus, mamãe’”, recorda Nazareth.

A criança falou que o Senhor era lindo e tinha dito para obedecer aos pais e ir à Missa todo domingo, pois ele iria levar muitos amigos para Jesus. A mãe conta que essa sempre foi uma vontade dele e que conseguiu. Foi a partir desse encontro que, sem perceber de imediato, Guido começou a trilhar a missão que mudaria a vida de tantas pessoas.

Embora tenha crescido entre as ondas do mar e a correria dos estudos de medicina, no fundo do seu coração estava sempre vivo aquela primeiro chamado: viver uma vida de amor a Deus e atrair outros para a fé.

A vida de Guido

Guido nasceu em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, em 22 de maio de 1974, e cresceu em uma família católica. Desde cedo, conciliava a paixão pelo surfe com uma sensibilidade espiritual fora do comum. Fez faculdade de medicina e, durante anos, exerceu sua profissão com competência e dedicação. Mas seu jeito de trabalhar ultrapassava a técnica: Guido enxergava em cada paciente um irmão e servia com um amor que vinha de Deus. Ele se dedicou à Pastoral da Saúde e era médico de pessoas em situação de rua.

A missão recebida de Jesus se manifestava concretamente no cuidado com os pobres, no serviço voluntário com as Irmãs Missionárias da Caridade – ordem fundada por Madre Teresa de Calcutá –, e no testemunho silencioso de fé dentro dos hospitais, praias e comunidades carentes.

Em busca de aprofundar ainda mais sua entrega, tomou a decisão de deixar a carreira médica para ingressar no seminário da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Durante o discernimento, foi profundamente tocado pela leitura do livro “Irmão de Assis”, sobre São Francisco, o que confirmou seu desejo de ser Padre. Muitos colegas e amigos relatam que, mesmo nos estudos teológicos, Guido mantinha a alma leve, o sorriso fácil e a coragem de viver a fé sem medo.

Entretanto, antes de ser ordenado sacerdote, Guido faleceu no dia 1º de maio de 2009, aos 34 anos, enquanto surfava na Praia do Recreio, uma de suas grandes paixões. No dia do acidente, a prancha que usava tinha a inscrição: “Estreita é a porta, apertado é o caminho que leva à vida” (Mt 7,14).

O impacto da sua vida gerou uma onda de fé. Em 2015, o Vaticano reconheceu suas virtudes heroicas e o declarou “Servo de Deus”, primeiro passo no processo de canonização. Guido é conhecido por muitos como “o anjo surfista” e inúmeros testemunhos relatam graças alcançadas pela sua intercessão. Em 20 de maio de 2023, ele foi considerado Venerável, por ter vivido heroicamente as virtudes cristãs. Antes de se tornar Santo, é preciso ser titulado Beato, depois da comprovação da veracidade de um milagre que tenha sido obtido por sua intercessão (caso analisado pela Congregação para a Causa dos Santos).

O mais importante título, o de Santo, última etapa do processo de canonização, se dá quando é comprovada a existência e confirmação de um segundo milagre. Nos últimos anos, têm aumentado os relatos de milagres que teriam sido realizados pelo jovem surfista. Um dos mais comentados é o caso do cardiologista Bernardo Amorim que, após contrair uma doença no sistema nervoso, perdeu os movimentos corporais.

Segundo a mãe do cardiologista, ele se recuperou rapidamente e de forma surpreendente, antes do prognóstico apresentado pelos médicos. Ela atribui o fato às muitas orações feitas a Guido com pedidos por sua cura.

Há outros relatos que atribuem ao seminarista carioca a superação de enfermidades, como a cura da diabetes de uma freira, uma criança que escapou de uma hipotermia e o caso de uma dona de casa que rezou fervorosamente para Guido, em busca de vencer uma diverticulite no marido. A cura realmente aconteceu sem a realização de nenhuma cirurgia. Seu filho era amigo do surfista.

Guido Schäffer deixou a mensagem que recebeu de Jesus quando era apenas uma criança: a missão de chamar muitos amigos para Deus. Ele mostrou que a santidade não é distante, mas nasce no dia a dia, na entrega sincera e no amor sem medidas.

Há 10 anos, um evento é realizado no dia 1° de maio na Praia do Recreio, no Rio de Janeiro. O “D.I.A. na praia” reúne fiéis que lembram da vida de Guido a serviço do Pai e dos irmãos. O termo D.I.A. é a abreviação de “Duc In Altum” e significa mergulhar em águas mais profundas. Na programação, bênção a pranchas de surfe, recitação do Terço, adoração ao Santíssimo Sacramento e Santa Missa.

Para conhecer mais sobre a história de Guido e acompanhar o processo de sua causa de beatificação, é possível visitar o Memorial Guido Schäffer, no Rio de Janeiro, ou acessar o site oficial guidoschaffer.com.br.