Martoni Moreira Sampaio, professor licenciado em Educação Física, considera sua profissão uma vocação, um chamado a servir. E o motivo começou muito antes da sua graduação ser concluída e, portanto, antes do mestrado em fisiologia do exercício.
A história lembra os chamados que aparecem no cotidiano e mudam todo o rumo da própria vida.
“Em um ponto de ônibus, indo para a Universidade Federal do Espírito Santo onde cursava Educação Física, subitamente, uma mulher me reconheceu como estudante pelo uniforme. Esse “anjo” parou o carro bem próximo a mim e perguntou se eu queria estagiar em um Hospital para reabilitação de pessoas com deficiência. Prontamente, respondi que sim. O despertar surgiu, a partir daquela pergunta, eu tinha, então, 20 anos de idade”.
Trabalhar com pessoas com deficiência não fazia parte de seus planos, porém, se transformou em seu propósito.
Enquanto trabalhava no Hospital (Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo), Martoni percebeu que havia uma extensa área de cimento usada apenas como estacionamento.
A ideia de transformar o espaço para a prática esportiva agradou a administração do Hospital e, a partir daquele momento, ele começou a se envolver com o Basquetebol em Cadeira de Rodas.
“Descobri no esporte um importante meio de reabilitação e inclusão de pessoas no meio social”.
Por meio de doações, conseguiram adaptar o lugar e em uma oficina de cadeira de rodas onde trabalhavam várias pessoas com deficiência, fabricaram os aros para as cestas do esporte. Porém, no início, a prática ainda era amadora e improvisada, com cadeiras de rodas emprestadas e de uso diário.
No espaço onde tudo começou, com os primeiros atletas e o técnico começando os treinamentos. Fonte:Arquivo pessoal
“Logo no início, o objetivo era somente a reabilitação física e a inclusão social da pessoa com deficiência física. Em seguida, o sonho mais ousado de, um dia, aqueles que persistissem, buscassem a melhoria no desempenho para a prática da modalidade com participações em competições nacionais e internacionais”.
Quando começou, não havia veículos disponíveis para transporte de pessoas com deficiência, ou seja, não tinha acessibilidade. Mesmo assim, Martoni passou a treinar suas primeiras equipes masculinas, e ia se consolidando como um jovem técnico.
“Vi de perto a primeira realização de um sonho. Sabia que o esporte de alto rendimento era algo muito difícil de ser alcançado e extremamente desafiador. Dessa forma, vislumbrando a possibilidade de aliar o esporte à reabilitação e inclusão de pessoas com deficiência, me “agarrei”, com todo o meu esforço àquela oportunidade real”.
Trabalho de inclusão profissional da pessoa com deficiência promovido junto ao Hospital Filantrópico Santa Casa de Misericórdia de Vitória. Fonte: Arquivo Pessoal
Demorou um tempo até que Martoni pudesse treinar sua primeira equipe feminina de basquete em cadeira de rodas. Foi em 2005, quando uma paciente internada pediu a ele que criasse uma equipe.
Além deste, também criou um projeto chamado Paralímpico do Futuro, que atendia crianças com mais de 8 anos. “Cheguei a atender 18 crianças com deficiência. Hoje, o projeto está paralisado devido à falta de estrutura, recursos humanos e materiais”, lamenta o treinador.
Projeto esportivo com crianças em cadeira de rodas. Fonte: Arquivo pessoal
Já em 2011 foi a vez de mudar de modalidade e, pela primeira vez no Espírito Santo, treinou o time de Rugby. “Tal modalidade em cadeira de rodas é específica para pessoas com tetraplegia ou com deficiências equivalentes em, no mínimo, três membros. No ano de 2012, foram compradas as primeiras cadeiras de rodas de Rugby e formei uma equipe masculina”.
Além do basquetebol, o treinador também ajudou a formar o time de Rugby. Fonte: Arquivo pessoal
O time feminino de basquete em cadeira de rodas é o atual campeão brasileiro da modalidade. Essa conquista, segundo o treinador, é o resultado de um esforço de mais de 10 anos, quando tudo começou.
Mesmo com a falta de apoio e infraestrutura adequada – além da acessibilidade -, o treinador segue acreditando na reabilitação através do esporte e na importância da prática de esportes de alto rendimento.
Além disso, também percebe, ao longo do desenvolvimento, melhoria na inclusão das pessoas com deficiência.
“Passamos a usar a ferramenta do esporte também com a finalidade de capacitar a pessoa com deficiência para atuar no mercado de trabalho. Em parceria com várias empresas, incluímos centenas de pessoas com deficiência na atividade laboral”.
Primeira conquista do time feminino de basquete em cadeira de rodas. Fonte: Arquivo pessoal
A profissão escolhida por Martoni transformou sua vida. Isso porque, como visto, ele dedicou sua história ao esporte paralímpico, em especial, ao basquete em cadeira de rodas.
Hoje, o treinador considera como suas motivações a realização pessoal e profissional, principalmente quando consegue perceber as pessoas com deficiência pertencendo realmente à sociedade. Para ele:
“Não faltam desafios e não temos pressa para vencê-los. O que perseguimos diariamente são os meios de superá-los. Para nós, a jornada é tão ou mais importante do que o próprio desafio. Ele é, sem dúvida, a nossa motivação para não parar. O que nos motiva, de verdade, é que, quando alcançamos um desafio, já estamos à procura de outro”.
Muita coisa mudou para melhor desde que começou. Contudo, uma permanece igual desde quando era apenas um estagiário.
“A minha maior inspiração é a certeza de que podemos transformar vidas nas rodas do esporte. É poder contribuir com uma causa social repleta de excludentes. É fazer pela pessoa com deficiência e ver nela mesma a sua evolução como pessoa, o seu próprio potencial, seu processo de empoderamento e emancipação”, concluiu.
Serviço de callcenter para atendimentos médicos criado por nós, 100% com pessoas com deficiência. Fonte: Arquivo pessoal
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