O que é a Pastoral da Cultura e como aproxima fé e diversidade na Igreja Católica

O que é a Pastoral da Cultura e como aproxima fé e diversidade na Igreja Católica Encenação do nascimento de Jesus com cenário, trilha sonora e expressões que representam as diversas regiões do Brasil./Foto: reprodução @shalomcuritiba

Desde os tempos dos primeiros cristãos, a Igreja sempre dialogou com a cultura. Papas contemporâneos têm reforçado esse laço. “Desde o início do meu Pontificado, aproveitei todas as ocasiões para recordar como é importante o diálogo entre a Igreja e as culturas. Este é um âmbito vital não só para a nova evangelização e para a inculturação da fé, mas também para o destino do mundo e para o futuro da humanidade”, afirmou São João Paulo II, grande defensor do papel evangelizador da arte e da cultura. Bento XVI também destacou que a cultura é o “campo vital” da missão da Igreja e o Papa Francisco continuou esse caminho ao propor pontes com o planeta plural em que vivemos.

Em 21 de maio, é celebrado o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, instituído pela Unesco. A data convida à reflexão sobre como diferentes culturas podem coexistir e enriquecer mutuamente. Na Igreja Católica, essa missão ganha forma concreta por meio da Pastoral da Cultura, que promove o encontro entre o Evangelho e as expressões culturais dos povos.

Essa iniciativa da Igreja Católica reconhece o valor dos diferentes saberes, expressões e formas de viver. Em tempos de desafios ao diálogo e à convivência, é essencial para fazer da fé um caminho acessível, encarnado na realidade e enriquecido pela diversidade.

Mais do que evangelizar culturas, a Igreja é chamada a viver a fé dentro delas, que é o cerne da Pastoral da Cultura, proposta pelo Vaticano como ponte entre o Evangelho e as sociedades.

Por trás de toda expressão humana — arte, linguagem, valores, espiritualidade, ciência — há algo que transcende: a busca pelo sentido da vida. O documento “Para uma Pastoral da Cultura”, do Pontifício Conselho da Cultura, propõe uma reflexão ousada e atual: não basta anunciar o Evangelho às culturas; é preciso deixar que a fé dialogue com elas, transforme-as e, ao mesmo tempo, seja por elas modelada.

Cultura não é ornamento: é parte do ser humano

A Igreja vive, desde os seus primórdios, o encontro com diferentes culturas. Esse contato não é algo acessório ou periférico. Como ensina o documento, “é próprio da pessoa humana necessitar da cultura para chegar a uma autêntica e plena realização” (cf. Gaudium et Spes, n. 53). Ou seja, a cultura é o espaço onde a fé se encarna — como o próprio Verbo de Deus se encarnou em uma cultura concreta, em um tempo e espaço determinados.

Ao refletir sobre os novos desafios do mundo contemporâneo, o Vaticano alerta: há culturas profundamente abaladas e secularizadas, e outras que até hoje não haviam sido tocadas pelo cristianismo. Neste cenário, a Igreja precisa renovar sua ação pastoral, criar pontes e não apenas proclamar verdades. Como alertou São João Paulo II: “uma fé que não se torna cultura é uma fé não plenamente acolhida, não inteiramente pensada e nem fielmente vivida”.

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Pastoral da Cultura

O documento destaca que a evangelização não pode ser apenas um discurso religioso. É preciso tocar o “mistério do homem”, que é também mistério de Deus. Cada cultura — com suas expressões de beleza, verdade, sofrimento e esperança — é um campo sagrado onde o Evangelho pode florescer.

A Pastoral da Cultura se torna, então, um espaço de discernimento, escuta e diálogo. Não para relativizar a fé, mas para permitir que ela se enraíze verdadeiramente. Como afirma o texto: “A missão de uma pastoral da cultura é restituir ao homem a sua plenitude de criatura à imagem e semelhança de Deus”.

Ao olhar para a Bíblia, o documento recorda a vocação de Abraão como um sinal claro da ruptura cultural que Deus muitas vezes provoca: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai” (Gn 12,1). Abraão rompe com sua cultura de origem para receber uma promessa e inaugurar um novo tempo. Isso mostra que a fé não é gerada pela cultura, como um mito ou tradição ancestral, mas vem da livre iniciativa de Deus.

Assim também acontece com a Revelação cristã, que assume a linguagem e os códigos humanos, vem de fora, de cima, do Alto. Portanto, a inculturação do Evangelho não é submissão, é elevação; não é diluição, mas transformação.

A cultura é como o solo onde a semente da fé é lançada. Sem esse solo, a Palavra pode até ser proclamada, porém, sem germinar. E sem a luz da fé, a cultura corre o risco de se fechar em si mesma e perder o horizonte da transcendência.

O desafio da Igreja, hoje, é duplo: não apenas evangelizar culturas distantes, mas reevangelizar culturas onde o cristianismo se tornou apenas uma lembrança estética ou folclórica. Por isso, a pastoral da cultura é urgente — e estratégica.

Em meio a uma época descrita por São João Paulo II como “ao mesmo tempo dramática e fascinante”, o convite do documento é claro: ouvir as perguntas do mundo com honestidade e responder com a sabedoria e beleza do Evangelho. Um Evangelho que não teme dialogar, que transforma desde dentro. Um Evangelho que não apenas fala às culturas, mas fala com elas.

Para conhecer e participar da Pastoral da Cultura, procure saber mais na sua Paróquia e conhecer a atuação da sua Diocese. Para promover uma ampla capacitação, a Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com a Diretoria de Ensino à Distância da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas Virtual), oferece o curso de pós-graduação lato sensu “Projetos culturais com ênfase em Pastoral da Cultura”.

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