O que é e por que Deus criou o Leviatã?

“Foi tu que dividiste o mar pela tua força, quebraste as cabeças dos monstros marinhos nas águas. Tu esmagaste as cabeças do Leviatã e o entregaste como alimento às criaturas do deserto” (Salmo 74,13-14).

Desde os tempos antigos, a figura do Leviatã intriga leitores da Bíblia e estudiosos da tradição cristã. Apresentado como uma criatura imensa e indomável, aparece em diversos trechos das Escrituras, simbolizando tanto a força bruta da natureza quanto as forças do mal e do caos que se opõem a Deus.

Afinal, é uma criatura real ou simbólica? Ele é descrito na Bíblia como uma criatura marinha de proporções extraordinárias. Sua descrição mais detalhada está no livro de Jó 41:

“Você consegue pescar com anzol o leviatã ou prender sua língua com uma corda? Consegue fazer passar um cordão pelo seu nariz ou atravessar seu queixo com um gancho?” (Jó 41,1-2)

O texto o descreve como um monstro revestido por couro impenetrável, capaz de cuspir fogo pela boca e lançar fumaça pelas narinas, deixando um rastro cintilante nas águas agitadas. A descrição dá a ideia de uma força da natureza que é incontrolável para o ser humano, mas totalmente dominada por Deus.

O Leviatã é mencionado ainda em:

• Jó 3,8;
• Jó 41,1;
• Salmo 74,13-14;
• Salmo 104,26;
• Isaías 27,1.

Essas passagens revelam diferentes visões sobre sua natureza: ora como uma criatura real, parte da diversidade da criação (Salmo 104,26), ora como símbolo do caos e do mal, que será derrotado por Deus (Isaías 27,1).

Embora represente uma força terrível, as Escrituras deixam claro que ele foi criado por Deus:

“Quão numerosas são as tuas obras, Senhor! Fizeste todas elas com sabedoria; a terra está cheia das tuas criaturas. Eis o mar, imenso e vasto, onde se movem, sem número, seres pequenos e grandes. Ali passeiam os navios e o Leviatã que formaste para brincar com ele” (Salmo 104,24-26).

A criação do Leviatã, assim como de todo o universo, manifesta a soberania e a sabedoria de Deus. Mesmo as criaturas mais temíveis existem para um propósito: glorificar a grandeza do Criador e recordar ao ser humano sua pequenez diante dEle.

No Salmo 74,13-14 e em Isaías 27,1, vemos que, apesar de ser uma criatura poderosa, o Leviatã é vencido facilmente pelo Senhor. Ele simboliza os inimigos do povo de Deus, que, no final, são derrotados pelo poder divino.

Na tradição bíblica, vai além de sua imagem física. Em alguns contextos, representa o mal e o caos, forças que Deus domina e vencerá plenamente. Segundo Isaías:

“Naquele dia, o Senhor castigará com a sua espada dura, grande e forte o Leviatã, serpente veloz, o Leviatã, serpente tortuosa; e matará o monstro que está no mar” (Isaías 27,1).

Essa imagem reforça que o mal, por mais ameaçador que pareça, está submetido ao poder absoluto de Deus. Nenhum mal é maior do que o Senhor — e essa certeza sustenta a fé do povo de Deus pelos séculos.

Toda a criação, inclusive as criaturas ameaçadoras, serve a um propósito dentro do plano divino. O Catecismo da Igreja Católica ensina que Deus é o Criador de tudo o que existe e que todas as coisas, visíveis e invisíveis, foram feitas com sabedoria e amor (CIC, n. 295).

O Leviatã é interpretado como símbolo do diabo e das forças do mal que se levantam contra Deus, mas que no fim serão destruídas. Papa Bento XVI, em suas catequeses sobre o mal, reafirmou que a vitória definitiva pertence a Cristo, que desfez o poder do mal com Sua cruz e ressurreição. Em fevereiro de 2013, o Pontífice exortou aos fiéis a não temerem o enfrentamento contra o espírito do mal.

“Que não tenhamos medo de confrontar, também nós, o combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor”.

Por que Deus criou o Leviatã?

Sua criação ensina que há realidades que ultrapassam nossa compreensão e controle. Lembra ao ser humano que o mal existe no mundo. Contudo, também proclama que o mal não é absoluto. Deus criou todas as coisas, inclusive o Leviatã, para revelar Seu poder, Sua justiça e Sua misericórdia.

Diante da grandeza de Deus, até as maiores ameaças se tornam nada. Como diz o Livro de Jó, o Leviatã, tão aterrorizante para nós, está totalmente sob o domínio do Criador. O mal pode nos assustar, porém, jamais poderá vencer Aquele que é o Senhor de tudo.