As Têmporas são uma das práticas mais antigas da Igreja. Presentes em documentos litúrgicos, marcam quatro períodos do ano dedicados à oração, à penitência e à ação de graças, sempre na quarta-feira, sexta-feira e sábado de semanas específicas. Entre elas, estão as Têmporas do Advento, vividas tradicionalmente na terceira semana desse tempo litúrgico. Embora a prática tenha caído em desuso em muitos lugares, os fundamentos permanecem preservados pela tradição e pelos textos oficiais da Igreja.
O Cerimonial dos Bispos, no número 381, menciona explicitamente as Têmporas como momentos em que a Igreja “ora ao Senhor pelas várias necessidades dos homens, sobretudo pelos frutos da terra e pelos trabalhos humanos, e rende ação de graças”.
As “Normas universais para o ano litúrgico”, presentes no Missal Romano, também tratam do tema e orientam que as Têmporas podem ser adaptadas conforme as necessidades de cada Conferência Episcopal. No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deixou essa regulamentação a cargo dos regionais, algo que, até o momento, não gerou normas específicas. Na ausência de orientações locais, permanece a liberdade dos fiéis que desejam viver essa tradição.
Portanto, embora hoje já não exista obrigação universal de jejum ou abstinência nas Têmporas, elas continuam previstas pela liturgia e podem ser observadas voluntariamente.
Tradicionalmente, as Têmporas acompanham as estações do hemisfério norte e coincidem com quatro momentos do ano litúrgico:
Em todas elas, a proposta é santificar o tempo por meio da oração e da penitência, agradecer pelos frutos da terra e pedir a Deus seu auxílio para o novo período que se inicia.

As Têmporas do Advento, realizadas na quarta, sexta e sábado após o domingo Gaudete, possuem um significado particular. Tradicionalmente, eram dias de jejum e penitência, entendidos como parte da preparação para acolher a vinda de Jesus. Autores clássicos da espiritualidade, como Dom Prosper Guéranger, destacavam que, embora o Advento já não exigisse jejum obrigatório, as Têmporas ofereciam um caminho concreto de devoção, vigilância e conversão.
Além disso, em Roma, as Têmporas do Advento estiveram associadas às ordenações sacerdotais. Era costume que as ordenações ocorressem no sábado dessa semana, após dias de jejum vividos pela comunidade como intercessão pelos novos ministros da Igreja. Essa ligação histórica ajuda a compreender por que as Têmporas eram vistas também como gesto de responsabilidade e cuidado pelo corpo eclesial.
Ainda que a disciplina obrigatória não exista mais, nada impede que os fiéis retomem voluntariamente a prática antiga de dedicar três dias do Advento à oração mais intensa, à caridade e, se desejado, a alguma forma de jejum ou abstinência.
É uma oportunidade de redescobrir um modo simples e profundo de consagrar o tempo e preparar o coração para o Natal. As Têmporas do Advento recordam que a espera pelo Senhor sempre envolve conversão, vigilância e gratidão. O cristão pode se unir a uma tradição que atravessa séculos, deixando que o andamento da liturgia molde seu próprio ritmo interior e o conduza, com serenidade e fé, ao encontro com Cristo que está por vir.
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