“Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra” (Mateus 5,39). Você provavelmente já ouviu esse versículo e pode ter questionado se sempre deve oferecer a outra face como uma forma de perdoar erros ou ofensas de quem lhe machuca.
O Evangelho possui uma riqueza de significado e, além da passagem em Mateus, também encontramos uma citação parecida em Lucas 6,29, a qual diz:
“[…]. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses[…]”.
Conversamos com o teólogo Paulo Pacheco, que também é supervisor de orientação espiritual da Obra Evangelizar É Preciso, para entender mais sobre o que Jesus nos ensina com essa afirmação.
A primeira questão que Paulo nos explica é que, em ambos os trechos, a maioria das pessoas acaba espantada porque surge a dúvida de como é possível seguir esse preceito de Jesus. Sempre perdoar: será que era isso que Jesus estava falando?
“Se pudéssemos dar um título somente a estes versículos, talvez pudéssemos chamá-lo de ‘AMAR NOSSOS INIMIGOS’. Porém, o conceito de amor que Jesus cita não é somente no contexto de sentimento, mas no sentido de ação, amar como atitude. É preciso interpretar à luz da tradição judaica, para a realidade do momento em que Jesus vivia e trazendo aos nossos dias”, explica Paulo.
Dessa forma, é preciso compreender que a tradição judaica vê o tapa no rosto com o lado externo da mão no lado direito como uma ofensa grande. Como Jesus viveu nessa realidade, passou por situações como essa. Em Jo 18 22-23, antes da crucificação, tem-se:
“E, havendo ele dito isso, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote? “
Paulo então explica que Jesus responde sobre a outra face revelando o verdadeiro significado do que se quer dizer. “Jesus não revidou a agressão, mas evitou (pelo menos naquele momento) que ela se prolongasse. A ideia principal ou podemos dizer a ‘regra de ouro’ é evitar que se prolongue ou que a violência gere mais violência”.
Atualmente, diferentes situações nos ensinam a seguir os ensinamentos de Jesus perante o significado de dar a outra face. Um exemplo explicado por Paulo Pacheco está nas situações cotidianas, como o trânsito.
“Quando um carro nos fecha, nossa primeira atitude é xingar o outro e, se possível, revidar a fechada. Mas Jesus vem nos ensinar: respira, conte até dez, quinze ou vinte, e depois ore para que Deus acalme aquela pessoa para que não cause um acidente às outras pessoas”.
Nem sempre conseguimos respeitar esse ensinamento, porque é difícil controlar, mas não é impossível.
Deus nos ensinou com palavras que ainda fazem muito sentido, mesmo sendo mostradas há mais de 2 mil anos. Ainda assim, são atitudes desafiadoras.
“Vemos ainda muito presente a desigualdade, os excluídos e vulneráveis nas ruas, nos hospitais, nos asilos, presídios, enfim, na sociedade. A Palavra de Jesus ainda clama a nós o olhar ao próximo, a aqueles que necessitam, não pensando em recompensa, mas através do AMOR, do amor atitude e não só sentimento distante, sem contato”, disse Paulo.
Ser tolerante é totalmente diferente de não se defender de uma agressão, por exemplo.
“Não é errado nos defendermos contra uma agressão. Devemos zelar por nossa integridade, mas sempre que possível não devemos colocar o orgulho à frente, vencermos o debate, dar a última palavra. Muitas vezes, recolher-se e deixar para lá é o caminho para descontinuar a violência”.
Prova dessa interpretação é que Deus nos ensina na passagem a seguir:
“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: sede santos, porque eu sou santo” (Pedro 1, 15-16).
A passagem nos fala sobre tolerância, perdão e expressão do amor, que devem passar pela tolerância e a não continuidade do ciclo de agressão.
Jesus nos ensinou muito sobre o amor. A passagem também faz referência a isso.
“Através do amor ao próximo. É amor como palavra que gera atitude, que gera ação de olhar com o coração ao próximo. É seguir a Justiça de Deus concretizada nos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não o amor piegas, da boca para fora, mas o Amor em Plenitude, assim como Jesus nos ensina através de Sua Palavra”, completa Paulo.
“Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras está morta” (Tiago 2,26).
Deixe seu comentário sobre o que você achou do conteúdo.
Assine nossa newsletter, receba nossos conteúdos e fique por dentro
de todas as novidades.