O recomeço é para todos

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mateus 11,28-30). O chamado de Jesus é para todos, a todo momento da vida. Para alguns dos Seus filhos, a lembrança do Seu acolhimento pode ser a salvação, especialmente em um momento de falta de esperança e perspectiva de futuro, como é o caso de pessoas que enfrentam doenças como o alcoolismo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a dependência em drogas lícitas ou ilícitas é uma doença. Nesse sentido, o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, em 20 de fevereiro, é um convite para que todos pensem em prevenção, tratamento para quem precisa e, principalmente, acolhimento e solidariedade. Embora todos os dias muitas histórias tristes relacionadas ao tema sejam destaque na comunidade e dentro dos lares, muitas também são aquelas que trazem inspiração, fortalecimento da fé e transformação.

Uma dessas histórias é a de Pedro*, que deu um novo passo na sua vida quando recebeu o convite de um Padre para fazer parte de um grupo do Alcoólicos Anônimos (A.A.) que se encontrava na Paróquia. Ele passou a participar das atividades da comunidade intensamente: realizar serviços na igreja, ir às casas das pessoas rezar o Terço e se consagrou a Nossa Senhora.

No processo, dos piores dias à libertação entre idas e vindas, chegou a perder seu casamento, ser afastado dos filhos, foi internado sete vezes e tentou suicídio devido à doença do alcoolismo. “Fui fazer o ato, mas uma mão me segurou no ombro e eu não cometi. A voz do Poder Superior me disse ‘vai pedir ajuda’”. Ele pediu socorro à irmã e recomeçou quando já tinha até órgãos comprometidos, como os rins e o fígado.

“Internado, naquele dia desci da maca e pedi perdão para Deus de todos os pecados e clamei a misericórdia. Logo depois veio a resposta junto da minha médica. Estava um Senhor do A.A. que me chamou e falou assim: ‘você foi no A.A. antes por causa do seu serviço, do seu casamento, por causa de coisas particulares, mas se você for por causa de você mesmo, as coisas vão dar certo. Se você tiver o desejo de dentro do seu coração de mudança de vida, o Poder Superior na forma em que você concebe vai te ajudar’”, relembra.

Há mais de cinco anos sem dar o primeiro gole, vivendo 24 horas de cada vez, ele conseguiu se reaproximar dos filhos e convive com os netos. Reconquistou seu trabalho e se dedica a ajudar ao próximo, principalmente quem atravessa o mesmo deserto que ele bem conhece.

Apoio da Igreja e a Pastoral da Sobriedade

A Pastoral da Sobriedade capacita aqueles, que de alguma maneira, se identificam com a causa e desejam lutar pela vida, tornando-se um Agente da Pastoral da Sobriedade.

Trata-se uma ação pastoral conjunta que busca a integração entre todas as pastorais, movimentos, comunidades terapêuticas parceiras, casas de recuperação para, a partir da pedagogia de Jesus-Libertador, resgatar e reinserir os excluídos, propondo uma mudança de vida através da conversão.

Uma passagem bíblica (Mateus 25,35-40) inspira este trabalho, que faz uma continuação na explicação para abraçar algumas das obras da Igreja Católica, como a Pastoral da Sobriedade:

“Vinde benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde antes da criação do mundo; porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era peregrino e me acolhestes, estava nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, estava na prisão, era dependente químico, e viestes a mim”.

*Nome fictício para preservar o anonimato.

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• Texto originalmente publicado no espaço IDe+ do Jornal do Evangelizador / Edição 197 – Fevereiro de 2024