Apesar de o nome parecer de uma pessoa, o Santo Anello é um objeto sagrado. Trata-se do santo anel de casamento que São José deu a Maria. De acordo com a Sagrada Escritura, a Virgem Maria e São José, como judeus, celebraram o casamento em duas etapas: primeiro o noivado ou promessa de união e só depois, as núpcias, que celebrava a mudança solene da esposa para a casa do marido.
A joia dada por São José a Maria na ocasião existe até hoje e está bem guardada em um relicário de ouro e prata na Catedral de São Lourenço, em Perúgia, na mesma região onde se localiza a cidade de Assis: Úmbria, na Itália. Por isso mesmo, é comum que os fiéis que se deslocam até à terra de São Francisco estiquem mais 30 quilômetros para encontrarem essa joia rara.
A santa aliança está nesta Catedral desde o século XIX, mas até pouco tempo apenas os seus vizinhos conheciam a sua história. Tudo mudou graças às visões místicas da Beata Ana Catarina Emmeric, que em 1821 revelaram minuciosos detalhes sobre o objeto e a sua localização. Contou ela, na época, sobre uma das visões:
“Eu vi a aliança de casamento da Virgem Maria; não é nem de prata nem de ouro, nem de nenhum outro metal; é escuro na cor e brilhante; não é um anel fino e estreito, mas bastante grosso e tem pelo menos um dedo de largura. O vi liso e ainda como se coberto de pequenos triângulos regulares nos quais havia letras. Dentro era uma superfície plana. O anel era gravado com alguma coisa. O vi sendo mantido por trás de várias fechaduras em uma linda igreja. Fiéis devotos prestes a se casar levam suas alianças para tocá-lo”.
Em outra visão, dias depois, ela conseguiu precisar onde estava a relíquia: “Hoje eu vi um festival em uma igreja na Itália onde a aliança deve ser encontrada. Me pareceu estar pendurada num tipo de ostensório que fica em cima do tabernáculo. Havia um grande altar lá, magnificamente decorado”.
Apesar da precisa descrição do Santo Anello e do local onde se encontrava, Ana Catarina Emmeric nunca chegou a contemplar o objeto pessoalmente. Tudo o que ela sabia era que a aliança estava em algum lugar da Itália, mas a igreja exata só foi descoberta por estudiosos anos depois da sua morte.
Quando o Santo Anello, enfim, foi encontrado, a cena bateu com a descrita pela beata: guardado em um relicário muito parecido com um ostensório. As características da joia também eram muito similares: brilhante e de cor escura, algo como âmbar escuro ou amarelado. Em dias em que o sol incide mais forte na Catedral, ela parece ficar mais esbranquiçada.
Antes de chegar a Perúgia, porém, o anel percorreu um longo caminho. Relatos dão conta de que entre os anos de 983 e 985, um ourives da cidade comprou a joia de um mercador judeu. Dizem que o ourives pressionou o vendedor para que ele lhe dissesse o que havia de especial no anel, fazendo-o confessar de que estava livrando-se dele por medo.
Segundo o mercador, “a senhora venerada pelos cristãos” lhe aparecera em sonhos e o repreendia por possuir a relíquia e não destinar a ela qualquer respeito.
O ourives não deu muito crédito à história contada pelo judeu, mantendo a relíquia e esquecendo-a na cripta da família. E assim permaneceu até a morte do seu filho. Durante o seu enterro, aconteceu um evento incomum: seu filho morto se levantou e o repreendeu pelo pouco respeito e veneração que ele mostrou diante do anel sagrado.
Naquele momento, o ourives se lembrou do que o mercador judeu havia lhe contado e confirmou o que a Virgem havia dito em seus sonhos. Foi quando ele decidiu levar o Santo Anello ao Convento de Santa Mustiola, em Chiusi, outra cidade italiana.
A relíquia se tornou por anos o principal objeto de devoção dos fiéis da pequena comuna toscana. Em 1473, porém, o objeto é roubado por um franciscano, que leva a peça em direção a Assis, mas em razão da escuridão e da névoa, ele chega em Perugia, onde se refugia na casa de um amigo e divide com ele o segredo.
O amigo o convence a entregar a joia ao prefeito da cidade, que, reconhecendo que tinha um tesouro, decide deixá-lo em Perugia, dando início a uma Guerra do Anel entre as duas cidades italianas. Depois de muita disputa, chega-se a um acordo e o anel finalmente se estabelece onde já estava e passa a ser a relíquia mais importante de Perúgia.
Hoje, peregrinos do mundo inteiro viajam até a cidade vizinha a Assis para ver e venerar a relíquia, a exemplo do que fez o Papa Pio IX em 1857, durante uma visita oficial, fazendo da Catedral um dos destinos mais concorridos dos católicos quando em viagem à Itália.
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