O Santo Anello pertenceu a Maria. Mas de quem estamos falando?

O Santo Anello pertenceu a Maria. Mas de quem estamos falando? Santo Anello | Foto: Di Fm2001 – Opera propria, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=31017512

Apesar de o nome parecer de uma pessoa, o Santo Anello é um objeto sagrado. Trata-se do santo anel de casamento que São José deu a Maria. De acordo com a Sagrada Escritura, a Virgem Maria e São José, como judeus, celebraram o casamento em duas etapas: primeiro o noivado ou promessa de união e só depois, as núpcias, que celebrava a mudança solene da esposa para a casa do marido.

A joia dada por São José a Maria na ocasião existe até hoje e está bem guardada em um relicário de ouro e prata na Catedral de São Lourenço, em Perúgia, na mesma região onde se localiza a cidade de Assis: Úmbria, na Itália. Por isso mesmo, é comum que os fiéis que se deslocam até à terra de São Francisco estiquem mais 30 quilômetros para encontrarem essa joia rara.

Catedral de Perúgia  | Foto: Tetraktys – Obra do próprio, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11769795

 

As visões místicas da Beata Ana Catarina Emmeric

A santa aliança está nesta Catedral desde o século XIX, mas até pouco tempo apenas os seus vizinhos conheciam a sua história. Tudo mudou graças às visões místicas da Beata Ana Catarina Emmeric, que em 1821 revelaram minuciosos detalhes sobre o objeto e a sua localização. Contou ela, na época, sobre uma das visões:

“Eu vi a aliança de casamento da Virgem Maria; não é nem de prata nem de ouro, nem de nenhum outro metal; é escuro na cor e brilhante; não é um anel fino e estreito, mas bastante grosso e tem pelo menos um dedo de largura. O vi liso e ainda como se coberto de pequenos triângulos regulares nos quais havia letras. Dentro era uma superfície plana. O anel era gravado com alguma coisa. O vi sendo mantido por trás de várias fechaduras em uma linda igreja. Fiéis devotos prestes a se casar levam suas alianças para tocá-lo”.

Em outra visão, dias depois, ela conseguiu precisar onde estava a relíquia: “Hoje eu vi um festival em uma igreja na Itália onde a aliança deve ser encontrada. Me pareceu estar pendurada num tipo de ostensório que fica em cima do tabernáculo. Havia um grande altar lá, magnificamente decorado”.

Beata Ana Catarina Emmerick | Foto: Domínio Público

Apesar da precisa descrição do Santo Anello e do local onde se encontrava, Ana Catarina Emmeric nunca chegou a contemplar o objeto pessoalmente. Tudo o que ela sabia era que a aliança estava em algum lugar da Itália, mas a igreja exata só foi descoberta por estudiosos anos depois da sua morte.

Quando o Santo Anello, enfim, foi encontrado, a cena bateu com a descrita pela beata: guardado em um relicário muito parecido com um ostensório. As características da joia também eram muito similares: brilhante e de cor escura, algo como âmbar escuro ou amarelado. Em dias em que o sol incide mais forte na Catedral, ela parece ficar mais esbranquiçada.

 

Trajetória do Santo Anello

Antes de chegar a Perúgia, porém, o anel percorreu um longo caminho. Relatos dão conta de que entre os anos de 983 e 985, um ourives da cidade comprou a joia de um mercador judeu. Dizem que o ourives pressionou o vendedor para que ele lhe dissesse o que havia de especial no anel, fazendo-o confessar de que estava livrando-se dele por medo.

Segundo o mercador, “a senhora venerada pelos cristãos” lhe aparecera em sonhos e o repreendia por possuir a relíquia e não destinar a ela qualquer respeito.

O ourives não deu muito crédito à história contada pelo judeu, mantendo a relíquia e esquecendo-a na cripta da família. E assim permaneceu até a morte do seu filho. Durante o seu enterro, aconteceu um evento incomum: seu filho morto se levantou e o repreendeu pelo pouco respeito e veneração que ele mostrou diante do anel sagrado.

Naquele momento, o ourives se lembrou do que o mercador judeu havia lhe contado e confirmou o que a Virgem havia dito em seus sonhos. Foi quando ele decidiu levar o Santo Anello ao Convento de Santa Mustiola, em Chiusi, outra cidade italiana.

A relíquia se tornou por anos o principal objeto de devoção dos fiéis da pequena comuna toscana. Em 1473, porém, o objeto é roubado por um franciscano, que leva a peça em direção a Assis, mas em razão da escuridão e da névoa, ele chega em Perugia, onde se refugia na casa de um amigo e divide com ele o segredo.

O amigo o convence a entregar a joia ao prefeito da cidade, que, reconhecendo que tinha um tesouro, decide deixá-lo em Perugia, dando início a uma Guerra do Anel entre as duas cidades italianas. Depois de muita disputa, chega-se a um acordo e o anel finalmente se estabelece onde já estava e passa a ser a relíquia mais importante de Perúgia.

Hoje, peregrinos do mundo inteiro viajam até a cidade vizinha a Assis para ver e venerar a relíquia, a exemplo do que fez o Papa Pio IX em 1857, durante uma visita oficial, fazendo da Catedral um dos destinos mais concorridos dos católicos quando em viagem à Itália.

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