Apertar as bochechas de uma criança que está acima do peso. Associar a saúde dela com o seu peso, falando que quanto mais “gordinha”, melhor. Ou ainda tolerar os excessos alimentares e a má-alimentação. Esses são alguns dos pequenos detalhes que demonstram os perigos da obesidade infantil – tanto para a saúde da criança quanto para seu desenvolvimento psicológico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou em 2010 que mais de 35 milhões de crianças menores de 5 anos estavam acima do peso nos países em desenvolvimento, tal como o Brasil. Os dados ainda apontam que 92 milhões dessas crianças correm risco de sobrepeso e obesidade. Os números são cada vez mais preocupantes, especialmente no Brasil, que registrou um aumento na faixa etária entre 5 e 9 anos.
A origem da obesidade é diversa, mas geralmente corresponde a uma ingestão superior de calorias comparada à quantidade gasta. Também influenciam na obesidade infantil aspectos genéticos, metabólicos, nutricionais, socioeconômicos, culturais, psicológicos e hábitos de vida.
Na infância existe uma classificação do estado nutricional de acordo com o Índice de Massa Corporal – IMC/idade: risco de sobrepeso, sobrepeso, obesidade e obesidade grave. A classificação depende da idade e em que escore ou percentil a criança e adolescente encontram-se nas curvas de crescimento.
Na prática, o profissional de saúde mensura o peso e a estatura e marca nas curvas de crescimento para a faixa etária específica da criança.
A pediatra Raquel Caleffi explica que os fatores que influenciam na obesidade são muitos, sendo os principais:
“Desde a gestação até os dois primeiros anos de vida, os chamados primeiros 1000 dias, influenciam bastante. O aleitamento materno e a introdução de alimentos inadequados são fatores decisivos quando o assunto é obesidade. Por isso, os pais não devem introduzir precocemente alimentos ultraprocessados e industrializados”.
Para a médica, quanto mais saudável a rotina da criança, mais saúde ela terá por toda a sua vida. Além de alimentação correta e saudável, os pais também devem incentivar a prática de atividades físicas.
Pediatra Raquel Caleffi alerta para os riscos da obesidade infantil
O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou em 2019 um percentual de 13,2% de brasileirinhos com problemas relacionados ao excesso de peso. Entre os menores de 5 anos, o índice de sobrepeso é de 14,8%, sendo que 7% já apresentam obesidade.
A pandemia de Covid-19 agravou a situação. Isso porque, a interrupção significativa na rotina das crianças gerou impactos negativos na saúde mental e bem-estar das crianças e adolescentes.
“Tivemos impactos importantes na alimentação e aumento do sedentarismo. Mas além da pandemia, a obesidade infantil pode ser resultado de uma série complexa de fatores genéticos e comportamentais, que incluem o contexto familiar, escolar e social”, completa a médica.
Embora muitas pessoas acreditem que crianças acima do peso são saudáveis, Raquel alerta para os perigos da obesidade e sobrepeso. Entre eles, o depósito de gordura no coração, músculo e fígado, o que leva a diversas complicações.
“Esses problemas relacionados à obesidade infantil são observados ao longo da vida da pessoa, até quando chega à fase adulta. Câncer, apneia do sono, problemas psicológicos, doenças degenerativas das articulações e síndromes metabólicas são alguns exemplos”.
Outro fator citado pela pediatra é o impacto na saúde mental infantil. Questões como bullying e autoestima baixa costumam ser queixas das crianças com sobrepeso e obesidade. Por isso, é importante, como a médica alerta, ficar atento aos sinais das crianças. (Quer saber mais sobre isso? Acesse um texto completo aqui no IDe+ sobre depressão infantil).
A resposta é sim, a obesidade é tratável. Dessa maneira, conheça algumas formas de iniciar esse acompanhamento:
Atenção! Dietas restritivas devem ser evitadas! O ideal é um plano alimentar individualizado, que respeite a idade, sexo, fase de crescimento e desenvolvimento. Inclusive, não devemos pensar em alimentos proibidos, e sim no conhecimento sobre alimentos saudáveis e o conceito de calorias.
Como a pediatra cita, é na primeira infância que os hábitos alimentares são desenvolvidos. Portanto, a melhor maneira de evitar é priorizar uma alimentação saudável nesse período.
Para os pais e responsáveis que acham difícil, a dica é avaliar a disponibilidade dos alimentos, notando as preferências e recusas das crianças e preparando os que são habitualmente consumidos.
“Também temos que avaliar o comportamento da criança, o local da refeição, mastigação, se come em frente a TV, refeições em família, etc. Essas práticas todas interferem e impactam no sobrepeso e obesidade infantil”, completa a pediatra.
Para estimular a vida mais saudável desde a infância, a pediatra separou algumas dicas fundamentais. Confira:
A obesidade infantil é um problema que a criança não pode enfrentar sozinha. Afinal, todo o processo de mudança para uma alimentação mais saudável e uma vida mais ativa envolve a família inteira.
“As crianças são nosso espelho e aprendem mais por observação do que por orientação. Não adianta, portanto, falarmos para os filhos não comer frituras se nas refeições familiares mantermos esse hábito. Quando a mudança envolve a família, fica muito mais leve e tranquilo tratar a obesidade infantil”, finalizou a pediatra.
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