Pais e filhos: como ficará essa relação após o confinamento?

Pais e filhos: como ficará essa relação após o confinamento?

Conciliar o cuidado com os filhos com a necessidade de distanciamento social foi um dos grandes desafios do período de pandemia. Para muitos pais, foi necessário conciliar o home office com a supervisão das aulas on-line, da agenda das crianças, com a necessidade de garantir que tivessem meios alternativos de gastar energias e que conseguissem manter uma boa rotina de sono e alimentação. Não, não foi fácil.

Nos últimos meses, com a retomada lenta do ensino presencial e a possibilidade de sairmos do confinamento, ainda que com cautela, outras dificuldades surgiram. Apesar de todos os apuros, todos nós nos adaptamos à nova situação. Pais e professores aprenderam como administrar as aulas on-line, crianças encontraram saídas para as brincadeiras e para a saudade dos amigos, dos avós e da rotina como ela costumava ser.

Diante das novas mudanças, onde não estamos “de volta”, nem completamente confinados: quais são os novos desafios que os pais, professores e também os pequenos enfrentarão?

Conversamos com a Renata Bermudez, da Sosseguinho Consultoria Familiar, sobre essa nova etapa na relação entre pais e filhos na pandemia. Ela nos conta sobre como boa parte dos ajustes de rotina deve acontecer naturalmente, na medida em que as crianças retomam suas atividades: “Com as crianças voltando para a escola, o uso de eletrônicos deve diminuir, e o gasto de energia física deve entrar em equilíbrio. Durante a pandemia, todas as crianças que eu atendi passaram a dormir menos horas do que crianças da mesma idade dormiam antes da pandemia, e isso se deu muito por todas estarem confinadas, restritas às aulas on-line, ao invés de gastando energia nas creches e escolas, correndo com os amigos, se movimentando”, diz.

Ela tranquiliza os pais sobre birras e ansiedade, que também se intensificaram durante a pandemia, principalmente por crianças estarem trancadas em apartamentos e absorvendo, ainda, a ansiedade dos adultos. Tudo isso, segundo a consultora, vai se normalizar aos poucos, e logo as crianças voltarão a se comportar como antes da pandemia.

Quais são as principais dificuldades na retomada?

Renata Bermudez diz que uma reclamação muito comum hoje entre os pais cujas crianças retomam as aulas presenciais é o que ela chama de “exaustão da volta”: “As pessoas estavam confinadas em casa e, com muita dificuldade, se acostumaram a fazer tudo ali, a situação acabou entrando em equilíbrio. Agora, esse equilíbrio está sendo mais uma vez quebrado, pois as coisas ainda estão em transição”.

Ela lista algumas dificuldades que os pais vêm tendo nesse retorno às aulas, principalmente quanto a devolver a autonomia para a criança ao fazer as tarefas escolares, já que, enquanto as crianças estavam em casa, os pais estavam supervisionando tudo o tempo todo, e agora eles precisarão fazer novos ajustes para devolver a direção do desenvolvimento escolar para a escola. “Precisamos ir largando um pouco aquelas tarefas que eram dos professores, mas que assumimos, lá no início da pandemia. Agora, parte das coisas devem voltar a ser tarefa da criança, sozinha, e outras voltam a ser tarefas da professora. Os pais precisam reencontrar esse lugar, um pouquinho mais distante da sala de aula”, diz a consultora familiar.

Nisso, os pais podem pedir que as escolas os auxiliem, lhes indicando os novos limites, onde precisam recuar, onde podem e precisam continuar ajudando e acompanhando o estudo dos filhos. “Algumas avaliações não cabem aos pais. O modo como as crianças se colocam em sala de aula, muitas vezes, é também importante para o aprendizado da criança. A professora, ainda que não pareça, tem controle disso. Os pais acabaram vendo o que não costumavam ver, e alguns não compreenderam”. A avaliação dos comportamentos da criança em sala de aula, entretanto, é algo que deve caber à professora. Não é função do pai ficar corrigindo a tarefa errada do filho, pois, de outra forma, a professora não conseguirá avaliar o aprendizado da criança.

Entretanto, não são só os pais, que enfrentarão desafios na volta às aulas após o confinamento. Também as crianças precisam se readaptar. Para elas, será necessário recuperar o que foi perdido, não só quanto ao conteúdo escolar, mas sobre as habilidades sociais que deveriam ter desenvolvido nesse período e não conseguiram. “Muitas crianças passaram da infância para a adolescência durante a pandemia. Outras poderão estar mais imperiosas, já que na casa dela tudo é dela, não tinham que dividir, contemporizar”, diz a consultora.

Assim é muito possível que, no princípio, a retomada da escola deixe as crianças inseguras para negociar com os colegas. Segundo Renata, “crianças cansam de negociar. O interagir socialmente é um medir o tempo todo até onde eu posso ir com a outra pessoa. Uma das coisas mais importantes que a criança aprende na escola é a interagir, a negociar com o outro, a colaborar, a conviver socialmente. Eles passaram um ano e meio sem fazer isso, e essa recuperação do social pode ser difícil”.

A consultora familiar recomenda que os pais tenham muita paciência com os filhos nesse retorno. “É possível que as crianças passem a chegar da escola ‘socialmente exaustas’. Depois de tanto tempo sem fazer isso, é muito tempo negociando e convivendo”.

Existe “um lado bom” do confinamento?

Com a saída do confinamento e a contínua retomada, os pais e avós devem cuidar para não perder as coisas boas que acabaram sendo construídas no período de distanciamento social. A pandemia trouxe aos pais uma maior preocupação do que fazer no fim de semana para as crianças espairecerem, gastarem energias, e muitas famílias criaram um lugar de colaboração que precisa ser conservado e estimulado.

O que começou apenas como uma forma de sair de casa, em muitas famílias, transformou-se em uma oportunidade para passar valores de disciplina, de cuidado e confiança, onde “todos cuidam de todos”. Esses são os momentos que permitem ensinamentos para a vida toda e que muitas famílias não tinham.

Renata nos conta sobre como algumas famílias que atendeu durante o confinamento passaram a ir para a fazenda com os avós no final de semana ou até se engajaram em ações voluntárias, ajudando outras famílias mais carentes durante a pandemia. “As pessoas foram criando pequenos escapes em família dessa rotina açodada, e essa foi uma parte positiva da situação. Será que queremos perder esses momentos? Devemos tentar mantê-los, agora, em prol do vínculo familiar”.

Com a pandemia, os pais passaram também a conhecer melhor os seus filhos. As famílias que ficaram em home office puderam observar melhor o que a criança come, o que a irrita, do que ela gosta, que desenho ela vê. “Essa parte, de conhecer melhor os filhos, de criar momentos, fazer refeições juntos, sentar para comer juntos ou fazer um passeio, tudo isso é muito importante, porque é nessa hora que a criança compartilha seu dia, suas emoções. São momentos que, para muitas famílias, eram raros, e puderam ser cultivados, apesar das dificuldades que a pandemia trouxe”, Renata ressalta.

As famílias aprenderam a limitar suas relações a poucas pessoas, e com isso, acabaram descobrindo quem são as pessoas realmente significativas em suas vidas. Conservar esses momentos especiais, restritos aos familiares e amigos mais próximos, também é outro desafio positivo que o término do confinamento nos trará.

Importante lembrar sempre das palavras do Padre Reginaldo Manzotti no seu livro A Nova Batalha (Ed. Petra): “Nunca vejam o tempo que passam com os filhos, independentemente da motivação, como um peso, mas sim como uma dádiva, como um tempo propício para interagir com eles, para se descobrirem ou se redescobrirem e para se ajustarem, percorrendo o caminho do amor”.

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