Atualmente, ouvimos falar com muita frequência sobre saúde mental e a importância de enxergarmos nossa saúde a partir da perspectiva física, mental e espiritual. Essa crescente temática se dá por diversos fatores, entre eles o aumento significativo de doenças como ansiedade, depressão ou crises de pânico, principalmente em jovens.
É preciso reconhecer que tais diagnósticos são considerados mais comuns nos tempos atuais em virtude também das relações de trabalho, lazer e vida em sociedade firmadas nessa geração. As mudanças nas formas de nos relacionarmos, de construirmos laços e de compreendermos o tempo das coisas colaboram para estimular sentimentos e emoções intensas que, por vezes, ainda não sabemos ou não nos preparamos para lidar.
E, embora, na maioria das vezes, essas características de comportamento sejam mais notórias nas relações vividas na fase adulta, muitas delas podem ser resultado de experiências ou compreensões adquiridas na infância.
“Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento das competências e habilidades que um ser humano vai carregar por toda a vida e, atualmente, além dos conhecimentos técnicos, o mundo exige pessoas com preparo emocional. Por isso, caso a criança não aprenda a lidar com suas emoções, tornar-se-á incapaz de estabelecer relacionamentos harmônicos, seja na vida pessoal ou profissional”, detalha a psicopedagoga clínica e institucional, professora aposentada e psicoterapeuta (em formação), Marineide Inês Mielke Lunkes Trojack.
Muitas vezes, a posição dos pais, em meio à rotina turbulenta do dia a dia atual, acaba impedindo uma presença mais constante na vida dos filhos. Um amparo à essa carência, por vezes, se faz na tentativa constante de compensação, minimizando ou evitando os momentos de tristeza ou frustação da criança. Esse tipo de relação traz riscos ao desenvolvimento pleno da criança.
O filme Divertidamente é um bom exemplo de como as emoções e as memórias afetivas são bases fundamentais para definir a forma como esses indivíduos vão lidar futuramente com as emoções e a importância de viver todos os sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Aos pais e familiares, cabe a acolhida e ensinamentos sobre a forma de agir a partir de cada um deles.
“É importante que as crianças possam expressar o que estão sentindo, mais do que isso, elas devem ser ensinadas a fazê-lo de forma correta, por exemplo, sabe-se que não é adequado, em um momento de raiva, bater em um amiguinho, mas para as crianças, em seus primeiros anos de vida, pode ser a primeira forma de expressar esse sentimento, é nesse momento que se faz necessária a orientação clara, com tranquilidade, dos adultos responsáveis pela educação das crianças”, alertou Marineide.
Segundo a profissional, essa orientação auxiliará as crianças a desenvolver seu controle emocional, entendendo que elas podem sentir raiva, frustração e podem chorar, pois essas emoções fazem parte da vida humana. Mas que não podem, ao expressá-las, ferir ou magoar outras pessoas. “Isso as ajudará a crescer e a se tornar adultos capazes de viver de forma harmônica nos grupos sociais de que fazem e farão parte durante sua vida”, acrescentou.
Nesse contexto, assim como amparar as crianças em seu momento de dor, é preciso orientá-las e ensiná-las, quando necessário, lembrando sempre que na vida em sociedade existem regras e, por vezes, para viver nesse contexto de forma agradável, é preciso dizer não. “Deve-se orientar com firmeza, porém com carinho e paciência. Sabemos que as instruções negativas são mais difíceis de serem entendidas pelas crianças, por isso, podemos usar frases positivas, como, por exemplo: ao invés de dizer: não corra, diga ande devagar, ou troque o não grite, por fale mais baixo. Devemos lembrar que a criança é um ser em formação, portanto, necessita de orientação, disciplina, exemplos, amor e segurança”, sugeriu Marineide.
Não é raro ouvirmos dizer que as gerações de hoje não sabem lidar com frustração. Para a psicopedagoga, devemos lembrar que as crianças aprendem a viver nesse mundo por meio dos adultos. “Sendo assim, é de responsabilidade dos adultos oferecer às crianças todas as condições para que seu desenvolvimento aconteça de forma saudável, tanto física quanto emocionalmente”.
A boa notícia é que a personalidade pode ser mudada e aperfeiçoada de modo permanente e por toda vida, por isso, se durante a infância houve sentimentos que não puderam ser vividos, a vida adulta pode, sim, ser uma oportunidade de transformação e ressignificação. E, se neste momento, você se encontra na posição também de um pai ou mãe educador, a profissional dá um conselho valioso para esse processo.
“Procure pensar como você se sentia quando criança e enfrentava alguma dificuldade, o que você esperava que alguém fizesse por você, o que alguém poderia ter feito para ajudar você naquele momento, pense que hoje alguém espera algo de você. Na maioria das vezes, uma mudança de comportamento dos adultos produz mudanças no comportamento infantil. Se necessário, procure um profissional que possa orientar você, sua família, seu filho. Lembre-se, de dar a seu filho o bem mais precioso, que é a sua presença”, aconselhou.
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