Você já percebeu que, de acordo com a versão da Bíblia, os números do Livro dos Salmos podem variar? Uns podem estar entre parênteses, outros não. Essa diferença leva parte das pessoas a achar que algumas referências bíblicas estão escritas da forma errada. Mas, nesse caso, não são erros. É apenas uma questão que tem origem nas diferentes traduções.
Veja este exemplo do Salmo “O Bom Pastor”: “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará” – Salmo 23 (22). O 23, que está fora do parênteses, tem origem na tradução hebraica e o 22 na que vem do latim que, por sua vez, tem seu alfabeto derivado do grego.
A forma como o Salmo está referenciado varia de acordo com a versão. Parte delas mantém os dois números, como no exemplo anterior, e reúne ambas as formas de representação, e outros deixam apenas uma delas (e um número). Não há uma convenção, o que significa que não é erro optar por um ou por outra.
O teólogo e mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma Luiz da Rosa explicou a origem dessas referências que por vezes provocam confusão na leitura. No site “A Bíblia”, do qual é fundador e usa o espaço para explicar as questões bíblicas que pesquisa, ele esclarece o caminho das traduções.
“A questão tem a ver com a tradução grega da Bíblia, feita já antes de Cristo, a assim chamada LXX (Setenta). A LXX numerou de maneira diferente os Salmos. A Vulgata, em seguida, seguiu a numeração da LXX e essa ficou muito difundida. Hoje em dia, voltou-se à numeração original, aquela que está no texto hebraico. Por isso, o que vemos em nossas Bíblias normalmente é a numeração do hebraico e, entre parênteses, aquela usada na LXX”, escreveu o pesquisador.
Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento foram escritos por diferentes pessoas, lugares e tempos. Desse modo, pode ter variações entre suas palavras, termos e todos os elementos que os compõem.
Como explica o tradutor e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Caetano Galindo, os textos originais foram escritos em diferentes línguas, o que podia dificultar o processo de compreensão da Bíblia. Por isso, o cristianismo fez uma normatização dos textos bíblicos e escolheu os canônicos e a ordem das apresentações.
Enquanto fazia a união dos textos sagrados, para evitar erros e se aproximar cada vez mais a Palavra de Deus, a Igreja pediu que vários tradutores fizessem o trabalho de edição e tradução dos textos escolhidos. Os relatos da época apontam que todos os livros foram traduzidos igualmente.
Como explica o professor da UFPR, para chegar à Bíblia como é vista hoje, aconteceram leituras e traduções diferentes, que incluem o aramaico, o grego e o latim. “Esses textos precisaram ser reunidos, editados e traduzidos para uma nova língua, para um novo texto”, esclarece.
Dessa forma, palavras que parecem diferentes em idiomas específicos também ganham novos significados em idiomas que não conseguem uma tradução equivalente ao idioma original.
“Toda tradução responsável, feita por pessoas sérias e competentes, preza pela manutenção do sentido do texto. Sempre acontecem situações em que os idiomas não dão conta de representar as coisas da mesma maneira”, explica o tradutor e professor.
Leia: Saiba quais são os livros recomendados para começar a ler a Bíblia
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