“Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno” (São João 17,15). Se foi Jesus quem pediu ao Pai para livrar Seu Povo do maligno, por que então ainda há tentações e cada um precisa enfrentá-las e vencê-las? Embora profundamente desafiadoras, as tentações também são transformadoras. Podem ser encaradas como uma chance de resistir ao mal e crescer na virtude.
No caminho rumo à santidade, ao enfrentar e superar as tentações, os fiéis fortalecem a relação com Deus e se tornam mais próximos a Jesus Cristo, que igualmente as enfrentou (São Mateus 4,1-7).
“Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador aproximou-se dele e lhe disse: ‘Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães’. Jesus respondeu: ‘Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’ (Dt 8,3). O demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: ‘Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; eles te protegerão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra’ (Sl 90,11s). Disse-lhe Jesus: ‘Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16)’”.
As tentações continuam e mesmo Jesus Cristo, o Senhor, não negocia com o demônio. Ele manifesta a todo momento as palavras e vontade do Pai (São Mateus 4,8-11).
“O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: ‘Eu te darei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás (Dt 6,13)’. Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se dele para servi-lo”.
Esse exemplo de Jesus deixa claro que a tentação está no mundo e todos podem encontrá-la, dos mais simples e corriqueiros aos mais decisivos momentos.
“A vida cristã é luta constante. Lutamos contra o pecado da ‘carne’, nossa inclinação para o mal e ao egoísmo. Lutamos contra as tentações do mundo e as tentações do Inimigo”, escreveu Padre Reginaldo Manzotti no artigo “Revesti-vos da armadura de Deus”.
Por amor, Deus se fez humano e mostrou, aqui na Terra, o certo e o errado. Persistir no erro é, portanto, decretar a própria condenação. Por isso, quem caminha no mal e quem busca o pecado se afasta da Luz, que é Jesus. Ele quer que todos caminhem rumo ao Reino do Senhor e mostrou como.
Nessa busca, um erro comum é achar que o diabo é uma alegoria, algo abstrato e sem influência real. Em 2024, durante uma homilia, Papa Francisco declarou que “o diabo não é um mito” e a vida cristã é uma “batalha contra o satanás, o mundo e as paixões da carne”. Como apontou o Pontífice, o maligno é uma presença que busca desviar as pessoas do caminho da virtude e da retidão. Ele assedia o Povo de Deus por meio de ideologias, dinheiro, orgulho, e poder.
Para compreender de maneira profunda por que existem as tentações, é importante conhecer a origem do mal. O Catecismo da Igreja Católica (CIC), nos parágrafos 385 e 386, ensina que ele tem sua origem no pecado original: os primeiros pais, Adão e Eva, desobedeceram a Deus e tiveram como consequência uma ruptura na relação entre o Criador e a humanidade. Essa desobediência introduziu o pecado e o mal às existências humanas.
Como resultado, a humanidade herdou uma natureza inclinada para o mal e enfraquecida pela tendência ao pecado, que inclui as tentações enfrentadas na vida (Catecismo, 405-407). Embora próprio de cada um, o pecado original não significa falta de caráter pessoal. O sacramento do Batismo, “ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e reorienta o homem para Deus, mas as consequências para a natureza, enfraquecida e inclinada para o mal, persistem no homem e convidam-no ao combate espiritual”.
Apesar da realidade do pecado e da tentação, o Catecismo enfatiza que, por meio da graça de Deus e da redenção trazida por Jesus Cristo, todos são capacitados a resistir às tentações e a viver uma vida de virtude (Catecismo, 407-409).
Deus dá forças para lutar e para o livramento do mal. Papa Bento XVI, em seu livro “Jesus de Nazaré”, escreveu:
“A este respeito diz São Cipriano: quando dizemos ‘livrai-nos do mal’, então nada mais resta para pedir. Quando nós alcançamos a proteção pedida contra o mal, então estamos seguros e protegidos contra tudo o que o demônio e o mundo possam realizar. Que medo poderia vir do mundo para aqueles cujo protetor no mundo é Deus?”.
Assim como Jesus venceu as tentações no deserto, os cristãos são chamados a seguir Seu exemplo e resistir por meio da fé e da confiança na graça divina. Buscar conhecimento sobre a Palavra, ter disciplina na fé e colocar em prática o que é aprendido são atitudes que irão fortalecer todos os filhos de Deus em todos os momentos.
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